Capítulo 36

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                          Thomas

Quando chegamos no acampamento dos soldados de Aravilly, fui diretamente até a tenda do rei e anunciei aquilo que tinha conseguido reunir de informações.

Eles haviam chegado fazia dois dias e levantado o acampamento. Êstevan também estava presente, mas seguindo as ordens do rei, mesmo que a contragosto, ficou em uma parte mais afastada para sua própria segurança, já que era o fururo rei, e lutaria na retaguarda do exército.

— Então tudo acontecerá em menos de cinco dias... — ele suspirou tenso e olhou para mim em expectativa — Acha que Edward seguirá o plano?

Ponderei por alguns instantes antes de responder sua pergunta.

— Para ser sincero, eu não sei — falei e percebi a esperança escapar de seus olhos — Mas algo me diz que no final, ele fará a escolha certa.

— É o que eu espero — declarou o rei claramente inseguro, então voltou a olhar para mim — Mais uma vez você compriu sua missão com êxito, eu agradeço por isso.

— Só estou cumprindo meu dever — respondi e ele me encarou por mais alguns segundos.

— Nós estamos contando que esse seu plano dê certo, mas... O que fará se as coisas não saírem do jeito que espera?

Engoli em seco diante dessa possibilidade, contudo, eu já havia pensado nisso inúmeras vezes.

— Então serei o primeiro a empunhar minha espada para defender o meu povo — declarei seriamente.

— Vamos orar a Deus para que não precisemos chegar a esse ponto.

Depois de sair da tenda, caminhei por entre os soldados cumprimentando a todos com um aceno de cabeça e poucas palavras. Muitos deles eu conhecia, por já ter lutado ao lado deles na primeira guerra, mas também havia rostos novos por ali, garotos que há pouco tempo tinham completado a maioridade.

Por um momento, observei aqueles jovens e me vi refletido em suas faces. Assim como eles, eu também já estive ali, com expectativas de me tornar um grande soldado e voltar para casa trazendo a vitória ao povo. Mas eles ainda não faziam ideia de como era uma verdadeira guerra, os cadáveres de pessoas conhecidas jogados ao chão, corpos dilacerados, membros cortados, feridas abertas, rostos irreconhecíveis...

Lembrei da primeira vez que fui para o campo de batalha. Diante de tanta matança e carnificina, eu paralisei e não consegui sair do lugar. Senti nojo de tudo aquilo, senti ânsia de vômito e mais do que tudo... senti medo de morrer.

Vi o momento exato em que um soldado inimigo olhou para mim e se aproximou rapidamente vindo ao meu encontro, com a espada estendida e um grito de guerra. Ordenei que minhas pernas se movessem, mas elas não me obedeciam e em questão de segundos, vi todas as pessoas que eu amava passarem bem diante dos meus olhos, minha mãe, meu pai, meus amigos do exército, Helena...

Provavelmente eu teria morrido, se não tivesse sido salvo por um outro soldado que interceptou o ataque vindo em minha direção.

— Se mexe, Mitchell! — ele segurou em meus ombros e me sacudiu com fervor — Olha, eu sei que isso é difícil, eu também já passei por isso! Mas cada vez que você hesitar, dará a eles a oportunidade de matar mais um de nós! É isso que você quer?!

— N-não, senhor — respondi tremendo.

— Então lute, garoto! — gritou e então, de repente seus olhos se arregalaram — Cuidado!

Em um movimento rápido ele agarrou meus braços e nos girou trocando de lugar comigo, só quando olhei para ele entendi o porquê, outro inimigo aproveitou que ele estava distraído e o atacou por trás. Ele caiu lentamente bem na minha frente, havia morrido em meu lugar e levou o golpe que era pra mim.

O Amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora