Capítulo IV: sorvete de flocos

7.9K 786 146
                                    


ਏϊਓ

×× Megan ××


Quando você passa muito tempo sozinha, sem amigos ou familiares, sua única companhia são os seus próprios demônios. Eles falam na sua cabeça o quão fracassada e substituível você é. 

Ninguém estará lá quando você voltar para casa após um dia difícil, ninguém irá te abraçar quando você precisar de carinho, ninguém vai saltar de alegria quando ver você conseguir algo que sonhava muito.

Apenas o nada.

Apenas você e seus demônios.

Você vai tentar se convencer que ser sozinha é muito melhor, que não vale a pena manter as pessoas por perto. Terá esse falso sentimento de paz, mas sempre vai olhar para um grupo de amigos e desejar ter algo parecido. Pessoas que gostam da sua companhia e conversar sobre coisas banais. 

Eu percebi que quanto mais me afastava das pessoas, menos eu queria ficar perto delas.

Isso machucava. Eu cresci no meio do caos de um vínculo composto, eu nunca ficava sozinha por muito tempo, minha maior luta adolescente, antes de fugir, era pedir por mais privacidade. Não consigo evitar de sorrir com as lembranças de casa.

Casa.

Todas as vezes que entrei em meu apartamento intocado, com todas as coisas no seu devido lugar, eu chorei. Chorei com as memórias de mamãe gritando com meus pais sobre a toalha molhada em cima da cama, as luzes acessas sem necessidade, a louça acumulando na pia, as roupas engraxadas, porque papai gostava de mexer com seus carros antigos.

Ela reclamava até um deles a calar com um beijo, seus olhos os fuzilavam, então ela sorria e esquecia o motivo por ter estado tão brava.

Nessas noites solitárias eu bagunçava o pouco que eu tinha em meu apartamento, só para voltar no outro dia e fingir que alguém havia estado lá.

Comer fazia eu me sentir melhor. Eu passei a gostar mais dos meus dias quando eles tinham um pedaço de algo gorduroso e doce.

Se tornou um hábito: trabalhar, comer dormir.

Trabalhar para poder pagar pelo meu teto, comer para aliviar minha carência, dormir para esquecer que não havia esperança de mudança.

Eu passei a me esconder atrás de roupas mais largas que ganhava de doações, percebi que os garotos não me davam gorjetas como davam para as outras garotas que trabalhavam na lanchonete. Enquanto eles rolavam seus números escritos em papel junto a generosa gorjeta para elas, eu obtinha olhares de repulsa, como se eu fosse algum cachorro de rua.

Isso não me magoava tanto quanto me deixava aliviada em saber que eu não chamava tanto atenção. Eu nunca me senti feia realmente, apenas vi que tinha algo diferente sobre meu sobrepeso por causa do tratamento das pessoas.

O que a garota fez essa noite não é nada novo para mim. Mulheres podem ser tão cruéis e fúteis quanto os homens, ainda mais quando se trata de aparência. Se ela achar que está em uma competição contra você, ela vai achar mais motivos para te diminuir.

Eu não estou magoada pelas coisas que ela fez. Estou magoada porque eles a deixaram se sentar a mesa e destilar seu veneno contra mim. Ninguém a repreendeu, pelo contrário, ela estava sentada no colo de Tristan sendo protegida por braços que eram para ser meus.

RED: uma história de harém reversoWhere stories live. Discover now