Depois agitaste a merda da minha vida e fizeste com que colocasse os pés na terra pela primeira vez em séculos.
Estendeste-me a mão e estendi de volta.
Depois tirei-a e mandei tudo ao chão como se fosse um castelo de cartas, frágil."
Eliot POV
As aulas acabaram e vim direto para casa. Acho que foi a primeira vez que disse que não ao Tristan e aos meus amigos, perante as suas infindáveis sugestões para estudarmos juntos, sairmos um bocado, dormirmos em casa de alguém.
Quando me sentei na cama, puxei os joelhos ao peito e olhei em volta, o Sol entrava-me pela janela, os dias não só se mostravam realmente mais longos e quentes, mesmo que uma vez por outra a Califórnia se esqueça de não chover, como dava para notar que não chegava a casa sozinho antes de ser de noite há muito tempo.
Suspirei, libertei uma baforada de ar que nem me dera conta que estava a segurar. Estava sozinho, com o coração apertado e uma simultânea sensação de alívio. Não me rodeavam palavras de conforto, ou gargalhadas, ou os braços abertos das pessoas mais importante da minha vida, era só eu e o meu quarto, eu e a minha cabeça a mil e por mais que soe estranho, acho que hoje não podia ser doutra maneira.
Passei o dia todo mais na minha, as mil vozes irritavam-me e até a música dos fones que optei por meter nos ouvidos à hora de almoço, o fazia, era incapaz de acalmar algo inquieto no meu interior, no meu corpo frenético.
Passei os dedos pelo cabelo, puxei-o para trás mesmo que os caracóis algo embaraçados os fizessem prender-se lá pelo meio e voltei a suspirar antes de me levantar, indo apoiar-me no parapeito da janela, fixo nos raios quentes que se refletiam naquela janela específica, àquela hora, tornavam o céu azul radiante ainda mais bonito.
Abri a janela, fechei os olhos e inspirei, expirei.
Era como se tentasse à força toda recuperar o controlo de mim próprio.
- Já segui em frente. - declarei fitando um dos meus amigos mais antigos - Limitei-me a fazer o mesmo de antes, afinal não é a primeira vez que me desilude e sabes bem disso.
Queria acreditar naquilo tanto quanto no momento quis que o Marc acreditasse após me perguntar como é que estava no outro dia e encolhi os ombros como se nada fosse.
Através da janela aberta, subi para o telhado sem dificuldades.
Sentei-me nas telhas, como sempre, como naquela noite em que o mundo parecia um lugar trinta vezes mais bonito do que na verdade é. Naquela noite em que as estrelas pareciam trinta vezes mais brilhantes e na verdade eram só os nossos dedos entrelaçados. Parece que foi só um sonho e na verdade há pouco mais de dois meses era a minha realidade.
Senti o nó a formar-se-me na garganta, tentei engoli-lo, mas já as lágrimas me marejavam a vista. Não queria chorar, não outra vez.
Não o tinha esquecido, estava vidrado no meu pulso, tocava-lhe ao de leve com os dedos da outra mão onde há umas horas estava a sua, ainda podia senti-la lá... como podia sentir o meu coração acelerado como acelerou com o nosso primeiro contacto físico desde aquilo.
Isto não era justo!
Para mim, para nós, para o Tristan principalmente... !
Eu não devia estar a sentir-me assim ainda!
Tirei o telemóvel do bolso da camisa e a este ponto nem sei bem o que é que estava prestes a fazer. Tinha aberto os contactos e por momentos pensei ligar ao Tristan, dizer-lhe que era impossível continuar a fazer-lhe isto, fazê-lo de idiota.
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Not Only Memories
Romance"É desta que aprendes de uma vez que ninguém tem o direito de decidir quem tu és?" "Ele fica melhor sem mim de qualquer forma, não é importante." "Ele está a esquecê-lo, sei que está a tentar..." "Já segui em frente, limitei-me a fazer o mesmo de an...
~~Capítulo 3~~
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