20 - Dar a César o que é de César

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Eles sabem que nada de bom pode sair de uma invasão, tão impulsiva assim, sem muitas justificativas. O Kim tá fazendo isso por interesses pessoais. Todo mundo tá ligado que não existe essa tal luta contra as drogas, e se existir, o governo é nosso maior aliado. Nada acontece longe do controle do Estado, é bom cair na realidade.

- Vocês. - Apontei para alguns dos nossos. - Fiquem na guarda do casarão, ninguém sai e se alguém entrar, a cabeça de vocês já tá pronta. Yoongi, você foi derrubado recentemente, vai com eles.

- Sim, senhor. - E saiu, com o rebanho de corno no encalço.

- Nós. - Continuei. - Vamos para a linha de frente. Olho no olho. Metade vai para a entrada da direita, metade para a entrada da esquerda, eu estarei na área do farol. Já sabem, né? Nós estamos na razão, então não ataquem, tenham sangue frio. Mas não se rendam, em hipótese alguma.

- Sim, chefe.

- Eles chegaram.

Engatilhei a arma e puxei o capuz para baixo. Correndo, eu alcancei a área do farol. Fiquei de tocaia, por trás da base, esperando o primeiro tiro ser disparado. Não demorou muito. Ao Norte, o barulho do revólver ressonou, depois outro, e mais outro, e outro. Eles não entravam na favela para prender alguém ou achar alguma coisa, eles entravam para matar, e por isso a comunidade, desse momento em diante, virou uma chuva de balas.

Quando um dos nossos morre, fica por isso mesmo, tem que ficar. Mas, ah, se um deles morrer... A guerra está travada, e é esse o meu medo; expôr todas aquelas pessoas ao inferno na Terra.

Até que tudo silenciou, como em um filme, todo ruído cessou. Eu só conseguia ouvir alguém tentando comunicação comigo pelo radinho preso no cós da minha calça, e o barulho da minha respiração pesada.

Silêncio nunca é um bom sinal.

Foi isso que me fez ficar temeroso, meus músculos tensionaram ao ponto de doer e minha garganta fechou. O que eles estavam fazendo? A probabilidade deles recuarem era quase nula. Eles já haviam aniquilado uns 5 dos nossos, por que parariam agora? Ah não ser que houvesse algo que eu ainda não havia percebido.

Então, a primeira gota respingou em mim, bem na ponta do nariz. Centímetro por centímetro, eu ergui minha cabeça para o céu e não existia uma estrela sequer, apenas grandes nuvens carregadas.

Carregadas de chuva. Merda.

O desespero me tomou quase que imediatamente, aquela maldita sensação se apossou de mim, e por Deus, eu não tinha o que fazer. Eu não conseguia me mover e se eles me achassem, eu morreria ali.

A tempestade apareceu e quando tomei consciência novamente, eu já estava encharcado. Senti meu corpo febril, mesmo a água machucando de tão gelada. Me deitei no chão cheio de terra e chorei, era só isso que me restava. A chuva chegava até a me afogar.

Eu tentei, juro que tentei, tomar o controle da minha mente e corpo novamente, mas eu simplesmente não conseguia. Eu era o Jungkook de 15 anos atrás novamente, naquela mesma noite chuvosa. Eu não conseguia me livrar do trauma.

Como se não bastasse, os disparos voltaram. Mas, dessa vez, ao meu redor. Tiros pelo chão em que eu estava deitado, nas árvores e na base do farol.

Eles não recuaram, eles me acharam.

Chorei mais, como um covarde filho da puta. Eu não queria morrer assim.

Foi com esse pensamento que eu reuni todas as minhas forcas restantes e passei a me arrastar, humilhantemente, rasgando o rosto com pedras e inflamando os recém-ferimentos com areia. Rastejei até a entrada do farol e engatinhei pelos degraus até o topo. O holofote estava desligado, então não havia perigo. O espaço era minúsculo, mas pelo menos eu estava longe da chuva e dos caras. Hiperventilei, puxando o ar com todo afinco, mas de nada isso me servia.

Eu senti a sensação de morte, como nunca na vida. E porra. Eu só conseguia pensar em Jimin e na minha mãe. Ali, agonizando pela salvação que não me alcançaria, eu pensava em como tudo poderia ter sido diferente. Eu poderia estar com mamãe agora, ela estaria mais velha, e eu a apresentaria ao Jimin. Ela estaria na minha formatura da faculdade e no meu casamento com o loiro. Ah, Jimin, eu seria o rapaz perfeito para ele e ele me amaria de volta.

Porque eu juro por tudo nessa vida fodida, eu amo ele, como eu amei minha mãe.

Escuto sussuros vindo lá de baixo e movimentações aparente, apesar da chuva tomar conta dos meus sentidos. Depois, alguém dá o primeiro passo no primeiro degrau. Eu prendi a respiração. Então, era assim que acabaria.

Quando o policial, com botinas grandes e negras, e um fuzil na mão, chegou até o último degrau, eu fechei os olhos com força e esperei. Eu só esperei pelo fim.

Mas o disparo nunca aconteceu.

Quando abri os olhos, era Namjoon. Com a arma bem na minha cara, encarando no fundo dos meus olhos.

Ele tinha a faca e o queijo na mão. Afinal, o maior inimigo dele estava ali, vulnerável, chorando, sujo, deplorável, bem à sua frente. Até eu faria o que sei que ele tem que fazer.

Ele tem que fazer o que deve ser feito.

- Não é assim que eu vou vencer você. - Disse ele, com o seu corriqueiro ar de superioridade, não tinha um pingo de pena em seu rosto. - O Jimin nunca me perdoaria.

Mas havia compadecimento.

- Kim, achou algo aí? - Disse uma terceira voz, provavelmente vinda dos primeiros degraus. Aquele foral devia estar cercado de polícia em cada metro quadrado.

- Não. Não há nada aqui.

•   •   •

Nem sei o que dizer. Mas é isso. Desculpa os 8 meses fora, estive um pouco perdida, um pouco mal, um pouco (muito) ocupada. Mas eu não abandonaria vocês. Vamos nos ajudar até o fim de polus e até o fim de futuras histórias, se assim vocês quiserem. Obrigada por todas as mensagens, amo vocês.

Muita gente anda me perguntando de Paraitisi tbm, vcs realmente querem ela kkk?

Enfim, cuidem bem desse capítulo, porque eu sofri e chorei muito pra conseguir escrever ele.

Leu até aqui? CURTA e COMENTE para a autora insegura saber que você gostou!!💜💜

Polus | JikookWhere stories live. Discover now