Capítulo 12

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Segunda parte: A primeira coleção.

Ás 7h, o despertador tocou. Acordei e mal conseguia abrir os olhos, sentia como se tivessem jogado uma pá de terra neles. Levantei e abri a janela, era uma manhã de mormaço, e meu corpo clamava por descanso.

Passei a mão no rosto e senti uma dor leve, fui até o espelho e vi o deslumbre de um rosto cheio de hematomas. Estava ridículo, diriam que além de ser um esquisitão, também sou um banana que apanha em um beco as segundas-feiras. Blenda, céus o que ela pensaria disso? Como se já não bastasse ela achar que não sou capaz de levar uma mulher ao delírio na cama, agora também pensaria que não sou homem o suficiente nem para conseguir me defender. Que ótimo obrigado, papai.

Resolvi que não iria a escola hoje, seria humilhante. Aproveitaria para resolver alguns detalhes pendentes. Desci e fui pegar um pouco de café.

A porta da frente bateu e imaginei que o rei da farra tinha regressado. Ele entrou na cozinha e se aproximou do balcão.

- Colocou pomada nisso aí? - Ele perguntou.

- Quanta petulância, isso para não dizer coisa pior.

- É bom você tratar de ficar calado, não teste a minha paciência, senão é capaz de eu matar você e sentir arrependimento depois.

- Que pena, eu mataria você e não iria sentir nem remorso. - Falei bufando e subi rápido para o quarto.

Tranquei a porta e sentei em frente ao computador, liguei-o e entrei em alguns sites para avaliar preços e funcionalidades de câmaras a vácuo.

A câmara é um dos equipamentos primordiais para a conservação das mãos, além de outros produtos que tenho de comprar para fazer o procedimento. Há alguns anos, enquanto fazia minhas pesquisas sobre conservação de corpos, deparei-me com uma técnica chamada: plastinação.

A plastinação trouxe inúmeros benefícios para a ciência e o estudo em universidades, e agora, eu quero usá-la para conservar algumas lembranças que eu jamais me esquecerei. O processo é feito a longo prazo, mas possui um resultado excelente.

Coloquei no carrinho de compras virtual: o polímero, a acetona e a câmara; em seguida fechei o pedido, seria mais uma facada no bolso do papai, isso o deixaria ainda mais feliz.

Compra efetuada. Agora vou concentrar toda a minha energia e dedicação a extração da ricina. Algumas horas depois, consegui concluir. O pó da ricina estava pronto para o uso.
Permaneci sentado olhando para a janela cogitando as melhores maneiras para ser eficiente e eficaz quando fosse usar o pó. Meu pai não era um grande leitor, sempre criticou a minha dedicação aos meus livros, entretanto seria muito irônico ele morrer após a leitura de uma carta redigida pelo próprio filho. Adoro ironias.

Fui à sala e peguei a pilha de revistas, que ficava na mesinha de centro, voltei pro quarto e recortei todas as letras de que precisava para mandar a carta. Por fim, peguei uma folha da resma que estava na impressora e comecei a colar as letras. Formei a frase "Fim da linha, meu caro pai.", mas coloquei de trás pra frente. Com outra folha fiz o envelope, coloquei luvas e duas máscaras e joguei o pó da ricina por toda a carta, prendi a respiração só por garantia. Depois dobrei e pus ela no envelope; abri a gaveta da mesa de estudos, peguei minha coleção de selos e escolhi um deles. Meus selos são intocáveis, mas a ocasião pedia algo especial.

Receptáculos: A primeira coleção Where stories live. Discover now