6 • Proibido trânsito de bicicletas

305 49 6
                                    

"Os acasos são coincidência do destino."

Carlos Ruiz Zafón

Lá estava eu, saindo para o meu pedal matinal, na maior paz

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Lá estava eu, saindo para o meu pedal matinal, na maior paz. Paz, contudo, não vinha sendo um sentimento duradouro nas últimas semanas. Mal começava a senti-la, algo a estragava. Certo alguém estragava.

Certo alguém acreditava que era o rei do mundo, vivia como bem entendia, se sentia desobrigado a respeitar as regras básicas de convivência. Respeitar o mínimo do mínimo, só para não me tirar do sério, sequer passava pela sua cabeça.

Chata pra caralho. Bufei, pedalando no parque, ainda injuriada pela gracinha.

Chato pra caralho é ele! Assombração mal exorcizada. Traz problema todo dia e fica aí, se achando muita bosta.

O adorável sr. Igor Asimov me dava nos nervos em um nível astronômico. Desgastava-me, em especial, com os terrores noturnos de ser expectadora indireta e direta (ênfase nesse aspecto, na pior parte do meu dia e da experiência como vizinha) de sua agitada vida sexual.

Arranja um motel, peste! Pode trazer o bordel inteiro pro condomínio, mas não pode mover o dedo pra ir pro cabaré e manter o brega por lá? Faça-me o favor!

Um macho escroto desses. Humpf! Não deve passar de um frustrado. Da parte dele, não conseguia imaginar nada além de uma transa ruim, torturante, prolongada (a duração da barulheira que o dissesse). O azulzinho comendo solto também...

Minha principal hipótese: ele, como tantos outros homens arrogantes, queria compensar suas habilidades limitadas com a quantidade de mulheres que frequentavam seu covil.

Além de desconforto pelo contexto desses encontros, sentia uma espécie de empatia em relação ao esquadrão de loiras. Com certeza ele esvaziava a carteira a cada aventura, pagava a mais em troca da intensidade das mulheres. Ninguém gemeria daquele jeito por alguém da laia dele — não sem receber por fora.

A cacofonia de gemidos inflava o ego afetado do padrãozinho que não tinha algo a oferecer além da própria aparência. Nada de novo sob o sol. Ele era só mais um exemplo de beleza mal aplicada.

E bota má aplicação nisso! Por qual razão um homem tão bonito tinha de ser podre daquele jeito? Só uma piada do Destino explicava um negócio desses.

Tudo nele era uma ofensa distinta à minha pessoa. A falta de vergonha me deixava sem palavras. Nem sabia como ainda não havia feito um B.O. para esfregar na sua cara. Suas gracinhas mereciam uma bela queixa de importunação sexual. Só pra largar de ser besta.

Sei lá por qual motivo eu agia com benevolência. Contive-me mesmo antes de tomar conhecimento da nossa parceria. Talvez eu levasse muito a sério o lance de fazer o bem aos inimigos. Nunca quis cultivar energias negativas. Ia contra os meus preceitos.

Destino MotoCiclistaWhere stories live. Discover now