Capítulo 1 - Um pai solo

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Narrado por Sakusa Kiyoomi

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Mais um dia de puro cansaço. Ser um atleta exigia muito, tanto fisicamente quanto mentalmente. Agora, ser atleta e pai solo ao mesmo tempo, exigia muito mais do que eu podia aguentar.

—Sayuri, por favor, para de chorar só um pouquinho. - Disse quase chorando junto com ela.

Eu tinha acabado de chegar, mal tive tempo de tomar banho e ela decidiu que ia soltar rios de lágrimas. Eu já tinha tentado de tudo, mamadeira, fralda, banho, bico, desenho, brinquedo, sono... mas nada adiantou. Já estava ficando preocupado, eu deveria levá-la ao hospital? Mas só de pensar nessa idéia meu corpo já arrepiava, confesso que não sou muito fã de hospitais.

—Tudo bem, meu amor, o papai está aqui. Não precisa chorar.

Devem estar curiosos sobre como eu virei pai. Bom, a verdade é que nem eu sei. Quer dizer, eu não lembrava muito bem. 2 meses atrás, a mãe dela (que eu não lembro o nome), apareceu na minha porta dizendo que não tinha condições de cuidar da criança e a entregou para mim com um par de roupa e documentos, apenas. Obviamente suspeitei demais daquilo, até porque eu, Sakusa Kiyoomi, nunca teria me relacionado com alguém ao ponto de ter um filho.

Minha vida sexual não é muito ativa, então as poucas vezes que me relacionei com alguém eu tinha certeza que a pessoa não era portadora de uma DST e que eu estava usando proteção. Então como raios isso foi acontecer? Simples, a culpa é de Bokuto Koutaro.

Cerca de 1 ano atrás, após termos ganhado em 1° lugar os jogos da V-League, Bokuto insistiu que todos nós fossemos comemorar em uma boate qualquer. Obviamente todos toparam, até aqueles que já eram casados e tinham filhos, até eu. Como isso aconteceu? Insistência de um certo bicolor, com quase 2 metros de altura, uma voz escandalosa e um corpo que parece um guarda-roupa enorme, melhor dizendo, Bokuto Koutaro.

De início eu recusei, não estava com cabeça para festas, pior ainda uma boate, aquele lugar em que as pessoas esquecem o termo "espaço pessoal". Mas juntamente de Bokuto, Hinata e Miya decidiram me perturbar até minha paciência esgotar, o que resultou em minha pessoa numa boate cheia com música alta e cheiro de bebida, suor e maconha, bebendo tudo que via pela frente tentando esquecer o quão sujo era o lugar em que eu estava.

Não sou fraco com bebidas, mas nesse dia eu bebi tanto que nem sei como eu parei na casa de uma desconhecida e transei com ela. Não lembro quando a vi, não lembro de ter trocado um palavra sequer com aquela pessoa, não lembro de ter entrado em um carro e ter subido as escadas para chegar em seu quarto. Só lembro que acordei no outro dia sem roupas, uma puta dor de cabeça e sem nenhum vestígio de camisinha. Conferi no lixo, obviamente sem tocar, e procurei alguma embalagem rasgada no chão e não achei. Tudo foi confirmado quando acordei a mulher para perguntar e ela respondeu que não, não usamos porque EU falei que não precisava.

Não é preciso dizer a vocês que depois desse dia eu fiquei um bom tempo longe do álcool, longe de sexo e fiz exames pelo menos umas 3 vezes.

—Eu sei, Sayuri, é difícil ter um pai desnaturado e sem experiência nenhuma, mas eu estou tentando, okay? É difícil 'pra mim também, cuidar de um bebê de 6 meses não é a coisa mais fácil do mundo não. - Tentei falar da forma mais suave que consegui e pelo visto, funcionou. Ela parou de chorar e ficou olhando para minha cara.

Sayuri não é um bebê difícil de lidar, mas é um bebê. Chorava, cagava, resmungava, gorfava, porém, no geral é bem tranquila. Nesses 2 meses as únicas vezes em que passei aperto foi quando ela engoliu uma peça de brinquedo, e quando seu primeiro dentinho começou a nascer. Eu fiquei desesperado porque ela deu febre e ficava chorando bastante, além da carência em excesso, é claro. Por sorte a pediatra falou que era super normal, era apenas seu primeiro dente nascendo.

