Capítulo 3- PARTE I

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MARCO MONTELEONE


OUTUBRO DE 2005

EU ANALISAVA O RELATÓRIO FINANCEIRO de um dos cassinos quando Virgínia entrou no escritório e estacou à porta ao me encontrar ali. Papai havia pedido que ela fosse até Chicago, precisava conversar sobre uma nova rota de entregas que passaria por Detroit — cidade que ela conhecia como a palma de sua mão e na qual seus negócios cresciam cada dia mais. Virgínia não sabia que eu participaria da reunião, mas não pareceu dar muita importância à minha presença também.

O que não era novidade.

Não em se tratando dela.

Sua indiferença ao sexo oposto era clara em todos os traços delicados de seu lindo rosto. O fato de desprezar os olhares de desejo que recebia, também.

Virgínia não era o tipo de mulher que seria conquistada com elogios. Era fácil perceber que ela não queria nem precisava ouvir nenhum deles, era consciente de sua beleza, do que claramente provocava aos homens que cruzavam seu caminho, mas parecia odiar isso. Os olhares e os homens.

Apesar de eu ter cedido à ordem de papai, sobre manter distância dela, e de ter me esforçado para fazer exatamente isso, eu a quis desde a primeira vez que a vi. Naqueles anos, me forçando a manter distância, apenas percebi que o que sentia não se tratava de um desejo obsessivo de levá-la para minha cama e possuí-la.

Eu a queria para mim. Toda ela. Apenas minha.

Queria cada um dos sorrisos sarcásticos que ela dava, queria seus olhares cínicos e o revirar de olhos irônico, suas respostas implacáveis, queria descobrir tudo sobre ela, tudo o que a tornara o que era, cada detalhe sujo e feio, e tê-la ao meu lado.

Estar ao lado dela.

Mesmo com vinte anos, eu nunca soube o que era estar apaixonado e nunca entendi as definições de amor que a ficção costumava produzir. Para mim, querer Virgínia era algo lógico, inevitável. Eu admirava sua força, sua inteligência e esperteza, admirava como ela era capaz de lidar com aquele mundo e impor respeito a todos, adorava como a lógica mental dela funcionava e como era capaz de tirar seus próprios sentimentos e emoções da mesa para tomar as decisões que precisava tomar. Eu adorava, também, a determinação assassina dela. Sua propensão irrevogável à vingança. A sede de sangue que aquela beleza homérica ocultava tão bem.

Eu estava completa e irremediavelmente louco por aquela mulher.

E a teria.

Não lutaria mais contra minha própria vontade.

A cada vez que ela aparecia em Chicago, eu a lia melhor e havia começado a pensar que talvez, apenas talvez, tivesse descoberto o que seria capaz de chamar sua atenção. De capturar seu interesse. Sem despertar seu asco ou desprezo.

E chegar àquela reunião mais cedo, para me encontrar com ela, tinha sido proposital.

Eu começaria a agir. E seria paciente como sabia que precisaria ser. Não duvidava de que iniciar um jogo com ela seria perigoso e excitante o bastante para valer o tempo que eu precisaria para tê-la.

Inclinando-me sobre a mesa à frente do sofá, depositei nela o relatório que lia enquanto a observava se aproximar daquela parte do escritório e sentar-se em uma poltrona não muito longe de mim.

Seus olhos azuis se estreitaram quando percebeu que eu não ia desviar o olhar, seus lábios se apertaram em uma linha fina, do jeito que há alguns meses aprendi a ler como um sinal de irritação. Eu poderia ter sorrido naquele momento, porque ela fez exatamente o que imaginei que faria. Aceitou o jogo silencioso quando percebeu que o meu olhar não carregava nenhum interesse sexual ou desconfiança, mas um desafio como o que a personalidade competitiva dela não hesitaria em aceitar.

Um ataque que jamais a faria recuar.


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e aí, genteeee?

Será que já sentem as faíscas dessa relação que está se construindo ao longo dos anos e dos desafios que eles têm?

SÓ DIGO UMA COISA, VEM AÍ UM CAPÍTULO MUITO FORTE!

Se preparem porque o próximo.... cof cof. Vocês precisarão de fôlego e ar-condicionado >< 

Nos Braços da Escuridão: Entre a vingança e a obsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora