Manuel

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- Deixa eu ver se entendi, fomos convidados pelo próprio imperador para a coroação da princesa? Há! É uma cilada, uma armadilha com certeza!

Eu poderia facilmente concordar com Lianh, tinha tudo pra ser uma armadilha, desde o terrível incidente que aconteceu com a princesa há dez anos atrás, Dotados e Comuns foram separados brutalmente por leis rigorosas das duas partes, uma fronteira foi criada pra nos separar, a barreira mágica, que servia de lembrete de que não éramos bem vindos em SuperNova. Agora de repente, meu pai recebe um convite que tinha como remetente o próprio imperador, convidando-nos para ir ao castelo festejar a maioridade da princesa e vê-la receber a coroa de princesa herdeira, qualquer pessoa de mente sã iria desconfiar de uma coisa dessas, mas muito maior que a minha desconfiança, era a minha curiosidade, a cerimônia de coroação seria o primeiro evento em que Hanna apareceria em público em 10 anos, desde que aquele raio a atingiu eu não a via mais, nós éstavamos brincando no jardim do palácio quando aconteceu, eu era o único que estava com ela na hora, o único que viu tudo, o único e principal suspeito...

Pelo menos foi o que o imperador disse quando decretou que não éramos bem vindos em SuperNova, que nós éramos uma ameaça, um perigo para a sociedade. Mas não fui eu. Eu sei o que vai dizer: "Isso é o que todo culpado diria". Mas não precisa acreditar na minha palavra se não quiser, você pode acreditar em um fato muito simples: Eu não tenho poderes. É isso. Nenhuma habilidade extraódinária comum entre os Dotados, devo ser o único no mundo que não tem. Além disso, Hanna era a minha amiga, nós éramos crianças, eu jamais pensaria em fazer qualquer mal a ela. Agora, depois de tantos anos eu iria revê-la, não é assim que gostaríamos de reencontrar uma velha amiga, será que ela se lembra de mim? Será que ela também me culpa pelo que aconteceu...

- Terra chamando Manuel, tá por aí cara? - Lianh me sacudiu me despertando dos meus devaneios - tava pensando na sua princesa?

-Ela não é minha princesa, ela é uma princesa - eu disse revirando os olhos.

- Ahá! Então você admite que estava sim pensando nela, nossa cara como você é babão.

- Olha só, não é a Giovanna ali?

Só a menção ao nome dela, já fez com que Lianh pretrificasse, suas bochechas ficaram tão vermelhas quanto tomates maduros e ele tremia igual vara verde.

- On... onde? - ele gaguejou a procurando com os olhos.

- Quem é babão agora hein? 

Depois de se recuperar do susto, Lianh me deu um tapa no braço claramente decepcionado.

- Não tem graça Manuel - ele disse frustrado comigo.

- Desculpa, mas foi você que começou. Aliás falando nela, quando é que você vai se declarar hein? Daqui a pouco nós estamos com 90 anos e você ainda não resolveu isso.

- Você sabe que não assim tão simples, ela nem olha pra mim, nem sabe que eu existo. Além do mais, a garota é aprendiz de general se ela se irritar um pouquinho comigo, pode me esmagar como um inseto. - De repente Lianh baixou os olhos para os próprios pés, olhando um ponto fixo no chão que só ele conseguia ver. - E... meio que sei que isso jamais daria certo.

- E por que você diz isso?

- Ah, por favor Manuel! Olha só pra mim! Comparado a ela eu não sou ninguém. O que um pé rapado como eu com uma familia despedaçada como a minha tem pra oferecer pra uma rainha como ela? Só sendo muito iludido mesmo.

Não era verdade, quer dizer, Lianh vinha sim de uma familia humilde, seu pai era álcoolatra e agredia ele e a mãe grávida, depois de tanto apanhar Lianh não sentia mais dor, afinal ele tinha o poder da invulnerabilidade, quer dizer não era dor física, porque as cicatrizes que ele colecionava, contavam a sua história. Mas mesmo tendo todos os motivos do mundo para se revoltar contra o mundo, e se rebelar, Lianh era um dos amigos mais fiéis que eu tinha, o conhecia como a palma da minha mão, e se ele estava falando que amava a Giovanna, então era verdade.

Violeta: O tom da magiaWhere stories live. Discover now