20 - Dar a César o que é de César

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Como uma cólera instantânea, eu amassei o cigarro na mão. E lá se foi a minha brisa.

- Tem certeza do que tá dizendo, Min?!

- Tenho, porra, claro que tenho!

- E como eles conseguem um mandato de busca e apreensão se todos esses anos isso nunca aconteceu, hein? A gente sempre escondeu tudo muito bem, alguém tem que ter dedurado.

- Tu acha que teu pai teria coragem de dedurar o esquema?

- Ele não iria tão longe só para me ver falhar. - Suspiro profundamenpte. - Mas é claro que ele deve ter soltado pistas.

Como um efeito borboleta, uma porra que acontece gera um encaralhado de outras merdas mais.

- Ah... Aquele policial, chefe de operação, o Kim, ele disse que só recuaria quando pegasse a sua cabeça, custe o que custasse.

Algo em mim acendeu, uma chama há muito tempo adormecida. Eu dei uma gargalhada gostosa, talvez pela onda, ou pela piada de puríssima qualidade.

- Mas eu nunca estive brincando de esconde-esconde. Se ele me quer... - Saquei o celular e postei minha localização atual, em uma rede social qualquer. Caminhei até a porta, em passos lentos e certeiros. - É só vir pegar. Reúna o pessoal, do alto ao baixo escalão.

- A gente vai encarar mesmo? Jeon, tem civis nas ruas, talvez nós não tenhamos condições. Uma troca de tiros com a polícia agora vai ser como assinar nossa sentença de morte. Isso vai ser carnificina.

- Min. - Fechei minha mão no queixo de Yoongi, com mais força do que deveria, fiz-o olhar em meus olhos o máximo que podesse. - Nós somos ratos? Responda. - Dei um solavanco na mão, apertando a carne de sua mandíbula até que o sangue fugisse.

- Não, senhor. - Disse, com dificuldade.

- Então por que fugirmos como tal? - Soltei seu rosto e o vi fazer uma breve massagem no local. - Peça para o Hoseok dar um toque de recolher, marcado para às oito da noite, na comunidade. Não quero uma alma viva sequer nessas ruas depois das oito, estamos entendidos?

- Sim, senhor.

- Vamos dar a César o que é de César, então. Eu só quero o que é meu.

•   •   •

Às oito, pouco se ouvia no bairro, a não ser o som das munições sendo recarregadas, dos malucos tomando seus postos, dos meus passos. As luzes das casas estavam todas apagadas, um completo breu, visto de cima. Já estive nesse mesmo lugar da população, conheço a sensação de insegurança mesmo estando dentro da própria casa, o barulho da bala comendo solta, acelerando todos os corações, mamãe e eu agachados no chão do quarto, com medo de uma bala perdida ou algo assim. Não é fácil morar em comunidade, nunca foi. Eu nunca quis estar do outro lado da porta, eu nunca quis ser a fonte dos tiros. Mas, a vida nos leva por caminhos misteriosos, e não há como saber o destino.

Até o destino chegar.

Do radinho, ouço um chamado. - Eles tão entrando, estão com as sirenes e o farol desligados.

- Tô ligado.

Para evitar dor de cabeça, nós nos encapuzamos. A intenção é só contra-atacar, é uma luta desnecessária, para início de conversa. Ninguém tá afim de matar polícia hoje, mesmo que eles estejam na maldade.

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⏰ Last updated: Oct 15, 2023 ⏰

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Polus | JikookWhere stories live. Discover now