Vinte e sete

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Larissa
Domingo - dia dos pais (14/08)

— Filha, você vai entrar no estádio com o tio João e com a Lunna. Você tem que se comportar, beleza? — estendo a mão e ela bate fazendo um hi-five — Vai lá com a vovó, que eu vou terminar de me arrumar.

A pequena sai correndo. Hoje é dia dos pais, nada mais justo do que levá-lo em um jogo no Maracanã, né? Além dele, minha mãe também vai.

Termino de pentear o cabelo e coloco uma presilha, deixando a parte da frente presa. Como de costume, está calor, coloquei o manto, um short jeans e um tênis.

Chego na garagem vendo o meu pai colocando a neta na cadeirinha do carro. Entro no banco de trás entregando a película de urubu para ela.

— Uma vez Flamengo — cantarolo na estrada.

— Sempre Famengo — a Céu completa.

— Céu, fala Flamengo — meu pai pede.

— Flamengo — eu e ele soltamos uma risada.

A minha mãe permanece calada. Tem dias e dias. Ela nunca foi a pessoa mais carinhosa comigo, esse posto sempre foi do meu pai. Porém, depois da Céu, as coisas entre nós se complicaram.

— Mãe, você e o pai vão pro camarote. Vou levar a Céu no túnel e depois sigo para lá — falo assim que entramos no Maracanã. Tentar afastar esse clima.

— Ok — responde e sai andando. O meu pai vai atrás.

Vejo os dois subindo e sigo para o túnel. Está cheio de crianças. A torcida do Flamengo chegará nos 50 milhões, fácil se continuarem reproduzindo assim.

Os jogadores que tem filhos, entrarão com eles. Vejo o João vindo com a Lunna. Só consigo pensar no paizão que ele é.

— Feliz dia dos pais, vida — dou um selinho nele — Oi, princesa — a Lunna abraça as minhas pernas. A Céu se esconde atrás de mim.

— Oi, titia Lari. Vou entrar no gramado.

— É — me abaixo — e a Céu vai entrar também — puxo ela para o meu lado — Não é Céu? — acena com a cabeça.

— Lembra que eu disse, que a Larissa tinha uma filha também? — o João pergunta — É a Céu.

— Oi, Céu.

— Ela tá com vergonha — solto uma risada — dá a mão pro titio João — nega com a cabeça. Pego ela e levo para o canto — você não quer ficar com o titio? Por quê?

— Roubar você — faz cara de triste. Ela nunca pensaria isso sozinha — ficar sem a vovó e o vovô.

— O titio não vai me tirar de você. Quem te falou isso? — ela nega com a cabeça. Mas eu já sei quem foi — a mamãe sempre vai tá com você! E você vai continuar vendo o vovô e a vovó. Agora você vai lá? — ela concorda — a mamãe te ama.

— Te amo — me abraça e nós duas voltamos para lá — oi, Lunna.

— O que foi? — o João indaga. Dá pra ver no meu semblante que estou com raiva.

— Depois eu te falo, pode ficar tranquilo. Bom jogo! — dou mais um selinho.

O time entra em campo e eu fico ali esperando as meninas voltarem. Deve ser surreal pisar nesse gramado com esse tanto de gente olhando. Espero que eu sinta essa emoção depois de um título.

Subo para o camarote. Cumprimento minha sogra e me sento ao lado do meu pai. A Céu fica ao meu lado e a Lunna do lado dela.

Depois de alguns minutos de jogo a minha mãe se levanta e eu vou atrás. O camarote não está cheio, o que é um milagre.

Destino - João GomesOnde histórias criam vida. Descubra agora