What Could Have Been

Uma Dádiva

"Eu não quero morrer.", Becca pensava, enquanto aprecia Alcina cochilando; a face serena, sobrancelhas feitas e arqueadas, e os olhos fechados na direção do sol. "Eu não quero fazê-la me amar sabendo que me perderá um dia, e ter de conviver com o vazio que deixarei em seu peito. Há coisas que eu preciso te dizer, mas tenho medo de como possa reagir e deixo com que o silêncio me faça esquecê-las. Eu nunca amei desse jeito... Amar incondicionalmente ao ponto de ser doloroso. Você é a primeira a me fazer sentir isso, Alcina. Você abriu meus olhos, preencheu meu coração, e me faz desejar a imortalidade somente para que eu possa ter o privilégio de ter vidas infinitas ao seu lado."

Silenciosa, Becca se arrasta até quebrar o pequeno espaço entre seus rostos, selando um beijo doce na bochecha de sua rainha celestial.

Alcina sorri, sem abrir os olhos.

— Draga... O que você deseja de mim?

— Seu corpo e alma. Inteiramente. — Sussurra Becca, os lábios esfregando em sua pele cintilante, aquecendo ela com seu hálito de framboesa que havia saboreado no café da manhã. — Eu desejo estar com você, sentir você... Beija-la, venera-la e protegê-la. Eu desejo capturar as estrelas e entregá-las a você, para que possa carregar uma parte da galáxia em suas mãos. — Becca fecha os olhos, hesitante. Seu coração pulsa com ferocidade, empurrando as palavras que entupiram em sua garganta. — Eu desejo... Ter uma vida longa com você.

— E nós teremos. — Alcina vira seu rosto, fazendo seus narizes roçarem, e seus olhos se abrem para ela, iluminados em puro amor. —Viveremos livres e longe da guerra, e eu te darei uma vida repleta de emoções e riquezas nas quais você poderia acreditar ser possível apenas em sonhos, mas irei provar de que posso torná-lo realidade. Eu farei cada segundo de sua vida ser especial, até o fim.

— Eu não quero que tenha um fim. Eu quero que seja para sempre. — Becca engole seco, piscando freneticamente e prontamente decidida em confessar. — Eternamente.

O brilho de Alcina evapora, como se uma tempestade tivesse ocupado espaço por cima dela e escurecido sua aura.

— Você não precisa da eternidade para me provar seu amor, eu já o reconheço e devolvo na mesma intensidade.

— Mas e quando tudo acabar?

— Minha joia. — A voz de Alcina é doce e baixa, como sussurros de fadas. — O futuro é misterioso e inevitável, e jamais saberemos suas intenções...

— Eu sei o futuro que me aguarda. — Diz Becca, mais baixinho, porém áspera. — Uma pele enrugada, ossos sensíveis, e uma corcunda é o que me ocorrerá em breve.

— É uma honra, como humana, viver seu círculo de vida. O envelhecimento é um registro de tudo o que você viverá... É naturalmente belo.

— Não será agradável quando você precisar trocar as minhas fraudas.

— Cuidarei de você mesmo assim, não importa como esteja seu corpo ou aparência, você será, para sempre, minha donzela.

— Você me ama, Alcina?

— Mas que pergunta sem sentido, Rebecca. Minha alma condenada grita pelo seu nome, e meu coração ganha pulso sempre que estou com você. É lógico que a amo.

— Eu também não me vejo sem você. E não quero que isso acabe tão cedo, quero que seja eterno.

Alcina inspira, pesadamente, os olhos voltando a se fechar. Ela estava pensando a respeito, gesticulando outras maneiras para desfocar Becca daquele assunto.

— Bom, teremos tempo para falar sobre isso quando tudo acabar.

— Eu não tenho tempo, Alcina. — Becca insiste, firmemente. — Nós estamos cada dia mais perto da sua cerimônia. Miranda é poderosa, e você também. Rose, Bela, Daniela e Cassandra tem habilidades surpreendentes, e Chris tem armas de fogo capazes de estraçalhar qualquer um que cruze seu caminho. Mas eu, não tenho nada além de um machado, e não exerço nenhuma habilidade especial para bater com a Miranda de frente.