Ele
Odiava aqueles ciúmes desde que dei por mim a senti-los, odiava a inveja que tinha de alguém tão triste, porque era o que ele era, senão antes, neste momento via-se nos seus olhos vazios, mas era incontrolável! Ryan Diaz fora um filho da puta para mim e segundo as histórias, para tantos outros! Aliás, fora-o para Marcus, para o próprio Eliot então não me entrava na cabeça como é que ele, tão doce, atento, justo, podia continuar tão loucamente apaixonado por um ser humano assim! Como é que ele podia acreditar de olhos fechados no arrependimento, numa pessoa além do que transparece?!
O ódio é daquelas coisas que nos consomem e precisava de todas as minhas forças para ver além do meu, dos ciúmes horríveis que me queimavam por dentro só de recordar o olhar do Eliot ontem, que tinha algo de tão semelhante aos seus olhos nos tempos felizes dos dois, que não era igual à nossa suposta felicidade... Precisava de conseguir focar-me para reparar, para perceber que não havia nada a fazer e que sentimentos não se explicam.
Quando não ia a tempo de ser racional, odiava-o e muito.
Só que no fundo, a pessoa que mais me enfurecia era eu próprio, que me deixara enredar nesta merda! Eu escolhi... mesmo que ele me tenha avisado, que a Diana, a Eve me tenham advertido tantas vezes. Sabia que isto podia acontecer, porra eu sabia que isto ia, acontecer!
Mesmo assim, não odiava o Eliot, não conseguia odiá-lo, não queria! Afinal, antes de tudo isto, salvou-me daquela gente e de mim próprio, das minhas próprias inseguranças.
Neste instante, apesar de ser tudo horrível, uma merda, voltou a abrir-me os olhos, a mostrar-me algo. Valho muito mais que isto, que ser um mero método para apagar outro alguém, que ser uma mera ajuda.
Mesmo assim não odiava Eliot, não havia raiva alguma que conseguisse sobrepôr-se ao que sentia por ele e uma vozinha minúscula, algures, continuava a dizer-me que podia continuar a tentar, que...
Como tantas vezes fez, o meu telemóvel tocou cortando-me a linha de raciocínio. Era a Valerie.
Tinha dezenas de mensagens e chamadas perdidas, do Eliot, da Diana, algumas mensagens não respondidas da Eve a quem ainda nem contei nada. Não quis falar com ninguém, mas talvez não fosse mal pensado começar a fazê-lo, antes que a minha mente volte a tentar autodestruir-se.
Respirei fundo e atendi. Para ser sincero nem fazia bem ideia porque escolhi falar logo com ela, em vez de procurar a minha melhor amiga, ou a Diana que conhecia a situação pelo meu lado muito mais de perto.
Se calhar, inconscientemente, quis ouvir alguém que estivesse do lado de lá. Se calhar queria ouvir o Eli sem ter que enfrentar o peso de falar com ele.
- Hey...
- Oh Tristan finalmente! Estávamos todos a morrer de preocupação, como é que estás??
- Bem... - mentira - Estou vivo, Val... Não fui à escola porque não dormi nada.
- E?
Suspirei.
- E porque precisava de meter as ideias no sítio.
- Já conseguiste?
- Nem por isso... E acho que, que preciso de uma opinião tua.
- Podes pedir, sem problema, já sabes! Só que não te esqueças, não posso tomar uma decisão por ti.
Claro que eu sabia... claro! Como é claro que, na verdade, não precisava que ela me dissesse nada, na teoria, porque sabia bem o que fazer, o que tinha que fazer.
- Sim, eu só preciso que alguém o diga em voz alta... - para que não tenha que ser eu o primeiro a dizê-lo - Sê direta comigo, Val.
Pude ouvi-la respirar fundo e os passos que dava, para um lugar mais privado, provavelmente, antes que voltasse a falar.
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Not Only Memories
Romance"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
~~Capítulo 6~~
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