Capítulo 8

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Draco White

Fiquei completamente encantado por esta caloura, e não posso negar isso. Ela é absolutamente maravilhosa, essa é a única palavra que consigo encontrar para descrever essa mulher de pele negra como ébano. Ela apareceu na minha frente como um encanto e me hipnotizou, agora sou incapaz de parar de admirá-la. O suor escorrendo pela testa, alguns fios do seu cabelo cacheado ligeiramente desalinhados, seu corpo se movendo ao ritmo da música. Realmente, ela é incrivelmente bela.

Naquele momento, dediquei toda a minha atenção a ela, enquanto a observava graciosamente dançar, sem se preocupar com nada mais, como se fosse a única coisa que ela quisesse fazer. Mesmo quando me distanciei da outra jovem, continuei observando-a, aguardando pacientemente por uma oportunidade de conversar com ela, e esta oportunidade finalmente surgiu.

Quando ela se dirigiu ao segundo andar do bangalô Hola, um local mais reservado e tranquilo, percebi que a oportunidade que tanto esperava tinha chegado.

E estamos agora nesta situação, sentados, com ela olhando-me curiosamente, à espera que eu comece a contar a origem da rivalidade com Charlotte. Sei que assim que ela souber, provavelmente irá afastar-se de mim imediatamente e, embora isso me cause dor, não posso culpá-la. Se estivesse no lugar dela, faria o mesmo.

Dizer que a situação é complexa seria um eufemismo. A história que envolve o Tiger's Blue e as Scorpions surgiu quando retornei da conquista do sub 19.

Nessa altura, a minha rivalidade com Tayler estava aceso e no vestiário, os outros jogadores tinham que intervir para evitar que chegássemos às vias de facto.

- Bem, por onde começar? - Digo, com um toque de humor.

A mulher ao meu lado encara-me com expectativa. Aproveito o momento para observar melhor o seu rosto. Os lábios carnudos que estavam colados aos meus há pouco tempo chamam-me para serem provados novamente. É justo dizer que esses lábios são macios e apetitosos.

Quando voltei da competição, meu ego estava muito inflado em comparação ao que é hoje. Eu era um jovem inconsequente que não se importava com as consequências dos meus atos. Por causa disso, decidi cometer um grande erro.

— Acabara de sair de uma festa, meu corpo estava intoxicado com bebidas alcoólicas, vodka, tequila, algumas das bebidas que consumi. Na hora de ir embora, estava acompanhado de outros rapazes e achamos que seria interessante assustar as meninas da fraternidade.

Este foi o meu pior equívoco, que jamais esquecerei. A imagem daquela jovem caída no chão perto da escada me assombra até hoje. O líquido vermelho escorrendo pelo chão me arrepia e perseguem-me nos meus pensamentos.

— Como estava ficando com uma das garotas, ela me deu uma cópia da chave para eu entrar a qualquer momento de forma discreta. Foi exatamente isso que fiz naquela fatídica noite. — Suspiro enquanto me deixo levar pelas lembranças do que aconteceu.

- Guardávamos algumas máscaras no porta-malas do carro, prontas para ocasiões como essa.

- O que vocês fizeram? – perguntou curiosa. Sabia que assim que eu contasse, minhas chances com ela iriam por água abaixo. No entanto, se quisesse ter qualquer coisa com ela, precisava ser honesto sobre tudo.

Sentindo vergonha, desviei o olhar para o horizonte, evitando ver a expressão de desapontamento que logo surgiria.

- Entramos na casa, mas não sabíamos que todas também tinham bebido álcool. Elas estavam todas bêbadas e com coordenação motora péssima.

Apesar disso, isso não nos impediu de ir para o quarto onde elas estavam dormindo tranquilamente. O que era para ser apenas uma brincadeira acabou se tornando uma tragédia quando uma das meninas caiu da escada por minha culpa.

- Lia McCartney, caloura de Letras, tinha um futuro promissor pela frente. Acabara de se tornar líder de torcida. Era uma jovem tímida, mas todas as garotas a admiravam. Porém, por minha culpa, ela agora precisa usar cadeira de rodas. – Retiro a foto que sempre carrego na carteira. — Ela foi a única que não consumiu bebidas alcoólicas naquela noite. Com cabelos loiros e pele clara, Lia McCartney era uma garota exemplar, de estatura média, parecia uma boneca e uma atleta talentosa.

Lia estava saindo do quarto para beber água quando cruzou com um dos rapazes. Nesse momento, os gritos das colegas da fraternidade ecoavam pela casa inteira. No entanto, não poderíamos imaginar o que estava por vir.