O lado ruim desses momentos e de ter virado um pai de última hora é que eu tinha que inventar as piores desculpas para meu treinador e para o resto do time. Na semana que Sayuri ficou meio mal por causa de seus dentinhos novos, eu inventei que estava com diarreia. Resultado: Bokuto e Hinata na porta da minha casa com remédios e folhas. Não gosto de lembrar desse dia.

"—O que estão fazendo aqui? - Abri a porta um pouco assustado, ninguém sabia sobre minha filha e eles apareceram aqui sem aviso nenhum. Sorte que Sayuri estava dormindo e eu estava rezando para que ela não acordasse naquele momento.

OMI-OMI! Viemos cuidar de você! - Bokuto não falou, ele gritou. E obviamente, só faltou eu mata-lo se aquilo acordasse a coisa pequena.

—Não preciso de cuidados, Bokuto-San. Obrigado.

Estava prestes a fechar a porta, mas Hinata me parou.

—Omi-san, espera! Estamos todos preocupados com você, então pelo menos aceite os remédios.- Disse me entregando uma sacola cheia, ou melhor, lotada de remédio.

—Ah! Também tem isso, não sei o que é, mas Keiji disse que é bom 'pra diarreia. - Maravilha, o esposo de Bokuto também sabia sobre isso.

—Obrigado. - me reverenciei levemente - Diz para Akaashi-san que agradeço pelas folhas. Agora se me derem licença."

Nunca quis morrer tanto como eu queria naquele dia. O pior foi ter que aturar as gracinhas de Miya nos treinos. Se errei o saque 10 vezes seguidas e todas acertaram nele, eu garanto que não foi de propósito.

Ser pai não é uma tarefa tão difícil, quer dizer, deveria ser, mas como todos dizem (e é verdade), a mãe sempre sofre mais. Porém não era o meu caso. Eu virei pai solo da noite pro dia sem preparo nenhum. Lembro do quão desesperado fiquei, pensando em como eu iria viver com um bebê de 4 meses dali pra frente. Pelas graças divinas, aquele era um dia de folga e o treinador me deu mais 2 dias para descansar, eu disse a ele que estava cansado além do normal, o que não era totalmente mentira. Nesses últimos meses eu tenho pegado mais pesado comigo mesmo, ou melhor, eu estava pegando mais pesado comigo mesmo, o bebê não tem feito muito bem pra mim nessa área.

Lembro que a primeira coisa que veio na minha mente foi colocá-la em um orfanato. Eu sei que fazer isso seria uma coisa horrível, mas imagina você estar com sua vida normal com tudo sobre controle quando de repente aparece uma mulher maluca na sua porta com um bebê de quatro meses falando que você é o pai, e em seguida te entrega a criança te passando toda a responsabilidade.

Cuidar de uma vida exige muito, agora cuidar de uma vida sozinho... Obviamente a melhor opção seria deixá-la em um orfanato. Vejamos, eu não tinha nenhuma estrutura para cuidar de um bebê, eu não sabia nada sobre bebês, não tinha nada para bebês na minha casa e eu não tinha emocional para cuidar de um bebê.

Hoje ainda é difícil. Fazem apenas 2 meses que eu estou cuidando dessa criança e, sinceramente, as vezes dá vontade de coloca-la na porta de um orfanato. Os treinos, minha carreira, ter que cuidar da criança e ainda escondê-la do mundo inteiro está me deixando esgotado, mas o que eu poderia fazer? Não seria justo fazer ela sofrer por ser fruto de uma irresponsabilidade minha.

—Resolveu dormir foi? - passei o dedo pelo seu rostinho pequeno. - Será que vou conseguir cuidar de você? Talvez a babá queira ficar com sua guarda.

Mesmo ela sendo o motivo da minha vida ter virado de cabeça para baixo, algo nessa garotinha não me permitia simplesmente larga-la. Algo nela me fazia ser pai sem nem ao menos saber como.

Pai(s) de primeira viagem - Sakuatsu Where stories live. Discover now