Capítulo 19 - Conectados

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23/12/2019, 15:51

Livraria Real

Rio de Janeiro, RJ



O cheiro de livros novos sempre foi o meu favorito, me lembro de passar horas admirando os livros que não podia comprar na pequena livraria da minha cidade, a maioria deles expressamente proibidos por meus pais que diziam serem obras do satanás. Meu primeiro salário foi gasto quase por completo em livros que até hoje estão na minha estante, como um símbolo da liberdade que conquistei.

E hoje aqui estou eu, lançando meu segundo romance na maior livraria da cidade, com uma longa fila de jovens esperando pelo meu autógrafo. Depois de vários adiamentos, finalmente a continuação do Herdeiro de Sangue finalmente ficou pronta e a aprovação da editora foi quase imediata. Este é o primeiro evento público que eu compareço depois de toda a tragédia, fiz questão de recusar qualquer entrevista nesse período, pois sabia que no final ela seria mais sobre o acidente do que sobre minha obra.

Aqui estou a salva das perguntas que não quero mais ter que responder, protegido pela animação dos fãs que só querem saber o que acontecerá com o protagonista do meu livro. Rosto iluminado se revezam a minha frente, com livro nas mãos e alguns pedidos de fotos. São esses sorrisos sinceros que me lembram do porquê eu amo tanto o que faço.

A tarde caminha depressa e depois de algumas horas atendendo os fãs, fila finalmente parece estar chegando ao fim. Mas quando estou prestes a me levantar do meu assento, um último livro é estendido para mim. Com ele, um olhar enigmático e um sorriso amarelo desconcertado, que já conheço bem.

— Eu não sabia se você viria. — eu disse surpreso.

— Nem eu sabia se viria. — ele respondeu dando de ombros. — Mas se você quiser eu posso ir embora.

— Claro que não, me dê aqui esse livro. — disse quando ele recolheu o objeto que ainda estava estendido. — Eu só fiquei surpreso, já que os últimos dias estávamos... distantes.

— Eu nunca perderia o lançamento, afinal de contas eu sou um fã. — ele respondeu tentando achar graça. — Olha, me desculpa por não conseguir te encarar, mas você também parecia estar fugindo de mim.

— Acho que nós dois nos escondemos, então. — eu disse com sinceridade.

As últimas semanas foram bem estranhas, o clima ficou confuso entre nós dois e a proximidade que tínhamos criado depois do desastre não nos deu espaço para refletir sobre o que significava aquele beijo. Eu não sabia bem o que sentir, foi como se um turbilhão de sentimentos que eu nem imaginava que existiam em mim tomasse conta.

— Vi que você chamou a babá de volta. — eu disse.

— As crianças sentem a sua falta. — falou.

Desastres em ComumWhere stories live. Discover now