O ciclo lunar é composto de fases, a vida das pessoas também.
Charles Leclerc já tinha atingido seu fundo do poço, agora não tinha mais pra onde descer, o único caminho possível é pra cima. E é pra lá que ele quer ir. Impondo mudanças na equipe, cui...
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Mogyorod, Hungria Pessoas expressivas são aquelas mais fáceis de ler, aquelas que menos conseguem esconder suas próprias emoções e aquelas que precisam se esforçar nas mínimas coisas para que não sejam expostas demais. Charles Leclerc era uma pessoa extremamente expressiva, alguns anos com Mia Djacic haviam treinado algumas de suas expressões, ele sabia não demonstrar toda a frustração pós corrida ou não deixar que sua saúde frágil ficasse a mostra o tempo todo.
Mas ali tinha sido praticamente impossível.
Durante todo o tempo em que ele e Selene estiveram em Mônaco, uma bolha de felicidade tinha envolvido ambos e durante aqueles dias, nenhum deles ousou estourar a bolha. Em cerca de 5 dias, nada havia incomodado eles, nem mesmo os pesadelos de Charles, que tinham diminuído cada noite a mais que ele caia no sono nos braços de Selene, nem mesmo a lembrança do trato dela, que afastava o pensamento toda vez que se aproximava.
Mas quando a mensagem chegou, com a data e o horário do vôo de ambos para a Hungria, sem aviso e sem proteção, a bolha havia sido estourada. As lembranças do ano anterior, da corrida horrível que tivera no ano anterior, a discussão com Mattia e o boicote que sofreu, tudo se amontoava na cabeça de Charles e nem mesmo a presença de Selene ajudava.
Por escolha própria, ele tinha tomado mais um comprimido antes de entrar no avião e dormiu por todo o período em que estiveram no ar. E Selene sequer conseguia culpá-lo ou se sentir jogada pra fora da pista, tinha visto como ele tinha ficado, como tinha mudado simplesmente por saber que voltaria a pista. Ela o conhecia e gostava dele demais pra se incomodar com aquilo, pelo contrário, tinha se sentado ao lado dele e assim como no apartamento, velado o sono dele.
A diferença para ela agora era que, fora da bolha de Mônaco, a culpa tinha voltado a consumir cada célula do corpo da grega. A lembrança do que tinha feito, do que tinha entregado de bandeja a Mattia, ela não sabia na época, mas tinha entregado seu coração e agora, sua família, sua paixão e sua dignidade estavam nas mãos de Mattia Binotto.
Ela não queria ter que continuar mentindo pra Charles, queria poder contar para ele que apesar de estar se apaixonando cada vez mais, ela ainda tinha um dever a cumprir, um dever que cumprido mantinha sua mãe viva. E que ao se envolver com ele, ela se envolvia também numa armadilha que se disparada levaria a um resultado catastrófico, na pior das hipóteses uma morte e dois corações partidos.
Antes não tinha parecido tão assustador, mas agora tendo ainda a confirmação de Pascale Leclerc de que Charles estava feliz, a culpa pesava ainda mais.
Quando pousaram na Hungria e chegaram até o paddock, Selene contrariou mais uma vez tudo que sua racionalidade a mandava fazer, como tinha virado costume desde que conhecera Charles, e saiu entre os motorhomes a procura de uma pessoa específica.
Encontrou Luna Galaretto sentada em uma das lanchonetes do paddock, com um copo na mão e o celular na outra, parecia completamente alheia a todo ambiente ao seu redor. Ela nem mesmo percebeu quando Selene se sentou diante dela na pequena mesa.
