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"A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades."

Millôr Fernandes

Depois do desarranjo interior, provocado pelo ensaio de casamento, bateu uma vontade incomum de desabafar

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Depois do desarranjo interior, provocado pelo ensaio de casamento, bateu uma vontade incomum de desabafar. Então convoquei uma reunião de emergência com os meus chegados — um círculo de amizade curioso, no qual pouco tínhamos em comum.

Nosso grupo foi formado involuntariamente, anos ( que pareciam séculos) atrás. Num desses eventos beneficentes, nos quais crianças, adolescentes e solteiros são relegados — postos em mesas distantes —, nós nos conhecemos.

Éramos um bando de meninos emburrados pela exclusão. Tornamo-nos um bando de homens emburrados, unidos (quase todos) pela solteirice inveterada, com personalidades divergentes e características canônicas.

Éramos cinco (e fabulosos):

Otto Hoffmann Junior, o sensato, nosso vovô, o calvo-cabeludo mais emocionado do Brasil — bateu o olho, se apaixonou —, moderava nossas trocas de ideia. Na maioria das vezes neutro, preservava a convivência pacífica ao apaziguar as brigas no início das discussões acaloradas.

Ítalo Tommaso Vacchiano, o rabugento, protetor das regras, chato de carteirinha e nosso Capitão, nos administrava aos modos de uma empresa — inclusive com normas —, do grupo de WhatsApp até as reuniões ao vivo. Também era o herói que tentara me ensinar a comer quieto e perdera a paciência no dia seguinte.

Jean-Pierre Dubois, o sensível, nosso chorão, fora o responsável por se apoderar do nome do grupo depois de assistir aos Cinco Fabulosos de Queer Eye (e ter chorado no meu ombro em todos os episódios).

Dubois apresentava um espírito de perturbação peculiar, não deixava ninguém em paz. Mas tinha um coração enorme, não pensaria duas vezes antes de doar um rim para qualquer um de nós, se fosse preciso. Eu odiava o amar e não o trocaria por ninguém.

Por último, e não menos importante, havia nosso caçula, Yudi Takahashi, o animado, terror do PROERD e a alma da festa (quermesses, chá de revelação, aniversário de criança e forró da terceira idade inclusos). Também era meu parceiro de copo e das piores decisões da noite.

E eu, no passado o mais introvertido da rodinha de afinidade, fui adotado por eles. Desde então não nos separamos mais.

Compartilhávamos tudo. Tudo mesmo.

A bem da verdade, reformularei para um quase tudo.

Havíamos parado de compartilhar mulher depois da experiência em grupo que envolveu encarar o Vacchiano sem roupa e ficar em dúvida se só sentíamos inveja ou íamos sair do armário simultaneamente. Até hoje não sei responder. O cara é presença.

No entanto, isso não vem ao caso. O mais importante naquele momento era extravasar os sentimentos — que eu detestava transparecer em expressões, falas e atos falhos.

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