Dezenove

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⚠️: o capítulo contém mais de uma narração

João Gomes
(12/06)

Tiro as compras do carro e entro em casa. Tudo em silêncio. Porém, o tênis no canto da sala entrega que a Larissa já está aqui.

Hoje foi a estreia do podcast e ela disse que viria para cá assim que terminasse, pois o estúdio fica mais próximo daqui do que da casa dela.

Entro sem fazer barulho e guardo as compras.

Caminho devagar até a porta do quarto. A porta está semiaberta. Ela está conversando com alguém na videochamada, provavelmente com a Juliana.

Beijo filha, mamãe te ama — escuto enquanto abro a porta.

Filha?! Mãe?!

— Há quanto tempo você estava aí? — engole seco. Visivelmente assustada. Atônito, eu não consigo responder — você escutou, né? — desvia o olhar — é... eu...

— Como assim você tem uma f-filha e não me c-contou? — a interrompo — Uma filha! Larissa, uma criança! — passo a mão no rosto.

— João, me escuta, por favor — a voz embarga.

— Eu não sei se eu quero. Você ia me contar quando? D-daqui a 5 meses? 1 ano? Qquando ca-casássemos? — bato os braços na lateral do corpo.

— Casássemos? — sussurra. Não sei se por usar o verbo no passado, ou por ouvir falar de casamento.

— É. U-uma criança, cara! Deveríamos incluir ela na nossa vida! Imagina do nada che-chegar um estranho na vida dela?

— Se acalma, vamos conversar — implora.

— Como cê escondeu isso? A Juliana ajudou a esconder, né? Óbvio. E com quem ela fica quando você tá aqui? — falo calmamente.

— A Juliana não sabe — as lágrimas começam a descer pelo seu rosto.

Não a quero ver chorar. É como se algo ferisse o meu peito, mas não posso simplesmente ignorar o que ela escondeu.

— Tá — respiro fundo e me sento na cama — quero te ouvir. Me explica — tento ser flexível. Preciso a ouvir.

— Calma — leva alguns segundos para conseguir falar — é, eu tenho uma filha. Lembra quando você me viu falando "céu" enquanto eu dormia? — aceno com a cabeça — esse é o nome dela. Céu. O meu pedacinho de lá — sorri triste.

Agora faz muito sentido. Ela estava sonhando com a filha.

— Eu sei que estou errada. Meio egoísta, sabe? — aperta os lábios tentando não chorar — que eu não deveria te esconder. Eu estava pra te contar, juro.

— V-você ainda não respondeu a outra pergunta.

— Na época eu não tinha, e até hoje não tenho condições para suprir as necessidades todas da Céu — funga — então ela mora com os meus pais. Eu nem tinha trabalho quando engravidei. Eles proporcionam o que eu não posso.

— Quantos anos ela tem? — pergunto um pouco mais calmo.

— 4 anos. Engravidei com 18, tive ela com 19 anos. Não posso dizer que me arrependo porque ela é o meu presente, mas foi muito cedo. Tava iludida, e fui imprudente.

— Po-por que você escondeu? Pelo visto, nem a sua melhor amiga sa-sabe — falo incrédulo.

— Eu tô errada, eu sei — lágrimas voltam a escorrer. Eu nunca a vi tão vulnerável assim — durante a minha gravidez vivi um pesadelo. Não namorava, ficava com um moleque de 19 anos. Só que eu era apaixonada, achava que ia dar certo, ele me fazia acreditar nisso. Descobri a gravidez logo, estava com 2 semanas. Nessas duas semanas não nos encontramos porque ele viajou. Então quando ele voltou, fui até a casa dele e contei.

— E? — me aproximo.

— Ele me disse que não iria assumir, que não me amava e que essa criança iria atrapalhar a vida dele. — respira fundo — Tive que contar para os meus pais sem o pai, ou melhor, sem o genitor dela está ao meu lado. O meu pai me abraçou, mas minha mãe... minha mãe passou meses sem falar comigo, mesmo comigo morando na mesma casa.

— Ainda não consigo entender o porquê esconder a sua f-filha do resto do m-mundo.

— Comecei a ser julgada por engravidar cedo. Me isolei. Só minha família permaneceu ao meu lado. Ainda tentei fazer o genitor dela mudar de ideia, participar da vida da Céu, mas ele realmente não quis. Quando algumas pessoas descobriram que ela mora com os avós, começaram a falar que eu era uma péssima mãe — desvia o olhar — Na minha mente todos iriam pensar assim e criei um bloqueio pra contar. Mesmo sabendo que isso só piora a situação.

— Eu preciso pensar — digo depois de algum tempo — Não sei se dá pra conti...

— Tá terminando? Cê tá terminando comigo? Eu, eu, eu sei, eu sei que tô... — fala acelerada.

— Não — a interrompo — falei que preciso de um t-tempo pra pensar — abaixo a cabeça — só assim pra decidir — rodo a aliança no meu dedo — confiança é a base disso aqui — aponto para o anel.

— Eu sei — seca as lágrimas.

Me levanto e saio do quarto. Definitivamente não sei o que fazer. Tem como confiar depois disso?

Larissa

Não tenho mais forças. Me sinto completamente destruída. Eu criei essa situação. Culpa. Esse é o sentimento que me invade.

Preciso sair daqui. Pego o meu celular e peço um carro por aplicativo. Fecho os olhos. Me vem as memórias com ela, e me vem as memórias com ele.

Abro os olhos. Me levanto rápido da cama e isso faz com que a minha pressão caia. Por sorte me apoio na cômoda. Se não fosse isso, provavelmente estaria no chão agora.

Pego cada coisinha minha que está no quarto e no banheiro. Não quero deixar nada aqui. Coloco tudo na mochila com o meu notebook.

O Uber está esperando. Saio do quarto. O barulho da porta chama a atenção do jogador. Ele se aproxima.

— O Uber tá me... — estendo a mão fechada e a abro mostrando as duas cópias das chaves das portas da casa dele — isso não pode ficar comigo. São suas.

— Não. Fica.

— Eu não posso. Não faz isso ser mais doloroso — o carro buzina — você ainda tem que pensar. Espero que me perdoe — coloco as chaves na mão dele.

Nós dois tínhamos coisas mais coisas para falar. O olhar que ele me lança segundos antes de me virar e sair pela porta, me fez sentir ainda mais culpada. Achei que nem era possível.

Entro no carro e durante todo o percurso só consigo olhar para a aliança e suplicar para Deus que o João Victor me desculpe. Uma súplica que vem da minha alma.

Não vejo luz. A minha positividade nesse momento não existe.

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Oi gente, não vou nem perguntar se tá tudo bem.

O capítulo mais sofrido até agora. Até a autora ficou triste, tá?💔

O lado do João é compreensível, mas e o da Larissa? O que vocês acham?

Por hoje é isso, até o próximo capítulo. Beijos! 💋

Destino - João GomesWhere stories live. Discover now