𝐒𝐓𝐀𝐘 𝐀𝐋𝐈𝐕𝐄 || No Distrito Doze, onde a realidade se desfaz em sombras e o tempo se perde nas dobras do desconhecido. Tudo é um quebra-cabeça desorientador, uma dança confusa entre o ser e o não ser. As linhas entre o certo e o errado são tu...
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𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐 - 𝐕𝐞𝐫𝐦𝐞𝐥𝐡𝐨
Lyra estava perdida no emaranhado do tempo, sem conseguir distinguir quantos dias se passaram desde o ontem que parecia uma eternidade. As memórias eram apagadas uma a uma, como se uma borracha invisível estivesse sendo passada sobre elas, deixando apenas vestígios fragmentados.
O caderno que Mallen trouxera já estava quase vazio, suas folhas arrancadas e amassadas, decorando o quarto como fragmentos de pensamentos descartados. Algumas páginas sobreviventes exibiam desenhos simples, retratando a lua, árvores, o mar e nuvens, um copo de água... o céu.
O céu, uma lembrança que parecia boa, mas ao mesmo tempo distante e inalcançável.
Mallen adentrou a sala, testemunhando Lyra sentada no canto do quarto, ocupada em fazer bolinhas de papel e arremessá-las contra a parede.
— Bom dia — Mallen saudou ao fechar a porta.
— Já é dia? — Lyra não desviou o olhar da sua atividade.
A metamorfose no comportamento de Lyra não passou despercebida por Mallen. A leveza nos sorrisos e brincadeiras havia desaparecido, mesmo sob os efeitos do medicamento. Lyra não era mais a combativa tributo da arena, nem a jovem que existia antes dela. Mallen sabia que essa transformação era inevitável, mas não esperava que fosse tão rápida.
Olheiras marcavam os olhos de Lyra, e o verde que um dia foi vibrante agora parecia sombrio e desvanecido, assim como ela.
— Você passou a noite acordada de novo? — Mallen pegou uma seringa com o conhecido líquido do armário.
— Passei? — Lyra levantou o olhar, revelando a fadiga em seus olhos.
Mallen se aproximou e se abaixou para aplicar a injeção.
— Verdadeiro ou falso? — Mallen segurou o braço de Lyra, notando um corte diferente, mas optou por não questionar, apenas suspirou antes de introduzir a agulha.
— O que é realmente verdadeiro ou falso aqui?
— Apenas perguntas?
— Será mesmo? — Lyra franziu o cenho.
Após a aplicação do medicamento, Mallen se afastou.
Lyra pegou outra folha do caderno, amassou e jogou para o alto. A bola de papel atingiu sua própria cabeça antes de cair no chão.
Mallen pegou uma das folhas amassadas, desdobrando-a para revelar um desenho de uma nuvem carregada de chuva.
— Por que uma nuvem? — Mallen questionou, sentando-se na cama e observando Lyra, que começava a sentir a cabeça girar.
Lyra jogou a cabeça para trás.
— Não sei. Queria saber se ainda lembrava como elas eram.
Mallen amassou novamente o papel e deixou-o cair de suas mãos até o chão. Lyra recostou-se no canto da parede, recusando-se a permanecer na cama, no quarto, em qualquer lugar. Não queria mais fazer nada. Estava cansada.