O ciclo lunar é composto de fases, a vida das pessoas também.
Charles Leclerc já tinha atingido seu fundo do poço, agora não tinha mais pra onde descer, o único caminho possível é pra cima. E é pra lá que ele quer ir. Impondo mudanças na equipe, cui...
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Monza, Itália A ansiedade não costumava fazer sentido, e bem, isso não era nenhuma novidade para Charles, ele estava infelizmente habituado às sensações. O medo que ele sentia era sempre descomunal e não proporcional ao que estava acontecendo, tampouco a sensação de quase morte. Os tremores violentos e a falta de ar.
Mas aquilo era demais.
Charles corria em Monza a anos, tinha vencido lá duas vezes, isso sem contar as categorias de base, conhecia cada curva, cada centímetro daquele circuito, sabia de cabeça os movimentos do volante.
Ou deveria saber.
Porque simplesmente não conseguia se lembrar de nada. Nada, nenhuma curva, nem mesmo o desenho do circuito.
- Charlie? - foi o sotaque italiano forte que chamou sua atenção naquele dia, até porque só ela sabia daquele esconderijo, ele estava ali pra não ser encontrado, não lembrava que ela conhecia o espaço - Ei, o que tá acontecendo?
- Luna... - ele levantou os olhos e lá estavam, as íris escuras, apagadas, que Luna jurou fazer sumir, bem diante dela
- Tô aqui - ela se sentou ao lado dele no pequeno degrau entre o chão e a estrutura metálica do motorhome - Conversa comigo.
- Eu não consigo lembrar - Charles arfou, sua respiração já estava chiando
- Do que? - Galaretto perguntou, mas então mudou sua estratégia - Você não lembra que um dos seus pódios preferidos é em Singapura porque você tava com o Sebastian? Ou que depois do macarrão da sua mãe, sua comida preferida são os biscoitos da mãe do Pierre? Ou ainda que a minha música preferida é uma composição especial feita pra mim?
Os pensamentos intrusivos de Charles se calaram por um segundo. Como ela lembrava de tudo aquilo? Tinha... tinha sido uma conversa mais de um ano atrás, antes de tudo e... E Luna lembrava, simples assim.
- Eu... não era isso...
- Talvez seja das suas pistas preferidas, Mônaco, aqui, Singapura, Spielberg e Baku.
- Como você lembra de tudo isso?
- São coisas importantes pra você. Porque eu não lembraria? - ela perguntou, fazendo carinho na mão dele, quente mas trêmula.
- É só que...
- Eu sei - Luna suspirou pesado - Desculpa por isso
- Você já tá perdoada faz tempo - Charles deitou a cabeça no ombro da italiana - Eu não consigo lembrar o circuito, parece que eu esqueci como Monza é
- Parece os sapatinhos que vocês usam pra correr - foi a resposta dela, dita entre um sorriso leve - Tem muitas chicanes e é uma das pistas mais rápidas do calendário
- Olha só, desde quando você sabe tanta coisa assim?
- Ei, mais respeito, por favor, eu sou de uma família de pilotos!
- Tá certo, Luna Schumacher - ele acabou soltando uma risada fraca
- Se sente melhor? - ela perguntou com cuidado
- Um pouquinho - Charles confirmou, mas manteve a cabeça apoiada no ombro de Luna, encontrando um inesperado conforto no caos dela - Você tá bem?
- Vou sobreviver - foi a resposta evasiva dela
- Luna...
- A Itália faz isso comigo, Charlie, não tem nada que você possa fazer, é só... sobreviver a esse lugar. Eu tô acostumada...
- Alguma outra empresa já te chamou?
- Nada ainda - mais um suspiro pesado - Eu só... Tem quase 11 meses que eu tô limpa, as mídias estão esquecendo meu nome finalmente, Jason já me pagou que me devia de indenização, tudo tá o mais normal que poderia estar e... e eu continuo sem nada.
- Eu sinto muito, Lua
- Eu...
- Não termine essa frase, não diga que merece, Luna, você não merece nada disso. Já passou por coisas ruins o suficiente pra se arrepender e não precisar de mais nada.
- Não parece o suficiente, nunca é. --------- Não é o suficiente, nunca é.
Aquela frase não fazia sentido apenas na realidade de Luna, não fazia sentido apenas na de Charles, não fazia sentido apenas na de Selene.
Os três viviam aquilo diariamente.
Charles tinha acabado de cruzar a linha de chegada em Monza, em primeiro lugar pelo segundo ano seguido e pela terceira vez na carreira, ele deveria estar satisfeito enquanto parava na frente do número 1.
Mas tudo que passava na mente do piloto era que naquele dia, por algum milagre, ele não estava morrendo. Era uma mistura estranha de alívio e medo, era um alívio que os acontecimentos do ano anterior não estivessem se repetindo, principalmente porque daquela vez Charles estaria sozinho, Sebastian não estava correndo. Mas o medo continuava presente, quase como se ele sentisse que algo ruim estava para acontecer, ele só não sabia o que era.
E mesmo assim, o aperto no peito continuava ali. A ansiedade era assim no fim das contas, não fazia sentido. Talvez se ele só ignorasse a sensação por mais alguns dias, pudesse acreditar que nada de ruim aconteceria e que era só mais uma das peças pregadas por sua mente.
Era o que ele esperava pelo menos.
Mas Selene tinha certeza de que seu tempo estava acabando.
Enquanto Charles sentia que algo aconteceria em breve, mas não sabia o que, Selene sabia exatamente o que aconteceria, mas não sabia e nem queria pensar em quando, porque sabia que estava perto, e ela não queria perder tudo.
Ela sabia que seu paraíso estava se desfazendo, sentia isso, faltava pouco pra Charles descobrir sua mentira, faltava pouco para que Mattia a expusesse, pouco para perder o emprego, pouco pra perder tudo que um dia amou.
O medo vinha dominando cada um de seus pensamentos, medo de perder o homem que amava, medo de perder a mãe que era tudo pra ela, medo de perder o emprego que tanto lutou pra conseguir.
Mesmo vencendo a corrida em Monza, o olhar duro do chefe de equipe era como uma fresta na caixa de Pandora, a diferença é que diferente do mito, a esperança de Selene estava fugindo também.
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Um cap um pouco mais curto e com menos coisa acontecendo pra preparar vcs pro caos q vem no próximo domingo. Peço desculpas também ir não ter postado ontem, houve um imprevisto.
No mais é isso Espero que estejam gostando Até domingo Amo vcs ✨🏁❤️
