É claro que sei que Valerie Grazer nada tinha desse tipo de pessoa, claro que tinha a certeza que me sorria sempre que cruzávamos olhares e que me deu a chance que não se deveria dar a alguém que contribui para um inferno de pessoas que lhe são queridas, além de que, afinal, nunca sequer contou o meu segredo.

Mas de repente enquanto caminho com toda a calma do mundo, o meu estômago dá uma volta e começo a supor se não olharão para mim como uma esquisita, se ela não achará estranho que apareça assim.

Junto à porta da sala de estudos respirei fundo, deixei-me de merdas, nunca tive medo de nada nem ninguém, não queria começar agora.

Abri a porta com delicadeza e avistei o grupo quase completo sem problemas, todos concentrados, Val estava debruçada sobre as costas de Dave, explicando-lhe qualquer coisa, com uma voz baixa, séria, enquanto a maioria dos restantes tinham os seus portáteis e respectivos apontamentos à frente e os fones enfiados nos ouvidos.

Dei dois toques com os nós dos dedos na porta. Devido ao silêncio geral, apesar de ter tido cuidado, foram suficientes para que os dois levantassem a cabeça. Focada na Valerie, resolvi esboçar um sorriso mínimo, curtinho mesmo! Retribuiu-o, um sorriso meigo, um bocado confuso não vou mentir, mas ao menos as sobrancelhas franzidas da expressão preocupada, suavizaram-se na sua grande maioria.

- Diana! - exclamou. Podia dizer que por momentos me falharam os batimentos cardíacos de a ouvir dizer o meu nome, se isso não fosse dramático demais, definitivamente.

- Sim, ahm, podes chegar aqui?

- Claro! - virou-se para apanhar o telemóvel e a carteira e os colocar nos bolsos de trás das calças de ganga clarinhas, antes de vir ao meu encontro e sairmos juntas com a porta que fechava sozinha mal a larguei, a bater com força atrás de nós.

Demos uns passos para longe da sala e suspirei, farta de dar voltas à cabeça em relação a como começar a merda da conversa.

- Está tudo bem? - perguntou - Chegaste a conseguir encontrar o Tristan?

- Sim, ele mandou-me à merda, mas acho que, só precisava de tempo sozinho...

- É capaz de lhe fazer falta, sim...

Vá lá, Diana!

- Olha, não era dele que precisava de falar contigo.

- Então?

- Queria pedir-te desculpas - perante as minhas palavras, parou confusa no meio do corredor, especada a fitar-me - Há bocado falhei àquilo que te tinha prometido... - murmurei coçando a nuca ao sentir o calor percorrer-me as faces - Fui um bocado "Diana de antigamente" com o Eliot... Só que, meu não é que eu o odeie ou não pense no que ele está a passar também, só que vejo-os a eles aos dois! Até podes odiar o Ryan pelo que ele fez, mas neste momento ele está a sofrer tanto ou mais que o Tristan e este a ser usado como "tapa buracos"! O Eliot parece a merda de um peão que não sabe para que lado se virar!

De repente as palavras saíram-me umas atrás das outras, como se tivesse acabado de remover o meu filtro manualmente, ao acabar de falar estava ofegante.

- Desculpa... - murmurei envergonhada, não das coisas que disse, pois mantenho as minhas convicções, mas pela forma como falei, tão descontrolada.

Valerie suspirou exasperada e sorriu antes de pousar a mão no meu ombro, o que me fez mergulhar nos seus olhos de imediato, coisa que estava a evitar até ali.

- Não te preocupes com isso, estavas só a olhar pelos teus amigos. - voltou a suspirar antes de me fazer sinal com a cabeça e nos sentarmos mesmo ali, encostadas à parede em pleno corredor - Para ser sincera, é provável que fizesse o mesmo, o que não me tem faltado é vontade de o fazer!

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