06 - Não há mais chances

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Aviso de gatilho: Este capítulo contem violência física e menções de traumas.

JUNGKOOK

- Mamãe! - A criança gritava em meio à um pranto desesperado, de cortar o coração, se engasgando com as próprias lágrimas e fungando a secreção que insistia em escorrer de seu nariz. - Mamãe, por favor! - Gritou ainda mais alto, se encolhendo no canto da cozinha, abraçando os joelhos, colocando a cabeça entre eles, tentando tapar os ouvidos e abafar os sons ao seu redor.

Podia-se ouvir alguns vizinhos tumultuando fora da casa, o som das sirenes da ambulância, alguém gritando, outra pessoa chorando, e o principal, a tempestade forte que caía sobre a terra. Tudo aquilo ecoava na sua cabeça e ele tentava a todo custo não ouvir mais aqueles barulhos perturbadores. Os clarões dos relâmpagos que iluminavam a escuridão da casa, ao invés de lhe passar segurança, lhe faziam arrepiar. O pior de tudo era o barulho do trovão, era alto, forte, certeiro, lhe rasgava por dentro. Seu corpo tremia de cima a baixo, ele sentia um desespero e angústia descomunal, só podia chorar. Ele queria colo naquele momento, queria o colo de sua mãe.

O garotinho sempre fôra o mais alto de sua classe, até mesmo mais alto do que os moleques de sua rua, era alto e forte para uma criança, gostava de dizer que já era um rapazinho e não precisava mais de defesa.

Porém, naquele momento ele se sentiu pequeno, minúsculo, um mero grão de poeira vagando pelo universo, não só fisicamente, mas emocionalmente, pequenino, queria tanto ser protegido, implorava por isso, gritava a plenos pulmões para que sua mãe o pegasse no colo, o abraçasse e o fizesse se sentir gigante de novo. O garotinho ansiava para que ela ouvisse seu clamor, mas, naquele momento não poderia mais ser ouvido. Ele se sentiu sem voz também.

O garotinho era eu.

Nunca mais eu pude me encontrar, só me deixei ser levado pela correnteza, para onde a vida quisesse me levar. Para onde meu pai quisesse me levar.

- Jeon! - Yoongi falou por baixo do capacete, enquanto dirigia sua moto ao lado da minha.. - Estamos chegando no ponto de encontro, lidere os caras. - Acelerei minha moto, ultrapassando algumas outras motos, da galera da gangue, ficando na frente de todos, o número um.

Meu pai é ambicioso, gosta de ter cada vez mais poder. Vira e mexe ele reúne boa parte da gangue e nos coloca em uma longa jornada de moto, às vezes para perto, às vezes para o outro lado do país, podendo levar dias. Tudo isso para conquistarmos territórios de gangues alheias, chegamos no local dos caras, brigamos e o vencedor fica com o território, é sempre algum bairro pobre ou comunidade, para que possamos monopolizar. É na maioria das vezes um grande derramamento de sangue, mas é o preço que se paga pela ambição, não é?

Talvez eu goste da sensação de poder, de ser o chefe, O Jeon, eu sou um fodido, afinal, não o inocente desta história. Gosto de ser respeitado por aqueles caras maus, isso faz eu me sentir grande, gigante como nunca, vinga minha alma, anestesia minha culpa.

Mas, anestesias passam, e no final, eu sou só o fantoche dele, a cobaia em experimento. Não queria ser ruim, não queria ser esse cara, mas o piloto automático me levou para um lugar muito distante, e agora não há mais chances para mim.

Quando chegamos ao nosso destino, estacionamos as motos e carros, um ponto interessante é que eu sempre me sinto num filme quando isso acontece. Adentramos as ruas em grupos separados, com as armas a postos.

- Ora, ora, ora! O Jeon pai e o Jeon filho. - Uma vez soou por de dentro dos becos escuros e logo um bando de homens mal vestidos saíram das sombras, alguns com os braços carregados de armas, outros prontos para lutar.

Polus | JikookOnde as histórias ganham vida. Descobre agora