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Kimberly
Às 22:21

Encontrei alguém que me faz sorrir, alguém que me olha como eu te olhava. Uma garota incrível,  inteligente e bonita, tão bonita quanto me lembro que você era. Ela me consola, é carinhosa, gentil e educada. Ela me ama Kim.

Mas ela não é você, volte pra casa Kimberly.

Terceira carta do Augusto destinada a Kimberly três anos depois da sua partida.

🎬

Eu estou a duas horas sentada nessa cadeira e encarando a janela do quarto enquanto abraço a maleta de remédios de Agnes, não sei oque fazer, não sei oque pensar, só sei sentir. O abismo, a sensação de estar afundando e afundando.

Onze horas, foi esse o horário proposto por Nathaniel. Eu espero, espero de coração que ele cumpra com o prometido. Conheci Nathaniel através de Ivy e Sophie, quando elas me pediram ajuda para apagar fotos íntimas dela no arquivo dele. O mais absurdo é que Nath não guardava só foto dela, mas de várias outras garotas. Garotas que nem pareciam ter atingido a maior idade. Então nós o denunciamos, entregamos o pen drive à delegacia e espalhamos o boato para que ele não escapasse por ter dinheiro.

Eu nunca imaginei que anos depois de ser preso Nathaniel se vingaria, eu sequer me lembrava da sua existência. Só o vi  pessoalmente uma única vez, em seu julgamento e foi o suficiente para ver toda a maldade em seu rosto. Maldade essa que está perto da minha filha.

Apertei seu ursinho marrom com um coraçãozinho no peito, respirei fundo o cheiro do perfume da minha filha vindo do brinquedo que ela tanto ama, eu nunca dormi longe dela. Nem em suas crises, eu sempre fiquei por perto de Agnes.

Meu bebê...

Voltei a contar os minutos, e a orar pra que tudo ocorra bem essa noite.

— Kim?

Me virei ao ouvir a voz que fazia meu corpo vibrar.

— Sim, Gus?

— Está na hora.

Assenti me levantando e virando lentamente. Ainda com o urso preso ao peito passei por ele sem fita-lo nos olhos. 

— Kimberly espera. — Parei de me mover e o escutei, escutei porque Augusto ficou ao meus lado nas últimas 38 horas, foi ele quem me deu comida foi ele quem falou a frase que me fez erguer-me da cama.

Você precisa ter fé Kim, Agnes precisará de você.

— Quero que saiba que farei de tudo para que Agnes esteja em seus braços ainda hoje. Eu prometo Kimberly, prometo que nossa filha estará salva.

E eu acreditei e o agradeci.

— Obrigada Augusto, por tudo. Você nem questionou, não pensou duas vezes antes de sair correndo e ir pegar todo seu dinheiro na conta.

— Não me agradeça, sabe que você vale mais. Nem se compara com minha fortuna, porque ela é você, e Agnes, a criança que eu tanto almejei. A filha que eu tanto sonhei.

Respirei com dificuldade quando o encarei, seus olhos diferentes de quando o reencontrei semanas atrás. Augusto agora era transparente, e seus olhos diziam o que eu não queria que fosse dito.

Fechei meus olhos com força.

— Pare. Alexia está lá embaixo, você não tem respeito? — Sussurrei quando ele me segurou. Quando seus dedos brincaram com a minha mão.

Aos olhos de terceiros era só um gesto simples, Mas Gus e eu sabíamos que não era. Sabíamos que aquele toque não era inofensivo, que a qualquer instante nos descontralariamos e acabaríamos em seu choveiro.

— Alexia não me tem, Ela não me domina como você faz Kim. — Seu rosto se aproximou. Seus lábios roçaram minha bochecha, Gus ergueu meu pulso e o beijou lentamente. — Alexia nunca foi minha namorada, tão pouco minha noiva.

Meus olhos se arregalaram.

— Oque?

Augusto segurou meu rosto.

— Eu menti.

Minha boca se abriu de surpresa. Meu coração errou algumas batidas e confusão andulou meu rosto. Me afastei do seu toque, e era ridículo a forma como eu o queria de novo.

— E por que você faria isso? — O encarei mais uma vez. — Você por acaso é idiota?

Augusto se afastou irritado, irritado com algo que só ele entendia.

— Não pode me julgar por isso!


O olhei desacreditando.  Como fui amar alguém tão idiota assim?

— Eu o julgo, o julgo sim. Seu estúpido!

Ele arregalou os olhos.

— Estúpido eu? Tudo oque eu fiz foi pra magoar você.

Pisquei várias vezes enquanto ele caminhava de um lado para o outro.

— Me magoar? — Me engasguei.

— É, Kimberly, magoar você. Eu queria que você sentisse o que eu senti. — Ele avançou em uma das garrafas de bebida de luxo que ele tinha espalhado em todos os cantos da casa e bebeu como se fosse água.

Longos segundos até ele virar-se pra me estagnada.

— Eu esperei seis, seis anos pela a oportunidade de partir seu coração da mesma forma como você partiu o meu.— Ele limpou sua boca depois de um gole direto da garrafa de whisky. —  Mas eu não consigo Kim, não consigo parti-lo quando na verdade o quero pra mim.

Não respirei, não me movi.

Não consigo partir quando na verdade o quero pra mim, Augusto não tem uma namorada, ele me quer e eu ainda quero ele.

— Ah, Meu Deus...

— Eu amo você, Kim, eu amo você porra! E eu não sei oque fazer com todo esse amor, não sei como agir diante dele.

Augusto tinha uma careta, e eu não sabia se era pelo álcool que ele tinha feito de água ou pelas palavras que pareciam lhe doer. Ouvi passos vindo da escada.

Engoli em seco e suspirei erguendo um dedo em sua direção.

— Eu e você, teremos um Papinho bem sério depois.

— Oque isso quer dizer?—  Ele veio atrás de mim. — Isso é um eu te amo também?

Rangi furiosa, ele não podia jogar essas palavras intensas como essas de uma só vez em um momento desse.

— Você não vai me responder? 

Parei bruscamente mas não para dar atenção a ela mas porque o detetive apareceu no final do corredor.

— Os outros já acamparam no lugar, temos que ir agora.

Desci as escadas com as pernas tremendo ouvi boa sorte e um Vai ficar tudo bem, e tome cuidado dos meus amigos.

— Você e as malas vêm comigo e a Nora, Augusto você fica longe entendido?

Ele assentiu. Então segui o detetive ao encontro da minha filha com o coração na mão e um aperto no peito.

Continue...

Esse Augusto não tem jeito mesmo né? Mas ainda assim ele é o meu favorito.

 (Des) sintonizados.Where stories live. Discover now