Capítulo 51

40 10 5
                                    

Pov Luísa (Irmã da Madalena)

A nossa vida continuou, continuámos em Coimbra, a viver os 6 juntos, em vez dos 7. Se a mamã nos fazia falta? Claro que sim. Contudo, aprendemos a viver sem a sua presença física. O pai arranjou uma casa para vivermos só nós, e mesmo o avô Carlos sendo contra, o meu pai insisitiu na ideia. Ele dizia que tínhamos que reaprender a viver sozinhos, os 6. E assim aconteceu.

Os meses passaram e a Madalena andava feliz, muito feliz. Passava a maior parte das tarde em casa da Rute, a sua mais nova "BEST FRIEND". E o pai, estava em recuperação, o acidente tinha provocado algumas lesões e ele precisava de alguma fisioterapia. Até que ele conheceu alguém. Emília Vieira, uma "senhora" que como ele estava em recuperação depois de uma acidente de carro. Ela frequentava um grupo de ajuda a pessoas que tinham perdido alguém. Era algo que o Centro de Fisioterapia oferecia aos doentes, e que o meu pai começou a frequentar.

Emília tinha perdido o marido e a filha num acidente, apenas ela sobreviveu. Era triste até, se eles não tivessem criado uma amizade tão forte que levou o meu pai a ficar de quatro por ela. Eu não queria ninguém no lugar da minha mãe. Ninguém. Decidi, então, que nunca iria gostar dela. Cada vez que o pai a trazia lá a casa, eu era mal criada, respondona e fazia de tudo para que o pai não estivesse perto dela. Falava constantemente da mãe, e comparava-a sempre a ela, fazendo com que a "Mila" se sentisse mal. Ao fim de alguns meses, já não sei precisar quantos, o pai assumiu que estava a gostar dela e começou a levá-la mais lá a casa. Todos a amavam, só eu continuava a implicar com ela.

Até que um dia a Nena veio falar comigo. Nesse dia o meu pai e a "Emília" decidiram fazer um piquenique. Eu não queria ir. Era um programa demasiado "família", e eu não a via como parte da minha família. A minha irmã foi lá ter mais tarde, e quando chegou e percebeu que eu estava sentada longe deles e emburrada, sentou-se ao meu lado.

Fez-me ver que o nosso pai tinha o direito de refazer a sua vida, que não era porque estava a gostar da "Mila" que iria esquecer a nossa mãe, e que ela nunca iria ocupar o lugar dela no nosso coração, mas que podia ser uma amiga. E aos poucos fui deixando a Mila entrar na minha vida. Aos poucos ela foi transformando-se não numa mãe, mas numa amiga, em alguém que eu podia confiar tudo. Mas, lógico que algo tinha que correr mal, porque era pedir muito que tudo continuasse em paz. 

Flashback

Tinha acabado de chegar a casa da escola com a Madalena, e ouvi o pai chama-la do escritório. Quando passei pela porta, vi o pai, o Pedro e o avô. Olhei para a minha irmã, e ela sorriu. Percebi que era para me tranquilizar, mas algo me dizia que ia tudo correr mal.

Os gritos vindos de lá começaram a assustar-me. E foi naquele momento que a Mila entrou com a Sofia e a Clara, era normal ela ir buscar as duas à escolinha delas, e ficar lá em casa até ao jantar. Os gritos continuaram, principalmente do meu avô. Vejo a Madalena sair do escritório a chorar e logo a seguir o Pedro a gritar o nome dela. O que ouço depois foi algo que nunca pensei ouvir de algum de nós "Odeio-te Pedro. Para mim morreste." 

Não era possível. Não era verdade. Não era. Nós sempre nos amámos, era para ser para sempre. Foi isso que a nossa mãe nos ensinou, nos mostrou durante toda a sua vida. Ela não queria dizer aquilo, não queria. Comecei a chorar, eu não queria acreditar que ouvi, o que ouvi. O Pedro olha para nós, e segue para o quarto também.

O pai e o avô saem do escritório, o avô diz algo ao meu pai que não conseguimos ouvir. E sai. Mila vai ter com o meu pai e abraça-o. Pede-me que vá brincar com as meninas lá para cima, e eu vou...mas assim que as deixo no quarto entretidas, volto e consigo ouvir os dois a discutir.

— Pedro, diz-me que não fizeste o que eu estou a pensar?!— a Mila pergunta ao meu pai, furiosa com ele.

— Eu sei lá o que estás a pensar Mila?— o meu pai dá as costas à Mila e vai-se sentar no sofá pegando num livro que está na mesinha de lado.

O Nosso CaminhoWhere stories live. Discover now