Capítulo 17 - Visita Indesejada

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28/10/2018, 16:48

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28/10/2018, 16:48

Parque Austero Gomes, Rio de Janeiro – RJ


O monumento de mármore branco em formato retangular erguido no centro do parque reluzia sob o sol do fim de tarde, refletindo sobre as flores do canteiro plantado a sua volta. Placas de metal negro gravadas com letras douradas estão alinhadas ao seu redor, expondo o nome daqueles que morreram no voo da Future Airlines que desapareceu.

Aquela homenagem foi erguida poucas semanas de encontrarem os primeiros destroços do avião. Em poucos dias confirmaram que não teriam como encontrar sobreviventes e por isso cancelaram qualquer busca por restos mortais e todos os 223 passageiros e tripulantes foram declarados mortos. Na ausência de um corpo para enterrar, o governo e a empresa aérea decidiram fazer uma cerimônia para seus entes queridos. Nem todos os parentes das vítimas viram esse gesto com bons olhos, até porque a investigação do que ocorreu com o avião continua em aberto até hoje e quem devia estar preocupado com isso parece não estar tão empenhado assim em desvendar esse mistério.

Eu reconheço que a placa com o nome do Pedro é só uma tentativa dos responsáveis pela investigação de dar um fim nessa história, mas de alguma forma é uma ligação que ainda tenho com ele. Então eu retorno a esse lugar pelo menos uma vez na semana, me sento em frente e divido com ele tudo que estou passando. É como se eu pudesse ter mais momento com ele, mesmo que ele não possa me responder. Sei que parece louco, mas é a única coisa que me resta do Pedro.

Ou quase isso, já que em meus braços há outra coisa que ele me deixou.

Henry não é um fardo em minha vida, pelo menos não da maneira que imaginei que seria quando ele chegou. Dá trabalho pra caramba cuidar de menino tão pequeno, mas com o tempo venho me acostumando com rotina. Ao menos tenho uma companhia nessa nova realidade solitária que estou vivendo. E com ele outra pessoa entrou na minha vida, alguém que eu não esperava ter qualquer proximidade, mas que nos últimos tempo se tornou minha tábua de salvação.

Cadu não só me ensinou, e continua ensinando, tudo que eu precisava saber sobre criar uma criança, como se tornou em pouco tempo meu parceiro de dor. Nós dois dividimos a mesma tragédia e isso nos fez perceber coisas em comum que não tínhamos visto antes. Nós construímos um sistema em que um ampara o outro quando estamos prestes a sucumbir a dor da perda. E a sua amizade veio no momento exato, já que a Mari parece cada vez mais envolta em seu relacionamento e meus outros amigos parecem não entender o que estou vivendo.

— Eu queria tanto que você estivesse aqui. — eu disse tocando a placa de metal, antes de ir embora.

E é tudo que poderia desejar.

O carro prateado estava estacionado do outro lado da rua do parque onde fica o monumento. Não consegui conter um sorriso quando percebi que o motorista daquele veículo estava me aguardando. De longe eu podia ver o Cadu sentado em frente ao volante, com seu óculos escuros de sempre, distraído com algo no painel do carro.

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