Capítulo 5

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Maite Brown

6 anos antes

- Draco? - gritou furiosamente caminhando em direção à residência de seus pais. - Eu vou te socar se você não aparecer agora. - Como as casas eram lado a lado, a caminhada até lá foi rápida.

- Tia Julie, onde está aquele imbecil? - questionei a mulher de cabelos castanhos escuros assim que a avistei.

- Ele está no quarto, querida. - Ela me abraça com carinho, enquanto as primeiras lágrimas caem dos meus olhos. - Anjo, sinto muito, ele está tão arrasado quanto você.

De jeito nenhum. As pessoas não entendem que não é certo fazer isso, preferem esconder as coisas em vez de contar a verdade. É por isso que eu prefiro uma verdade que machuque, que me deixe destroçada, do que uma mentira que traga conforto, pois, afinal de contas, adiar o sofrimento de alguém é a pior coisa que se pode fazer.

Subo os degraus com a cabeça abaixada, ainda tentando processar a notícia de que meu melhor amigo, o cara que me fazia sentir as famosas borboletas no estômago, estava partindo.

Paro em frente à porta do quarto, respiro fundo, bato na porta e, em seguida, entro.

Desde que me lembro, sempre fui uma menina arteira. Com seis anos, eu já frequentei a sala da diretora mais vezes do que a de um médico. No dia em que o conheci, não foi diferente. Tinha acabado de completar dez anos e, naquele dia, mal coloquei os pés no portão quando percebi que havia um pequeno tumulto se formando. Sendo uma pessoa curiosa, movi minhas pernas em direção àquele lugar.

Apesar de ter doze anos naquela época, Draco ainda não tinha se desenvolvido muito. Seu corpo continuava esguio, porém, ele era mais baixo do que a maioria dos rapazes daquele lugar.

Era o Mike e sua turma de valentões, rodeando um rapaz franzino com óculos, dando empurrões e tapas em seu pescoço. Além disso, a forma como eles atormentavam o pobre garoto era angustiante para mim.

- Ei. - exclamei, aproximando-me dos imbecis. - Podem parar com essa palhaçada e deixar ele em paz.

Concluí minha fala posicionando-me à frente do rapaz caído no chão. Encarei fixamente aquele imbecil que sorria sarcasticamente.

- Olha só se não é a pequena e estúpida Mai, novamente se fazendo de heroína.

- Primeiro, meu nome é Maite, não Mai. Segundo, qual é o problema seu e do bando atrás de você? Vocês se sentem tão ameaçados por pessoas inteligentes que agem como animais? Não consigo entender que fazem isso por diversão, porque se for esse o caso, vocês são extremamente repugnantes.

Sim, eu conhecia Mike Turner, o idiota que morava na mesma rua que eu, portanto, nos encontrávamos praticamente todos os dias. É claro que ele não gostou de ser chamado de animal, muito menos de burro. No entanto, à medida que a conversa se transformava em discussão, a situação entre nós começava a ficar feia, até que, em determinado momento, ele veio em minha direção quando eu sugeri que ele usava sua força para compensar seu órgão genital pequeno.

Em minha resposta, de maneira ágil e precisa, cerrei minha mão direita e dei-lhe um soco, nunca esqueci o som dos ossos se quebrando, e aproveitando o estrago mínimo que causei, dei-lhe um belo golpe com o joelho em suas partes baixas. Todos os colegas ficam incrédulos com minha atitude, ninguém imaginava que uma garota frágil como eu agrediria alguém mais velho. Por esse motivo, decidi parar de atacar um garoto que intimidou e bateu em Draco.

É claro que esse pequeno contratempo me rendeu uma ida para a direção, outra vez.

- O que foi? - perguntei rispidamente, para o rapaz parada à minha frente. - Veio me dizer que é errado uma menina brigar com um garoto, ou que uma garota da minha idade não deve se comportar como um menino?

