O Amor Perdido

Capítulo 1

Era incrível como o tempo passava rápido quando meus pensamentos estavam voando à solta dentro de mim. Estava deitada na grama recém-cortada e meu olhar estava fixo nas nuvens brancas que passeavam acima no céu, aquela visão era deslumbrante e tinha um efeito calmante em mim. Um sorriso bobo se formou em meu rosto sem que eu percebesse, e em meu delírio consciente estiquei um braço como se pudesse tocar o céu com meus dedos.

Meu estupor só foi interrompido pela chegada de Amélia, minha dama de companhia. Assim que me viu, soltou um exagerado resfolgo e veio em minha direção com a respiração inconstante e os braços cruzados.

— Sabia que encontraria a senhorita aqui, tive que correr para encontrá-la o mais rápido possível. — disse respirando fundo e se recompondo. — O rei deseja vê-la imediatamente.

— Me perdoe, Amélia. - murmurei enquanto levantava e tirei os resquícios de sujeira de meu vestido azul. — É que é tão difícil parar de olhar para essa obra maravilhosa feita pelas mãos do Criador. — olhei para o céu e ela fez o mesmo com um franzido na testa.

Conhecia Amélia fazia três anos e desde então nos tornamos grandes amigas, na verdade, ela era a única amiga que eu tinha e a presença dela em minha vida me ajudou grandemente em meus momentos de angústia, principalmente depois de tudo o que aconteceu.

— Sim, eu concordo, Deus é realmente perfeito em tudo o que faz. — falou e me encarou séria. — Mas você precisa se apressar, pela expressão no rosto de seu pai, parece que o assunto é importante.

— Muito bem, onde ele está? — perguntei ficando preocupada. Minha presença sendo requisitada tão repentinamente pelo próprio rei, não podia ser por nada.

— Na sala do trono.

Assenti e caminhei em direção ao castelo. Enquanto atravessava os enormes corredores, tentei imaginar qual seria o motivo para tal reunião. Me surpreendi ao ver meu irmão mais velho parado na frente das duas grandes portas que nos separavam da sala do trono, então andei mais rápido até parar ao seu lado.

— Êstevan, você sabe o porquê de nosso pai me chamar? — fui direto ao ponto.

— Na verdade, ele também me chamou e sei tanto quanto você. — deu de ombros.

Êstevan era mais velho do que eu alguns anos, e portanto, herdeiro e futuro rei de Aravilly. Eu não tinha nada contra isso, afinal, não queria ter a responsabilidade de ser rainha e muito menos me preocupar em ter um companheiro para governar o reino. Sinceramente, tudo o que eu queria, era viver minha vida de forma despreocupada e tranquila, ajudar meu irmão no que fosse possível e talvez ser uma de suas conselheiras.

Sabia que meu irmão me ouviria, já que sempre tivemos uma boa relação e era a mim que ele procurava quando precisava de conselhos.

— Acha que é algo sério? — perguntei temerosa, um dos meus piores defeitos era ser ansiosa demais, o que me fazia sofrer por antecipação.

— Bem, só há um jeito de descobrir. — ele fez um sinal para que eu entrasse e depois de um longo suspiro, abri uma das portas e adentrei o local.

Lá estava ele, sentado em seu trono ao lado de minha mãe, a rainha, com toda a sua autoridade e poder. Dei alguns passos hesitantes à frente e Êstevan veio logo atrás. Essa era uma das maiores salas do castelo, nas paredes as vidraças eram tão altas que quase chegavam ao teto, no chão um tapete vermelho se estendia de uma ponta à outra, havia apenas um lustre enorme no centro que iluminava toda a sala e no fundo estavam os tronos, dois maiores para o rei e a rainha, e dois mais ao lado para nós, príncipe e princesa do reino.

— Mandou nos chamar, meu pai? — questionei tentando controlar meu nervosismo.

— Sim, preciso tratar de alguns assuntos com vocês. — Como dito por Amélia, seu rosto estava sério, mas também pude sentir uma certa tensão em sua postura rígida. — Antes de tudo, preciso perguntar algo aos dois. — Seu olhar oscilou entre mim e meu irmão, mas no fim ele me encarou com um pouco mais de intensidade. — Vocês estariam dispostos a fazerem qualquer coisa pelo bem do reino?