Capítulo 2

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"Seguro as mãos dele com tanta força que chega a doer.
— Fique comigo.
As pupilas dele se contraem até virarem pontinhos pretos, dilatam-se novamente com rapidez e então retornam a algo que parece um estado de normalidade.
— Sempre. — Murmura ele."
A Esperança, página 338

Olho para Peeta, para me certificar de que ele também viu a cena. Sua expressão é de preocupação. O que será que pode ter acontecido, faltando assim tão pouco tempo para o casamento? Haymitch parecia ótimo e extremamente feliz essa manhã. Espero de verdade que não seja algo sério. Mas, levando em consideração os gritos e a maneira com que Effie saiu da casa dele... não sei o que pensar.  Será que eu deveria ir falar com ela? Não quero ser invasiva, intrometendo-me em seja lá o que tenha acontecido para causá-la essa reação, mas ao mesmo tempo me sentiria péssima se não tentasse ajudar uma amiga querida. Percebendo o conflito em meus pensamentos, Peeta diz:

— Talvez você devesse ir falar com ela, Katniss.
— Sim, acho que você tem razão —  respiro fundo. Seja lá o que tenha acontecido, me preocupa. — Vejo vocês em um minuto.

Sigo em direção à Effie, enquanto minha família vai para nossa casa. Encontro-a sentada em um dos bancos, quase escondida pelas árvores. Em contraste à primeira vez que a conheci, quando não parecia nada além de uma fútil aberração da Capital, com todas aquelas cores e feições exageradas, hoje ela parece mais real, mais humana. Seus cabelos louros brilham à luz do sol e seu vestido roxo vibrante destaca ainda mais a sua pele branca – porque apesar de a moda horrenda da Capital não existir mais, Effie continua sendo Effie, e não poderia deixar de usar cores extremamente fortes e vibrantes. Ela esconde o rosto entre os joelhos encolhidos e chora, copiosamente.

— Effie, está tudo bem? — sentando-me ao seu lado, abraço-a. Um longo silêncio se segue, como se ela estivesse tentando se recompor. Aguardo pacientemente, acariciando seus ombros.
— Ah, Katniss... — ela diz, levantando a cabeça. Percebo que não há nenhum traço de maquiagem em seu rosto, e a tristeza refletida em seus olhos é evidente. — É Haymitch... Eu desisto! Desisto de tentar acabar com aquele vício em álcool dele.
— O que aconteceu? Eu pensei que ele estivesse melhor em relação à isso.
— Eu pensei o mesmo, mas aparentemente não... Você sabe que estamos juntos há muito tempo. E eu o amo mais do que tudo nesse mundo, mas não sei se ele sente o mesmo. Mesmo depois de anos, ele nunca sequer mencionou a palavra 'casamento', a ideia nunca passou pela cabeça dele. Então comecei a questionar seus sentimentos por mim. E sempre que ele se sentia sobre pressão, enchia a cara até ficar insuportável, vomitar e, no dia seguinte, depois de eu ter cuidado de toda a bagunça, ele não se lembrava de nada. Não reconhecia o meu esforço e dedicação. Até que um dia ameacei ir embora e ele, por medo de me perder, pediu-me em casamento. E por mais que casar-me com Haymitch fosse a coisa que eu mais queria em todo o mundo, aceitei apenas sob uma condição: que ele parasse de beber — ela faz uma pausa, recompondo-se. — De verdade, pensei que essa promessa não duraria nem uma semana, pois o conheço há muitos e muitos anos e desde o primeiro momento em que o vi, ele estava com uma garrafa de bebida na mão. Mas ele parecia cumprir a promessa religiosamente, até hoje...
— Mas, Effie... Quando eu e Peeta o vimos esta manhã, ele parecia muito sóbrio e feliz.
— Sim, sim. O problema começou mais tarde. Ele foi me buscar na estação com flores, me recebeu com muitos beijos, voltamos para casa de mãos dadas, sorrindo, estava tudo bem. Até que comecei a falar sobre o quão importante é o casamento, sobre minha vontade de ter filhos em breve, porque eu não sou mais tão jovem e já não tenho tanto tempo para esperar. Percebi que ele ficou mais silencioso, mais tenso. Mudei então rapidamente de assunto, mas acho que foi tarde demais. Ele desapareceu no sótão, dizendo que tinha algo para arrumar lá. Algum tempo depois, estranhando o silêncio, fui até lá e encontrei um estoque de garrafas de bebida, a maioria já vazia. Foi o esconderijo perfeito, já que eu nunca subo lá porque sempre tem muitas aranhas. Será que ele esteve bebendo esse tempo todo, escondido de mim? Isso por si só já seria completamente deplorável, mas além disso, quando ele me viu começou a gritar diversas obscenidades e me mandou ir embora. Não cedi e mandei ele sair de lá. Muito contrariado e zangado, ele desceu as escadas e logo vomitou no chão e desmaiou em cima... — sua voz falha.
— Oh, Effie... — acaricio seus ombros. Que droga, eu não sou Peeta. Não sou boa com palavras. O que Peeta diria, se estivesse em meu lugar? Digo a primeira coisa que me vêm a mente e que parece ser a mais natural. — E vocês conversaram depois disso?
— E como poderíamos, considerando o estado dele? A vontade que eu tive naquele momento foi de largar ele ali e ir embora, mas eu ainda o amo, apesar de tudo... então o arrastei até debaixo do chuveiro para tentar tirar aquela nojeira dele, mas ele acordou e disse para eu ir embora e que o pedido de casamento foi um erro. Ele não pode... — lágrimas começam a cair com cada vez mais intensidade de seus olhos. Neste momento, só o que consigo sentir é raiva de Haymitch, mas não posso fazer isso transparecer a Effie.
— O que ele fez foi terrível, mas seria bom se vocês conversassem. Eu esperaria a ressaca passar e conversaria com ele. Tenho certeza que ele só disse aquilo porque estava bêbado. Ele te ama mais do que tudo, Effie.
— Eu sei, mas eu não vou suportar que ele beba todas as vezes em que ficar nervoso, lance obscenidades para mim e aja daquela maneira tão deplorável quando nos casarmos! Sem mencionar o fato de que mentiu para mim todos esses meses ao prometer que não beberia enquanto estava com um estoque de álcool no sotão! Eu me sinto traída!
— Eu te entendo. Mas acho que você não deveria desistir dele e da história tão bonita que vocês têm sem antes ter uma conversa séria. Não o estou defendendo, mas alcoolismo é uma doença. Ele precisa se tratar e não é de agora.
— Sim, eu sei... Estou em pedaços, Katniss — ela me olha, ferida. Como não sei mas o que lhe dizer, apenas a abraço e permito-a que chore. E ficamos ali por alguns minutos, até que a voz de Haymitch irrompe atrás de nós.
— Effie, querida? Podemos conversar?

