Capítulo 4 - PARTE I

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MARCO MONTELEONE


FEVEREIRO DE 2006

A FORÇA DO GOLPE DE ALESSANDRO cortou o ar ao lado da minha cabeça, quando desviei do soco. Ataquei em seguida, acertando o estômago do meu melhor amigo, que arfou enquanto seu corpo era impulsionado para trás, até as cordas que cercavam o ringue.

Retornando à posição de defesa, vi o momento em que ele praguejou algo sem conseguir emitir qualquer som.

— Ma que cazzo! Que mierda! — Fabrízio iniciou, misturando xingamentos e idiomas como fazia quando estava irritado. Aquele golpe significava que havia perdido uma aposta qualquer, mas apenas um vislumbre de seus cabelos descoloridos entrou na minha visão periférica. Eu não estava disposto a baixar a guarda para vê-lo em uma das extremidades do ringue.

Alessandro apertou os olhos, furioso, quando passou o antebraço na boca e notou o sangue, confirmando que seu lábio fora partido.

— Talvez você precise de uma pausa — provoquei.

Fabrízio riu alto.

O moleque filho da puta. Adorava atear discórdia.

Stronzo! — Alessandro retrucou, já revidando o golpe que recebera. Voltamos à luta e perdemos o fôlego entre ataques, bloqueios, chutes e tentativas nem sempre eficazes de defesa, até nos socarmos simultaneamente e cambalearmos para longe um do outro.

— É disso que eu tô falando! — Fabrízio comemorou, mas o ignorei.

A voz feminina e doce que gritou em seguida, contudo, conseguiu a minha atenção:

Fratello! — A pequena Kiara, irmã caçula dos dois, surgiu da entrada da sala de treinamento e cruzou os metros que a distanciavam de seu irmão mais velho. Ela tentou subir no ringue para acudi-lo, acreditando que ele precisava de ajuda, mas era pequena demais para conseguir isso sozinha.

Ao olhar para a entrada, encontrei uma Giovanna sorridente andando até o ringue enquanto colocava suas luvas de boxe rosas e infantis. E Virgínia, que se aproximava sem pressa, usando apenas uma calça legging e um maldito top vermelho que unia e erguia de um jeito malditamente sexy os seus seios cheios.

Porra!

Meses atrás, eu me policiaria para não olhar para ela com desejo, mas as provocações entre nós, desde que tínhamos iniciado aquele jogo de olhares no escritório, não pareciam estar apenas me afetando.

Ela também havia começado a prestar atenção em mim e eu já a tinha pegado olhando para meu corpo em pelo menos três ocasiões anteriores a essa. O que não diminuía, de nenhuma maneira, a onda de satisfação e desejo que me tragava sempre que eu percebia aqueles olhos desejosos sobre mim.

— O que estão fazendo aqui? — perguntei. Fabrízio colocou sua irmã em cima do ringue e ela correu para os braços de Alessandro.

— O papà pediu pra Virgínia me ensinar a dar uns socos — Giovanna respondeu ainda sorridente, ao que Fabrízio riu com deboche enquanto pulava do ringue e se aproximava dela.

— Um soco exige a força que esses gravetos que você chama de braços não têm, pirralha — ele provocou, porque sua diversão era irritar Giovanna além do limite.

E o idiota era especialista nisso.

— Quero ver você repetir isso quando eu quebrar esse seu nariz, idiota! — minha irmãzinha respondeu, cruzando os braços e bufando.

Nos Braços da Escuridão: Entre a vingança e a obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora