Capítulo 18

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O micro-ondas apitou e a luz interna apagou. Sequei a garrafa de uísque e levantei, depois fui para a cama e dormi a noite inteira.

Na manhã seguinte acordei animado e com dor, planejei não ir a escola para poder me dedicar ao projeto de plastinação. Desci e fui até a cozinha tirar as mãos do freezer para descongelar, depois passei uma pomada para queimaduras na coxa. Liguei a cafeteira, esperei até o café ficar pronto e depois fui ao quintal para pegar a vitamina D do dia. Alguns pássaros estavam cantando em algumas árvores que ficavam nos fundos da casa, era um som maravilhoso e um bom jeito de começar o dia. Voltei e liguei a TV, no noticiário a moça da previsão do tempo afirmava que nas próximas semanas uma frente fria atingiria o estado. Ela era uma moça alta, bronzeada e loira, tinha os lábios carnudos e uma cara que dizia: me leve pra cama.
O próximo bloco do jornal foi reservado para um cara chamado Bartolomeu fazer um "clamor".

" Pessoal, eu me chamo Bartolomeu e meu pai Antônio Reis, ele era vigia no cemitério da cidade e nós passamos muitos anos sem se falar por causa de alguns conflitos, mas eu voltei para tentar resolver a situação, só que meu pai não estava e ele não está há muito tempo segundo os vizinhos, por favor, quem viu ele fala comigo.

- E agora isso também. - Falei sozinho achando aquilo tudo um pé no saco. - Achei que o velho não tivesse filhos ou familiares próximos.

Tratei de não me preocupar muito com esse fato, até porque era um tanto improvável que encontrassem o corpo. O tempo passou sem que eu me desse conta, quando fui até a pia as mãos já estavam descongeladas.

- Ótimo, finalmente poderei dar início. - Falei empolgado.

Subi para o quarto a procura do meu bisturi, comprei um para usar nas aulas de biologia do semestre passado. Apanhei a caixa de luvas e retirei um par, fiz o mesmo na caixa de máscara. Voltei minutos depois para começar a dissecação das mãos, esse era o momento de retirar toda a gordura e a pele. Até então, eu só tinha feito isso em sapos, mas agora fazendo em carne humana tive um vislumbre de algo incrível. Retirei a pele com cautela, pois planejava costurar e fazer luvas para colocar nas peças das mãos quando estivessem prontas.

Depois de retirar toda a pele de ambas, fui até a garagem preparar tudo para o banho de acetona. Há algum tempo atrás meu pai tinha comprado alguns tanques que poderiam servir para esse procedimento, coloquei um dos tipos de acetona em um deles; em seguida fui à cozinha para pegar as mãos, lembrei do olho de Bruno que guardei na mochila, peguei-o também. Depositei ambos dentro do tanque e o tampei. Elas teriam que permanecer ali em torno de sete a dez dias.

Eu sei que o risco que eu estava correndo era grande, já que esse procedimento deve ser feito em um local apropriado, mais especificamente em uma sala anti-explosão já que a acetona é muito volátil, porém, eu sou um homem ansioso. Torcerei para que não ocorra um possível vazamento.

***


Dois dias bastantes monótonos se passaram, tudo ia calmo e tranquilo. Na escola, como eu previra, Blenda não me olhara na cara. Tentei uma investida mas fui cortado de primeira. Emmy, faltou os dois dias e também não apareceu para outra visita. Na noite do segundo dia, programei beber um pouco e dormir muito. Estava no fim da segunda garrafa de uísque quando ouvi a campainha tocar. A TV estava ligada e um homem calvo e magro estava ao lado de um policial falando coisas das quais eu sequer estava entendendo, estava muito bêbado pra isso. A campainha tocou pela segunda vez e eu não tinha coragem pra levantar e ir abrir a porta. Se for a Emmy ela vai entrar de qualquer jeito mesmo, então foda-se. - pensei. Seja quem fosse na porta, era insistente e muito dedicado, pois tocou pela terceira vez consecutiva e resolveu apelar tocando uma sequência infindável. O som já estava me deixando louco.

Receptáculos: A primeira coleção Where stories live. Discover now