Capítulo 1 - PARTE I

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MARCO MONTELEONE


MARÇO DE 2002

A MULHER MISTERIOSA ESTAVA ALI NOVAMENTE.

Com a mesma postura altiva, semblante insondável e olhos frios que vagavam pelo salão do cassino como os de um predador paciente à procura de uma vítima.

Um vestido vermelho abraçava suas curvas; os cabelos dourados estavam presos no alto da cabeça e algumas mechas soltas emolduravam seu rosto delicado, que não parecia ser mais maduro nem com a maquiagem pesada que ela usava — não devia ter muito mais que vinte anos.

Eu me dei conta de que minha noite tinha sido resumida àquele momento, à expectativa de vê-la outra vez, de encontrá-la sentada no bar com uma dose de martíni, como na última noite — antes de ela simplesmente sumir. Era claro que procurava alguém, e eu tentava calcular o risco que ela poderia representar, porém estaria mentindo para mim mesmo se dissesse que aquele era o único motivo para o meu interesse atípico nela.

O problema agora era que eu não era o único a observá-la com atenção, medindo-a como uma possível ameaça. O subgerente do cassino estava desconfiado. Diferente de mim, ele só notou há alguns minutos que ela não era acompanhante de nenhum dos figurões de Chicago que costumavam passar por ali. Após uma conferência rápida nos registros, ele não descobriu quem ela era. Nem mesmo as câmeras mostravam sua entrada. A conta dela no bar fora paga em dinheiro, portanto, não havia registros de cartões. Nenhum nome, nada.

Duas noites.

Se ela fosse uma federal, aquele cassino flutuante estaria confiscado e a Outfit ferrada. Tudo pela imprudência e falta de controle daqueles homens sobre a entrada e saída de pessoas ali.

Abandonando a discussão sem propósito entre o subgerente e alguns dos seguranças daquele andar do navio, voltei meu olhar para a mulher a tempo de vê-la se erguer da cadeira do balcão do bar e se mover pelo salão, indo para o corredor que levava aos toaletes.

Acima do barulho das roletas e da música que tocava por todo o ambiente, um casal perto de mim comemorou o resultado de um jogo, chamando atenção de muitas pessoas. A desconhecida, já do outro lado do salão, olhou em minha direção, diretamente para mim, como se aquela fosse a desculpa que precisava para fazê-lo. Como se sentisse que era observada e soubesse por quem.

Quando nossos olhares se encontraram, a atmosfera caótica nos contornando desacelerou, o tempo estagnou; os jogos, a música, as vozes e risadas se tornaram distantes, e foi como se centímetros nos separassem e não metros. Quase pude ouvir a respiração suave deixando seus lábios entreabertos e vi aqueles olhos frios se apertarem enquanto ela me media à distância.

Foi um segundo suspenso, roubado, que durou o bastante para aumentar a urgência de ir até ela. De tocá-la. E por mais irracional que isso parecesse, foi exatamente o que fiz.

Ela quebrou o contato visual e me deu as costas, apertando o passo, alheia ao fato de que tentar fugir àquela altura só me deixaria mais determinado a capturá-la.

Eu estava ciente de que era mais alto e tinha muito mais músculos que a maioria dos iniciados da minha idade. Havia torturado e matado mais homens do que muitos deles também. Dificilmente quem não me conhecesse acreditaria que eu tinha menos de vinte anos e pelo modo que a desconhecida parecia fugir nesse momento, desviando de outros clientes, era óbvio que ela não acreditaria se descobrisse. Provavelmente temia que eu fosse um dos seguranças do cassino ou, se tivesse alguma ideia de quem era o dono daquele navio, temia que eu fosse um dos soldados da Outfit. Que pretendesse machucá-la.

Nos Braços da Escuridão: Entre a vingança e a obsessãoWhere stories live. Discover now