Capítulo 19

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Chamei um táxi para voltar pra casa. Quando cheguei Emmy estava dormindo com o bebê nos braços. Fiquei parado olhando as duas por um tempo e achei melhor tirar a criança dela e colocá-la na cama. Eu estava cansado e dolorido, dormir no gramado não fez bem pra coluna, eu parecia um velho de 70 anos.

Subi com ela no colo e deitamos juntos na cama. Dormimos por algumas horas. Eu acordei por ouvir a Emmy abrir a porta do quarto, ela ficou parada nos observando.

- Você aderiu bem essa coisa de pai.

- Só achei que ela estaria mais segura na cama. Pode carregar ela.

- Fofo.

- Para!

- Realmente tenho que voltar, meu pai precisa dos meus cuidados.

Emmy pegou a criança e saiu. Ela acha que eu estou começando a desenvolver sentimentos paternais pela menina, mas a verdade é que eu preciso da criança viva e bem pra manter o álibi sempre que necessário.



***


Uma semana se passou, Sebastian continuava desaparecido e o Bartolomeu ainda procurava seu velho pai. Depois da autópsia e de todos os procedimentos que são feitos em um caso de assassinato, o corpo de Bruno foi liberado para que a família pudesse fazer o velório e o enterro. Haveria uma missa na capela pela manhã e logo após seria o enterro. Tomei um banho, cuidei do rosto, escolhi uma roupa social e fui para a capela. Chegando lá vi Blenda próxima da mãe de Bruno, a senhora Brígida estava aos prantos e enquanto era consolada pela namorada do filho morto.

- Sinto muito pela morte do seu filho, senhora Montenegro. - Falei ao me aproximar.

A mulher nada disse, apenas chorava e chorava.

- Ela ainda está muito abalada. - Afirmou Blenda.

- Compreensível.

- Achei que não viria.

- Pensei em ficar do seu lado nesse momento.

- Obrigada pelo gesto.

- Acho que devemos entrar, parece que o padre já vai dar início.

- É verdade. Vamos senhora, precisamos entrar.

- Ô meu querido Bruno, você era um bom menino, o melhor filho. - Disse a mulher ainda aos prantos.

Entramos na capela e eu optei por sentar nos primeiros bancos perto dos familiares. Para quem não conhecia muito bem a família poderia até pensar que eu era um dos membros. Todos os bancos estavam lotados, parecia que metade da cidade estava ali, ou mesmo toda ela; o caixão estava fechado, afinal de contas nem cabeça ele tinha.

Ao final da cerimônia, alguns membros da família foram até o caixão se voluntariar para ajudar a levar até o cemitério, eu fui até lá e me voluntariei também. Foi-me permitido que eu ajudasse, caminhamos até o local e ao chegarmos lá a cova já estava pronta.


- Eu tinha que enterrar você também Bruno, eu sempre limpo minhas bagunças. - Pensei.

Após o enterro, fiquei parado com as mãos nos bolsos embaixo de uma das árvores que havia por toda a extensão do cemitério, olhava para o cenário e pensava no destino. O vento estava forte e meu cabelo ondulado se agitava conforme a intensidade da ventania. Todos já tinham ido embora e toda aquela solitude me fazia bem.

- Ainda não entendo bem o porquê de você ter vindo. Você odiava ele.

- Mas amo você. - Olhei para o lado e vi Blenda com os braços cruzados como se estivesse com frio. - Achei que tivesse ido embora com os demais.

- Não acho que seja possível você amar alguém.

- Por quê?

- Você é estranho e não parece sentir nada.

- Eu não lembro de quase nada da minha infância. Só lembro das coisas que aconteceram depois dos meus 10 anos.

- Teve algum trauma?

- Talvez.

- Você tem dezesseis anos e parece ter mais.

- Talvez eu tenha, a julgar pelos pais que eu tinha, é possível que eu tenha nascido em casa e eles tenham deixado as formalidades de lado.

- Isso seria loucura. Sua mãe não parecia ser desleixada.

- E não era. Mas também tinha picos de instabilidade.

- Você viu quando ela... - Ela fez uma pausa na fala como se estivesse escolhendo as palavras mais adequadas. - Você sabe... ela...

- Se matou. - Completei.

- Sim.

- Não. Tudo aconteceu enquanto eu estava na escola, quando cheguei meu pai estava sentado sobre os joelhos no sofá, com uma cerveja em uma das mãos e a outra estava na cabeça. Eu logo vi que tinha algo errado, achei que eles tinham brigado de novo ou que ela tinha batido o carro outra vez.

"Quando ele percebeu minha presença apenas se levantou e me abraçou. Meu pai não era um homem que gostava de abraços, de sexo sim, abraço não. Foi aí que ele resolveu falar o que tinha ocorrido, eu não sei dizer o que eu senti, não sei se senti algo; eu fiquei estático. Eu não pude vê-la pela última vez, papai preferiu o caixão fechado devido às circunstâncias."

- É difícil falar sobre isso? Podemos mudar de assunto se quiser.

- Não tem problema.

- É estranho achar esse lugar bonito?

Receptáculos: A primeira coleção Onde histórias criam vida. Descubra agora