Capítulo 14 - Sofrimentos Compartilhados

76 18 8
                                    

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.



04/04/2018, 08:03

Colégio Inácio Hernandez



Foi a primeira vez em um mês que consegui sair do prédio sem ser abordado por algum repórter pedindo entrevistas, finalmente outro desastre tomou conta das manchetes e fez com que atenção da mídia fosse desviada para outro endereço. Os primeiros dias tinha sido um inferno, rapidamente descobriram que um dos pilotos morava nesse prédio e em pouco tempo ficamos cercados pela mídia e por curiosos. Achei que eu poderia passar incógnito, mas não demorou muito para que me ligassem a Helena, então passei a ser tão assediado quanto meu vizinho de porta.

Agora que as coisas pareciam se acalmar, eu preciso dar o primeiro passo para seguir em frente e por tanto voltar a trabalhar é tão importante. Estava afastado das minhas atividades desde o fatídico acidente, não por vontade própria, já que eu tinha tentado voltar na semana seguinte. Mas fui chamado pelo diretor que propôs o afastamento de forma delicada, mas sem nenhuma chance de recusa. Mesmo que meu orgulho não permita que eu diga isso a ele, no fundo, eu sei que ele estava correto na sua decisão, eu não tinha cabeça alguma para ensinar enquanto esse turbilhão passava em vida.

Foram dias longos que passei em casa, as horas pareciam passar mais lentamente do que deveriam, como se quisessem prolongar o sentimento corrosivo dentro de mim. Mas ao menos serviram para deixar esfriar o assunto na mídia e também na curiosidade dos meus alunos e colegas de trabalho.

O que preencheu esses dias trancado no apartamento foram meus filhos. Eu senti que era o momento certo para me dedicar totalmente a eles e de certa forma tentar compensar a ausência da sua mãe, mesmo que isso não seja possível. Venho tentando os preservar de todo esse caos do mundo externo e de toda a atenção que parece ter surgido nas pessoas com essa desgraça.

Nenhum dos dois tem idade para entender o que está acontecendo, mais Diogo sabe que as coisas mudaram. Talvez tenha sentido a minha tristeza, que nem sempre é possível esconder, ou apenas seja saudade da mãe, mas é fato que ele parece ainda mais carinhoso e apegado a mim. Ele chora às vezes chamando pela mãe, mas sempre se acalma quando eu conto que ela foi para uma viagem importante e que agora ficaria ao lado do papai do céu.

Caminho por entre os blocos de prédios acinzentados da escola até a sala dos professores, minhas pernas conhecem o cominho até lá das tantas outras vezes que o fiz nesses anos em que trabalho aqui, mas a sensação é de que estou o percorrendo pela primeira vez na vida. Eu posso notar olhares curiosos em minha direção, mas por sorte ninguém tinha teve a coragem suficiente para me abordar.

Do lado de fora da sala, um par de olhos conhecido acompanha o meu caminhar na sua direção. Pablo está apoiado na porta de madeira, com as mãos atrás da cabeça tão relaxado quanto estaria em uma praia paradisíaca. Essa é a imagem perfeita dele, alguém que vive como se não houvessem preocupações nessa vida, o que não poderia ser mais diferente de mim. Um sorriso de largo surge em sua boca quando me aproxima, o mesmo que ele sempre me oferece quando estou por perto.

Desastres em ComumWhere stories live. Discover now