Lanço um olhar feroz a ele. Sinto raiva por ter feito mal a uma pessoa tão querida e tão frágil... mas ao mesmo tempo, compreendo Haymitch. Pois melhor do que ninguém, entendo que ele possui traumas e pesadelos com os quais deve conviver todos os dias, e ele encontrou na bebida um refúgio. Assim como eu encontrei na floresta e em meu arco. Porém, já está mais do que na hora de acabar com isso. Quando ele se aproxima de nós, percebo que teve a decência de se arrumar e remover todo o cheiro pútrido de álcool de seu corpo e hálito. Ele parece estar sóbrio.

— Acho que sim — Effie responde, recompondo-se. Sua voz treme, como se ela estivesse prestes a desatar em lágrimas mais uma vez, mas não cede.
— Vou deixar vocês a sós.

Levanto-me e sigo em direção à minha casa, não sem antes lançar um último olhar a Haymitch, transmitindo silenciosamente tudo o que desejo lhe dizer. Que ele não pode pisar na bola de novo. Que ele não pode magoar Effie novamente. Que ela não merece passar por tudo isso. E, por sorte, somos muito parecidos nesse quesito e ele parece me entender completamente.

Quando chego em casa as crianças estão no sofá, adormecidas. Beijo a testa de cada um e subo para o quarto. Encontro Peeta penteando os cabelos molhados no espelho, de costas. Ele está sem camisa, deve ter acabado de sair do banho. Me aproximo e passo meus braços por seus ombros. Seu corpo exala um agradável e sexy aroma de perfume masculino amadeirado. Ele vira o rosto e me beija.

— Oi, Katniss. Como foi lá?
Então resumo a história para Peeta, até a parte em que Haymitch chegou. Ele parece incrédulo.
— Bom, espero que eles consigam se entender — ele diz, sentando-se na cama e puxando-me junto consigo. Me aninho em seu corpo.
— Eu também... Haymitch se tornou uma pessoa melhor depois que começou a sair com Effie, e ela está mais feliz do que nunca. Mas será que esse seu problema com a bebida vai realmente acabar?
— Eu acho que sim. Eu acho que assim que se casarem, Haymitch vai esquecer a bebida.
— Como assim? — pergunto, sem entender. Como um casamento pode fazer ele parar de beber? Não seria o contrário, ele começaria a beber ainda mais por se sentir sob pressão?
— Ele terá Effie e ela o fará esquecer de todos os seus problemas. Com ela a seu lado, ele não terá mais com o que se preocupar. Ele saberá que ela está segura com ele, protegida por ele e é isso o que importa de verdade. Além disso, ele se manterá sobrio por amor a ela.
— Ah é?
— É. Foi assim que me senti quando nos casamos. Nada mais me importava, além de te ter comigo e saber que ninguém nunca mais nos separaria — apesar de estar adorando ouvir o que ele tem a dizer, não consigo resistir à tentação e agarro seus cabelos, beijando-o da mesma forma que fiz há muito tempo atrás, quando finalmente percebi que o que eu mais queria era poder sentir aqueles lábios nos meus para sempre. Peeta retribui o beijo, percorrendo suas mãos pela minha cintura e puxando-me para perto de si. Não é um beijo terno e suave, como geralmente nossos beijos costumam ser. É feroz, ansioso, como se buscássemos desesperadamente a presença um do outro.
— Eu te amo, garoto com o pão. Eu sempre vou te amar — digo, ofegante, perdendo-me em seus olhos azuis.
— Eu também te amo, garota em chamas. Pra sempre.

Sinto as mãos de Peeta abaixando o zíper do meu vestido e em um segundo não estou vestindo nada além de minha roupa íntima. Como em uma dança de beijos e amassos, nos movemos na cama até que Peeta esteja sobre mim, seus joelhos servindo de amparo para o meu corpo. Quase não se nota sua perna artificial. Ele começa a beijar meu pescoço, desce para os ombros, percorre o meu peito, até chegar em meus seios. Sinto arrepios e não quero que ele pare. Ele enfia as mãos por trás de minhas costas até alcançar a alça do sutiã, com muita facilidade e sem nenhuma objeção da minha parte, ele o remove. Suas mãos e lábios percorrem todo o meu corpo, deixando-me em êxtase. Sinto como se estivesse prestes a alçar voo, anseio por mais e mais. Mas então o som da campainha me traz de volta ao mundo real.

𝑹𝒆𝒏𝒂𝒔𝒄𝒆𝒏𝒅𝒐 𝒅𝒂𝒔 𝑪𝒊𝒏𝒛𝒂𝒔Onde as histórias ganham vida. Descobre agora