— Assustada, ela correu pelo corredor, tropeçando nos móveis que encontrou pelo caminho. Enquanto isso, eu estava escondido, esperando o momento perfeito para o grande desfecho. – Sorriu sem nenhum humor. Acredito que nunca irei esquecer a expressão de medo estampada em seu rosto. — Vi que ela se aproximava, apavorada, seu corpo magro tremendo da cabeça aos pés. Esperei o momento certo. Foi nesse instante que surgir das sombras. Foi a pior decisão que tomei na vida.

Próximo à escada havia uma estante gigantesca de livros. Devido ao seu tamanho, eu conseguia me esconder perfeitamente ali e Lia jamais imaginaria que alguém pudesse estar lá. E foi de lá que surgi.

— Em frente à estante, havia uma pequena mesa com um vaso de flores e várias outras coisas. O susto foi tamanho que ela acabou caindo para trás, derrubando a mesa e tudo o que estava em cima dela. Na tentativa de fugir de mim, que ainda estava lá, ela pisou em falso e caiu da escada.

Por causa de uma brincadeira boba, eu deixei uma garota com uma vida inteira pela frente sentada em uma cadeira, com os movimentos das pernas paralisados, e eu nunca vou me perdoar por isso.

— Tudo ao meu redor parecia acontecer em câmera lenta, observava ela rolando degrau por degrau pela escada, enquanto o álcool se dissipava do meu corpo. Ainda estou perplexo com os eventos daquela noite. Era como se eu assistisse tudo acontecendo, mas com a alma fora do corpo.

— O que aconteceu depois? – perguntou de forma apática. Nossos olhares se encontraram e uma sensação de familiaridade surgiu, junto com um rastro de decepção. Foi como levar um soco no estômago. Como é possível que alguém que acabei de conhecer possa me despertar tal sentimento?

— Fiquei lá até a chegada da polícia, juntamente com meus colegas. Prestamos depoimentos, acompanhamos Lia até o hospital. Ficamos aguardando qualquer notícia sobre sua recuperação. Quando o restante do corpo docente ficou sabendo da situação, eles abafaram tudo para que ninguém soubesse quem eram os verdadeiros culpados. Imagine só as manchetes: estrelas do esporte universitário causam acidente enquanto ficam completamente embriagadas, resultando em uma vítima paraplégica.

Eu sabia que se isso vazasse, minha carreira, que mal tinha começado, seria destruída instantaneamente. Por isso, a equipe técnica e a diretoria da faculdade contrataram os melhores advogados e fecharam um acordo com a família, pagando

As despesas médicas dela, em suma, corromperam todos, colocando uma imensa pressão em Charlotte para que ela permanecesse em silêncio.

- É por isso que ela me odeia, e odeia o time. Não posso culpá-la. Nós saímos dessa história sem nenhum dano, enquanto a vítima foi silenciada.

Desde aquele dia, Charlotte declarou guerra contra nós. Ela nos ataca sempre que nos encontramos, e o fogo que sai de seus olhos poderia nos queimar vivos. Como capitão e líder do grupo, eu intervenho quando eles querem retaliar, mas a única coisa que posso fazer é permitir que ela nos use como saco de pancadas.

- Pelo menos você pediu desculpas a Lia? - Sua pergunta não me surpreende, eu já imaginava que ela me questionaria.

- A resposta é não. - Olho para a foto novamente, um ritual que repito todos os dias desde aquele dia. - Eu tentei duas vezes. Na primeira vez, descobri que ela tinha ficado paraplégica e fiquei parado na porta do quarto dela como um idiota por duas horas.

Tentando reunir coragem para adentrar no local. Na segunda ocasião, ocorreu no dia em que ela partiu. – Permiti que as memórias daquele dia me conduzissem. — Recordo-me daquela tarde em particular, quando o vento soprava vigorosamente e o sol abrasava intensamente, mais fervoroso do que em qualquer outro dia, a ponto de queimar minha pele. Do lado oposto da rua, eu contemplava sua despedida da casa de sua fraternidade, enquanto era conduzida por suas colegas em uma cadeira de corda; seus rostos estavam emoldurados por lágrimas que deslizavam.

Naquele dia, após testemunhar tal cena, desloquei-me até a praia Hermosa, onde encontra-se um balanço oculto. Fiquei sentado por horas a fio, entregando-me ao pranto até a total exaustão.

Quando Você ChegouNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