Capítulo 12: Eu Me Lembro - Clarice Falcão

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 – Por volta do terceiro ano do ensino médio eu apresentei o Newt para a Anathema, e por um bom tempo eles permaneceram amigos. – Crowley continuou sua história – Na verdade, eu não me lembro exatamente quando ou como eles começaram a namorar, apenas aconteceu. Acho que para mim essa é a coisa mais linda do relacionamento dos dois: o carinho que eles já nutriam um pelo outro continuou, e o namoro floresceu de uma maneira tão natural que é difícil dizer quando foi. Não é como se a amizade tivesse terminado para o namoro acontecer, entende? A amizade deles permanece intacta, eles ainda são amigos, mas também são noivos. A amizade deles é a raiz de todo o relacionamento, e eles têm uma raiz muito forte. Assim como o namoro foi, o noivado é e o casamento será. Tudo isso para dizer que não, Anathema não é minha namorada. – Ele riu.

A alegria de Crowley ao falar dos amigos é contagiante, e Aziraphale não consegue conter seu sorriso ao escutar o vizinho feliz daquela maneira. Ele sempre se alegrou com a felicidade alheia, era uma coisa inata dele, mas dessa vez era diferente. Era como se os dois compartilhassem da mesma alegria. Como se o que eles sentissem fosse uma única coisa, amalgamada entre eles.

Era bom conhecer um lado novo de Crowley. Um lado engraçado, cativante e... agradável. Ele não achava que tinha julgado mal o vizinho – com as informações que tinham sido dadas para ele na primeira vez que se viram, não havia outra opinião que poderia ter sido formada além daquela. Mas agora, com uma visão diferente, ele sabia que Crowley era no fundo (bem, bem no fundo) uma pessoa muito agradável.

Ao mesmo tempo que sentia alegria ao compartilhar aquele momento com o vizinho, Aziraphale não conseguia deixar de notar a pequena pontada de tristeza que se instaurou em sua mente, por saber que não conhecia um amor tão verdadeiro quanto o que os três amigos compartilhavam, e por saber que talvez nunca viesse a conhecer. Ele sabia que muitas pessoas gostavam dele, e ele mesmo se considerava uma pessoa agradável, mas ser amado era muito diferente de ser gostado, e ser amável era muito diferente de ser gostável.

Sempre tivera facilidade em conversar com desconhecidos, em transformar completos estranhos em colegas ou conhecidos, mas nunca conseguira passar disso. As conversas amigáveis no elevador nunca deixavam de ser conversas amigáveis no elevador, e nunca evoluíam para amizade. Ele sabia que não conhecia ninguém tão bem quanto Anathema, Crowley e Newt se conheciam (afinal, era uma amizade de décadas), e sabia também que nunca usaria uma camiseta com erros de digitação por alguém como a que os três usavam na foto do porta-retrato. Também sabia que ninguém faria isso por ele.

Era um sentimento egoísta se sentir sozinho ao ouvir uma das histórias de amizade mais bonitas que ele já tinha ouvido. Aziraphale se sentia verdadeiramente feliz em saber que Crowley tinha pessoas tão importantes em sua vida, mas isso não anulava a tristeza em saber que ele nunca experienciou algo minimamente parecido. Ele não sentia inveja da amizade dos três, apenas... uma rápida onda de tristeza ao refletir sobre sua própria vida.

– Eu acho que vocês três se dariam muito bem. – Crowley olhou para a foto e em seguida de relance para Aziraphale, quebrando o silêncio. – Você, Newt e Anathema, no caso. Os dois tomaram seu partido bem rápido.

– Você contou para eles? Até mesmo a parte em que eu te arrastei para conversar com o síndico? – Aziraphale levantou as sobrancelhas, sentindo suas bochechas naturalmente rosadas ficarem um tom mais escuro de vermelho.

– É claro que sim! Eu contei todas as partes, o que me gera algumas horas de sermão e a promessa de um código penal de presente de aniversário esse ano, para que eu saiba o que não fazer na próxima vez. Mas acho que acaba sendo uma faca de dois gumes, porque também me dará mais ideias para o que fazer em seguida. – Embora Crowley tenha mantido uma expressão séria enquanto falava, Aziraphale preferiu levar como uma brincadeira. Estava aos poucos se acostumando com o humor peculiar do vizinho.

Good Omens - Entre Tapas e Beijos (Ineffable Husbands)Where stories live. Discover now