Capítulo 5

37 11 9
                                    

                             

— Thomas...

Na minha frente, estava ninguém mais ninguém menos do que a versão mais velha do Thomas, seus cabelos continuavam tão escuros e sedosos como antes e seus olhos tão verdes como eu lembrava. No entanto, ele havia crescido vários centímetros e algumas mudanças eram evidentes: uma barba rala decorava seu rosto deixando-o ainda mais belo, seus cabelos agora estavam um pouco mais curtos e perfeitamente alinhados. Sem dúvida alguma, ele tinha conseguido a proeza de ficar ainda mais encantador.

Ainda olhando fixo para seu rosto, ergui minha mão trêmula e segurei a sua, ele me ajudou a ficar de pé e com um pouco de dificuldade consegui manter o equilíbrio.

Encarei seus olhos por mais alguns segundos e sem conseguir resistir, enlacei meus braços em sua cintura e o abracei com força.

— Não acredito que você está aqui. Por favor, me diga que isso não é um  sonho... — minha voz saiu embargada, meus olhos estavam lutando para suprimir as lágrimas que ameaçavam descer.

O apertei ainda mais forte, sem me importar com o quão desesperada eu parecia naquele momento. Ele se retraiu com meu toque, mas nada fez para me impedir.

Ele permaneceu rígido por alguns segundos, até que para minha surpresa, se afastou tirando meus braços de si. 

— Perdão, Alteza, acho que você está me confundindo com outra pessoa — disse com uma voz grave.

Olhei para ele sem entender nada, ele estava ali na minha frente. Tinha que ser ele.

— Mas...

— É a primeira vez que a vejo. — me interrompeu sério — E a senhorita não deveria estar andando pelo castelo sozinha, ainda mais à noite.

— Eu... — Minha mente estava uma confusão. — Eu... me perdi.

— Eu a acompanharei até seu quarto então. Por aqui.

Ele começou a caminhar e sem saber o que fazer, o segui pelo corredor. Como isso era possível? Ali ao meu lado estava um homem com as características físicas idênticas às de Thomas.

Nosso curto trajeto se deu em completo silêncio até chegarmos ao meu quarto, onde o mesmo soldado permanecia em seu posto. Caminhei até a porta, mas me virei novamente.

— Eu...

— Entre em seu quarto e não saia mais desacompanhada, por favor — sua expressão firme me fez estremecer.

Eu queria dizer não, queria fazer as muitas perguntas que rondavam minha mente e exigir as respostas, mas ao invés disso, eu simplesmente obedeci e entrei em meu quarto.

Me joguei na cama com mil pensamentos na cabeça, e sem que eu percebesse, muitas lembranças de um passado não tão distante vieram à tona. Mas uma delas fez meu coração apertar, o dia em que minha vida recebeu um experiência que me marcou profundamente.

Eu tinha 7 anos e me encontrava exatamente onde sempre vinha quando queria me esconder de tudo e de todos, no meu bosque favorito.

Estava sentada à sombra de uma frondosa árvore, meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar e eu tentava inutilmente abafar meus soluços para que ninguém me descobrisse.

Ouvi o som de galhos sendo quebrados ali perto, mas não dei importância e continuei em meu estado de aflição.

— Por que está chorando? — Ouvi uma voz em algum lugar ali perto e levantei a cabeça.

Um garoto com mais ou menos a minha idade me encarava com curiosidade, seus cabelos eram escuros e seus olhos eram incrivelmente verdes.

Surpresa e envergonhada por ter sido pega no flagra, rapidamente me pus de pé.

— Q-quem é você? O que está fazendo aqui? — questionei com a voz embargada tentando enxugar as bochechas.

Meu nome é Thomas. Meu pai é o ferreiro do rei e temos uma casa aqui perto, ele veio trazer alguns instrumentos para o exército e aproveitei para explorar aqui. — Deu um passo à frente com cautela. Olhei para ele atentamente, mas não me movi. — Qual é o seu nome?

Helena. — murmurei alto o suficiente para que ele pudesse escutar. 

Seu nome é bonito. — sorriu para mim e um pequeno sorriso escapou de meus lábios sem que eu notasse, ele deu mais alguns passos em minha direção. — Você não devia estar chorando quando tem um sorriso tão bonito.

É que eu não tenho amigos e é muito chato brincar sozinha... — confessei e senti a tristeza voltando ao meu rosto. Meu irmão mais velho não pode brincar comigo, porque tem que treinar e fazer coisas de menino.

Cruzei meus braços e soltei um suspiro com frustração, ele me observou por alguns instantes.

Se você quiser, eu posso ser seu amigo. — ofereceu com um sorriso. — Eu detesto ver mulheres chorando e meu pai me disse que os homens devem tratar as mulheres muito bem e fazê-las felizes, então eu prometo que vou te fazer sorrir muito e ser o melhor amigo que você poderia ter!

Fiquei surpresa com suas palavras e por um momento pensei em sua proposta, mas um riso baixo escapou de meus lábios.

Eu aceito, mas só se você prometer me visitar muitas vezes nesse mesmo lugar, então poderemos ser melhores amigos! — afirmei caminhando pela primeira vez em sua direção.

Tudo bem, eu prometo. — garantiu sorrindo ainda mais.

Agora aperte minha mão. — exigi estendendo minha mão, ele olhou para ela e depois para meu rosto, parecia estar confuso. — É assim que os adultos fazem quando fecham acordos.

Ah. Entendi... — pegou minha mão e deu um leve aperto, mas ele não soltou de imediato. — Uma vez minha mãe me disse que nada acontece em nossas vidas sem a permissão de Deus, então eu vou agradecer todos os dias por nos conhecermos.

Olhei em seus olhos e sorrimos um para o outro, eu sabia que apartir daquele momento, não estaria mais sozinha.

Não, aquele não podia ser o meu Thomas, ele era amável, alegre e acima de tudo, nunca me trataria daquele jeito, enquanto que aquele homem era frio e sério.

Como alguém podia ter a aparência extremamente parecida com uma pessoa, mas com uma personalidade totalmente diferente?

Soltei um grande resfolgo. Thomas estava morto e eu precisava aceitar isso de uma vez por todas. Mas era mais fácil falar do que fazer.

Então, fiz a única coisa que poderia me acalmar naquele momento, me ajoelhei e entreguei toda a minha ansiedade a Deus em uma oração.

                              🍁🍁🍁

No dia seguinte, logo depois de voltar do café da manhã, estava pronta para o meu passeio com o príncipe, que fez questão de lembrar o quanto estava ansioso para esse momento assim que me viu.

Não estava nem um pouco disposta para sair do quarto, ainda mais depois do choque do dia anterior. Poderia muito bem fingir que não estava bem e pedir para descansar o dia inteiro, mas eu precisava distrair minha mente de qualquer jeito.

— Espero que vocês se dêem bem. — Amélia disse enquanto terminava de arrumar meus cabelos.

— Hum... é... — murmurei sem prestar muita atenção.

— Aconteceu alguma coisa? — ela me fitou com uma sobrancelha arqueada e podia ver sua expressão desconfiada através do espelho da penteadeira. — Você está distraída e séria a manhã inteira.

— Está tudo bem, mas eu agradeço pela preocupação. — Levantei bem na hora que ouvimos duas batidas na porta. — Bem, é melhor eu não deixar o príncipe esperando.

Parei antes de sair e respirando fundo, abri a porta encontrando Edward com um sorriso no rosto.

— Olá, Helena.

O Amor PerdidoWhere stories live. Discover now