𝑹𝒆𝒏𝒂𝒔𝒄𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒅𝒂𝒔 𝑪𝒊𝒏𝒛𝒂𝒔

Capítulo 8

Seja lá qual for o oposto de bem, é exatamente assim que estou me sentindo.
A Esperança, página 165

Quando acordo, sinto minha cabeça dilatar de dor. Olho ao redor. Estou em um pequeno quarto exageradamente decorado como uma casa de bonecas, coberto em tons pastéis. Como foi que eu cheguei aqui? A última coisa que me lembro é estar vomitando naquele banheiro. Levanto-me lentamente, sentindo minha cabeça dilatar ainda mais. É por isso que eu evito beber.

Percebo que estou vestindo apenas minha roupa íntima e não encontro nenhuma outra peça de roupa no quarto. Vou até a janela e abro a cortina, mas a claridade me provoca uma dor insuportável.

— Se eu fosse você eu fecharia isso — a voz de Peeta irrompe pelo quarto, acompanhada pelo som da tranca da porta. Ele tem uma muda de roupa em uma das mãos e uma xícara na outra.— Como você está?
— Sentindo-me como uma merda.
— É, faz parte — ele ri. — Trouxe roupas limpas. E café. Ajuda com a ressaca — agradeço-o silenciosamente e pego a xícara.
— Eu... não me lembro muito bem do que aconteceu ontem. E de como vim parar aqui — sinto uma pontinha de culpa por ter exagerado na bebida. Eu não deveria ter perdido tanto o controle dessa forma. Sento-me na cama.
— Do que você se lembra? — ele diz, sentando-se ao meu lado.
— De conversar com Gale... aí você chegou, falamos com Haymitch e Effie e depois ficamos a sós. Lembro vagamente das coisas que aconteceram, mas não lembro dos detalhes.

Então ele me conta todas as coisas que eu fiz, até o momento em que me senti mal e vomitei. Faço uma pausa para tentar encaixar os fatos. Realmente, lembro-me de ter feito as pazes com Gale e de estar brava com Peeta... foi por isso que o levei até aquele banheiro, para me desculpar. Rio ao lembrar da expressão de susto e surpresa no rosto do meu marido.

— E onde estamos? Por quanto tempo eu apaguei?
— Estamos no quarto onde Effie se preparou. Você dormiu por umas duas horas, mais ou menos. As crianças estão com sua mãe.
— Peeta... me desculpe. Não era a minha intenção beber tanto, eu nem percebi. E não sei exatamente o que foi que te falei ontem, mas me desculpe também.
— Está tudo bem, meu amor. Eu vou sempre cuidar de você, mesmo que você diga que eu não preciso.
— Eu o que? Eu falei isso?
— Com todas as letras. Mas depois você me beijou como não houvesse amanhã — ele sorri. — Confesso que adorei a Katniss bêbada.
— E Gale?
— Ah, o seu amigo está bem. Então vocês se acertaram mesmo? — percebo o desprezo em sua voz.
— Peeta... nada de ciúmes. Não sinto absolutamente nada por ele. E o sentimento é mútuo. Quantas vezes terei que dizer que quem eu amo é você?
— Acho que um milhão de vezes já está bom. E pode acrescentar: "sou louca por você" — reviro os olhos.
— Sou louca por você.
— Agora sim — ele me dá um rápido selinho. — Agora é melhor você se vestir, logo as crianças começarão a achar estranho o seu sumiço. Como vai com a dor de cabeça?
— Suportável, digamos. Eu nunca mais vou beber de novo!
— Ah, eu me diverti muito. Gostaria de poder repetir algum dia, especialmente a parte em que ficamos a sós.
— Peeta!

A viagem de retorno ao Distrito 12 não é animada como a ida, considerando que Effie e Haymitch não estão presentes pois seguiram diretamente ao Distrito 4 para a lua de mel, e o resto dos convidados ou está muito cansado ou de ressaca - inclusive eu. Minha mãe desembarca no Distrito 11 com a promessa de que muito em breve virá nos visitar. Johanna fica no 11, Beetee no 3, Annie e seu filho no 7. Nos despedimos rapidamente, certos de que muito em breve nos veremos em alguma reunião. Gale e Cressida seguem conosco para o 12, para passar um pouco de tempo com sua família.

Pouco a pouco, retomamos a amizade que tínhamos antes. Compartilhamos muitas tardes sozinhos caçando na floresta, e também muitos momentos junto à Peeta e Cressida, jantando ou fazendo algo especial. Meus pesadelos e flashbacks desaparecem quase que completamente, graças a um remédio enviado pela minha mãe que não me causa os mesmos efeitos estranhos que o anterior causava.