Capítulo 3 - PARTE II

9 3 0
                                    


MARCO MONTELEONE


O uísque formigou em minha língua antes de rolar pela garganta e atear fogo por todo o caminho até o estômago.

E a droga da sensação insuportável não foi suficiente.

A imagem de Virgínia naquela porra de cela permaneceu nítida na minha mente. As feridas em sua pele, sua nudez, a fragilidade atípica de seu corpo. Toda aquela merda parecia tão errada que ofuscava o motivo de eu tê-la caçado por todos os últimos dias.

Uma parte de mim queria ter a oportunidade de voltar no tempo e matar lentamente cada um dos filhos da puta que a mantinha naquela cela imunda no meio do nada. E outra, que queria odiá-la e julgava que seria mais fácil se ela realmente tivesse traído a Outfit, ainda ponderava as últimas palavras de papai e a conclusão a que eu havia chegado, sobre aquela possível traição não fazer o menor sentido.

Segundo minhas fontes, diferente do que fora disseminado pela mídia sobre a fuga de Virgínia, o FBI cogitava a possibilidade de ela ter sido capturada por integrantes do Sons of Ares. Apenas o maior grupo de milícia extremista dos Estados Unidos. E foi com eles que a encontrei.

O que queriam com ela? Virgínia estava realmente envolvida com a Bratva? Até que ponto? E por quê?

Eu ainda não sabia o que faria com ela, segundo o médico associado ela não acordaria naquela noite. Talvez nem mesmo no dia seguinte. Estava ferida, desidratada e à base de drogas há pelo menos quatro dias. Demoraria algum tempo até recobrar a consciência.

Mas eu a conhecia. Sabia que ela era forte e orgulhosa demais para ser quebrada em um interrogatório, e que era apenas esse o motivo de ainda estar viva. Sabia também que não aceitaria acordos que não fossem benéficos para ela e seus negócios e um acordo com a Bratva não parecia ser nem um nem outro. Além disso, algo tinha dado muito errado para ela ter sido presa.

Em quinze anos, Virgínia conseguira derrubar a facção criminosa que destruíra sua família, conseguira se erguer mais forte e letal que o filho da puta do pai dela, além de expandir seus negócios para além do Michigan. Ela se transformou em uma potência no centro-oeste do país. Não chegou a essa posição à toa. Nem a perderia para qualquer um.

Então, de novo, algo estava errado.

Ela definitivamente não estaria disposta a ceder as informações que eu precisava e ainda era uma ameaça para a Outfit, independentemente de ter ou não traído papai, mas eu a queria ali, onde pudesse medi-la e matá-la com a mesma facilidade.

Se necessário.

Uma risada masculina sarcástica inundou a biblioteca. Eu reconhecia o dono dela, era o único com a capacidade de invadir o meu escritório sem ser notado, mas eu não estava com paciência para lidar com os comentários sardônicos dele.

A questão é que Romeo não se importava com isso.

— Ah, vamos lá, Marco. Não me ignore — iniciou e mesmo que ainda estivesse de costas para ele, notei seus movimentos pelo escritório. Estava sempre irrequieto, à procura de ação, de sangue. E a morte de papai só piorara isso. — Há muito tempo eu não via você decepar membros daquele jeito. Há muito tempo eu não cortava tantas gargantas de uma só vez. Tivemos um dia memorável. Não seja um estraga-prazeres.

— Romeo, vá se foder — mandei. Peguei a garrafa de uísque do balcão e a levei até minha mesa enquanto esvaziava o copo novamente. Flashes dos corpos que eu havia deixado aos meus pés naquele lugar cruzavam minha mente enevoada pela fúria. Há muito tempo eu não perdia o controle daquela maneira e não estava confortável com a sensação. Com o descontrole. Com o desejo violento que ainda parecia fluir em minha corrente sanguínea como um veneno, me corroendo.

Nos Braços da Escuridão: Entre a vingança e a obsessãoWhere stories live. Discover now