- Não. - sua voz saiu como um sussurro. - Na verdade, vim te agradecer por seu ato corajoso, nenhuma pessoa fez isso por mim antes. Independentemente de qualquer coisa, você me ajudou.

Ele se aproxima vagarosamente na minha direção, com um leve hematoma roxo em seu olho esquerdo, resultado do soco que levou. No entanto, isso não diminui a sua beleza, muito menos apaga o brilho de seu olhar gentil. Ele se agacha em minha frente, sua mão direita se junta à minha, e ele suavemente movimenta o polegar para cima e para baixo enquanto me encara nos olhos. Foi a primeira vez que alguém conseguiu me intimidar e ao mesmo tempo me deixar nervosa.

- Para a maioria das pessoas aqui, elas apenas assistem esses garotos fazendo bullying, mas não movem um dedo para ajudar as vítimas. - ele suspira indignado, e tudo o que ele disse era verdade.

Naquela época, havia muitos brigões, garotos mais desenvolvidos que os outros. Os idiotas se divertiam intimidando outros alunos, batendo, humilhando e ameaçando; eles se achavam os reis do colégio. E a falta de apoio da direção, pelo fato de esses ignorantes serem os astros do time da escola, só piorava tudo, assim como a popularidade deles.

- Apesar de ter apenas dez anos, você tem um discernimento de que aquilo era errado. Ninguém deveria cometer um ato de violência contra qualquer pessoa, independentemente da idade, gênero, cor ou orientação sexual. No entanto, da próxima vez que alguém precisasse de defesa, seria eu. Isso é uma promessa, querida princesa.

Durante o tempo em que esperei meus pais, surgia e intensificava-se a amizade com Draco ao longo dos anos. Infelizmente, essa promessa que ele fez nunca se concretizou. Mas, para alegria dos meus pais, minhas visitas ao diretor da escola diminuíram drasticamente.

- Oi, borboleta. - Disse Draco. Nessa fase da puberdade, ele já tinha espinhas no rosto e era mais alto do que a maioria dos garotos da sua idade. - Deita aqui comigo. - ele pediu. Assim, subo na cama e me aconchego em seus braços. Qualquer raiva que eu sentia por ele desapareceu, dando lugar à tristeza.

- Por que você não me contou? - perguntei, choramingando em seu peito.

- Porque eu tinha esperança de que meu pai mudasse de ideia, mas isso não aconteceu. Agora vou embora com minha família.

A sua resposta dilacerou meu coração. Não consigo acreditar que isso realmente está prestes a acontecer.

- Quando vocês vão partir?

- Menos de uma semana. - a sua resposta tornou tudo ainda mais real.

Assim aconteceu, naquela semana só fizemos o que queríamos, apenas nós dois unidos contra o mundo, e posso dizer que foi a melhor semana da minha vida.

No entanto, o dia temido finalmente chegou, trazendo consigo uma tempestade de sentimentos que afloraram em mim.

- Eu prometo que sempre serei seu melhor amigo. Sempre que precisar de mim, me ligue, voltarei correndo para você. Esta é a minha promessa. - ele sussurrou ao meu ouvido. E foi assim que descobri que estava apaixonada por Draco, com ele partindo de vez da minha vida, me deixando sozinha.

Apesar de estarmos distantes um do outro, fizemos todo o possível para manter contato. Contudo, assim que entramos no ensino médio, ele passou por uma mudança. Sua mente estava voltada para outras coisas, pois as mensagens que antes eram respondidas em um piscar de olhos agora não eram sequer visualizadas.

Foi nessa época que aprendi o verdadeiro significado da reciprocidade, a qual é descrita no dicionário como mutualidade, ou seja, representa a característica do que é recíproco. A falta dessa reciprocidade da parte dele me fez desistir de cultivar essa amizade, pois sua falta de interesse em participar dessa simples troca de dar e receber me fez perceber que ele não se importava mais comigo.

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