➵ 19. Because you are Calina Sartori

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— Meu irmão? — Puxei o ar com força recuperando meu fôlego incrédula por suas palavras desconexas. — Agora ele é meu irmão? Pensei que havia dito algo sobre não querer que fôssemos associados.

Agarrei o charuto de suas mãos trazendo-o até meus lábios, puxando levemente e logo sentindo o gosto forte de tabaco invadir minhas papilas gustativas. Soprei a fumaça quase sentindo minha língua adormecer, isso porque charutos não se traga, apenas se sente o sabor forte.

— Sabe papai, eu realmente fui tão decepcionante assim? — Devolvi o charuto voltando para o sofá e cruzando minhas pernas. — Ou você apenas descontou em mim as suas frustrações em ter um filho psicopata? NÃO! — Meus lábios se curvaram mais uma vez em sorriso exagerado. — Uau... Você realmente tem tantas decepções, papai... Um filho psicopata, uma filha assassina... — Senti meu próprio estômago embrulhar em apenas citar isso. — E olha só, você é um marido traidor. Frutas não caem longe da árvore, não é? Talvez nós somos a sua punição...

Seu rosto ainda inexpressivo me irrita, a forma como seus olhos tão negros quanto os meus me encaravam de uma forma vazia. Poucas coisas ligam a minha aparência com a mamãe, não tenho seus belos cabelos loiros e nem seus olhos castanho âmbar, talvez apenas tenho seus lábios carnudos e seu nariz arrebitado. Mas de resto podem dizer que sou uma cópia absoluta de Heitor Sartori. Talvez eu realmente fosse seu karma, mesmo que ainda não fosse forte o suficiente para enfrentá-lo e soube disso no segundo em seus passos lentos exalando sua calma foram até a longa prateleira de livros embutidos.

Tocando um dos botões escondidos atrás da bíblia sagrada consagrada pelo próprio papa, mas que escondia todos os maiores pecados que aconteciam quando aquela prateleira se transformava em uma porta mostrando o pequeno cômodo acinzentado sem iluminação alguma. A cadeira lotada de correntes com algemas para prender mãos, pés e pescoço também ficava no centro do cômodo e ele trabalhava uma tortura psicológica com o silêncio e solitude ao ponto de fazer você próprio se machucar para mostrar que ainda esta vivo. Gritos... Implorar... Se desculpar... Nada, nada era suficiente para sua mente insana. Apenas quando eu saia com as partes internas do meu braço em carne viva, arrancando minha pele com minhas próprias unhas ou quando Willian desmaiava de tanta fome, apenas isso saciava sua fome de nos ver destruídos.

— Talvez você tenha que se lembrar do que o desrespeito é capaz de te proporcionar nessa casa.

Me vi completamente embriagada pela fobia de acabar presa naquele cômodo ou no sanatório — que parecia mais um parque de diversões a esse lugar — mais uma vez. Mas ao mesmo tempo o ódio também me dominava e pela primeira vez decidi-me fazê-lo queimar como essa maldita casa.

— O que você quer, Calina? — Sua voz grave ecoou em meus ouvidos me fazendo cessar o olhar para dentro da sala.

— Você quer saber o que eu quero? — Levanto o olhar, fitando-o intensamente.

É um dia de novas sensações. Pela primeira vez, não estou com medo. Estou pronta para enfrentá-lo e vê-lo sufocar enquanto observo. Quero mais. Não importa o quanto eu possa torturá-lo, nunca será o suficiente

— Eu quero tudo, papai. Como você sempre desejou que eu quisesse. — Ergui o queixo, mantendo toda a minha postura. — Lá dentro você sempre me dizia que o mundo não estava pronto para encarar Calina Sartori e talvez você estava certo...

Seu olhar vazio encontra o meu, um pequeno sorriso desafiador surge em seus lábios. Ele queria isso, mas não faz ideia do que o aguarda.

— Mas você não faz ideia de uma coisa... — Me levantei caminhando até a prateleira tocando a bíblia e me virando para olhar para seu rosto mais uma vez. — Você não está pronto para encarar o monstro que criou.

TOQUE-ME SE FOR CAPAZWhere stories live. Discover now