Capítulo 8: Deus e o Diabo - Titãs

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 – Foi... interessante – Crowley desviou o olhar do celular.

– Foi um desastre. – Anathema tinha um semblante sério em seu rosto.

– Foi um desastre, Anathema. – Saindo do frame do celular, Crowley se deitou no chão. – Imagine ter que bater na porta de Gabriel, de todas as pessoas no prédio, no mundo... De todas as pessoas no universo, ter que encontrar Gabriel às cinco e pouco da manhã!

– Eu na verdade prefiro não imaginar. – Anathema fingiu um calafrio – Mas é bom saber que ele tem melhorado desde o casamento, não é? Os dois fazem bem um ao outro, acho que isso é o que importa.

– Sim, eu sei... Só é meio estranho. Você não acha um pouco estranho?

– Estranho não é a palavra, só foi um pouco... inesperado. Quando eu e Newt morávamos aí nós chegamos a levantar a hipótese de Gabriel e Beelzebub estarem juntos, mas nada muito além disso.

– Vocês nunca moraram aqui, Anathema. – Crowley, ainda deitado no chão, apoiou as pernas no sofá, deixando apenas seus pés na visão da amiga.

– Como você ousa dizer uma coisa dessas... Nós tecnicamente moramos aí. Nós tecnicamente dividimos um apartamento com você.

– Vocês passaram um final de semana aqui quando o apartamento de vocês alagou, isso não é tecnicamente morar. Se for, vocês me devem dois dias de aluguel desde 2012. – Crowley riu.

– Ok, você venceu. – Anathema revirou os olhos. – Voltando para o elefante na sala.

– Certo, é verdade. Gabriel ainda teve a coragem – Ele se levantou subitamente do chão, agarrando o celular – De me perguntar como ia a floricultura. Ia muito bem doze anos atrás, foi muito mal nove anos atrás e tem permanecido bem morta nos últimos anos, uma pena que você esteja quase uma década atrasado na pergunta, Gabriel. – Suas bochechas estavam quase tão vermelhas quanto o cabelo.

– Não sei... – Crowley continuou. – Fazia tempo que eu não pensava sobre a floricultura, e as coisas na boate não tem sido ruins, eu só... sinto falta de fazer algo que realmente me traga alegria, talvez. Não deu certo, e eu acho que tudo bem, eu não quero continuar insistindo no erro, sabe? Só não é uma sensação muito bacana saber que a primeira coisa que uma das pessoas que você menos gosta na Terra pensa ao olhar para você é um de seus fracassos. Um fracasso que você queria muito que tivesse sido um sucesso. – Ele sorriu fraco para a câmera.

Os dois amigos trocaram olhares silenciosos. Muito diferentemente dos silêncios que Crowley havia compartilhado com Aziraphale apenas algumas horas antes, o silêncio compartilhado com Anathema sempre foi um silêncio reconfortante – não o tipo de silêncio constrangedor em que você não tem nada para dizer ou simplesmente não quer dizer, mas sim o tipo de silêncio em que tudo que poderia ser dito já é sabido por todas as partes.

Anathema poderia ter dito mil palavras, mas não precisava, pois Crowley já sabia todas, e sabia exatamente o que o silêncio da amiga significava. É muito difícil conseguir dizer tudo o que você gostaria de falar apenas com um olhar, e é mais difícil ainda encontrar uma pessoa que entenda perfeitamente o que seu olhar está dizendo. Os dois sabiam disso muito bem, assim como sabiam a sorte que tinham em ter um ao outro.

– E sobre seu companheiro? – Anathema sorriu sarcasticamente, tentando alegrar a conversa.

– Se eu tivesse uma moeda para cada pessoa levemente desequilibrada que insinuou hoje uma relação entre eu e ele – Crowley apontou para o teto, indicando Aziraphale (ou ao menos onde o apartamento de Aziraphale estava localizado) – Eu teria duas moedas, o que na verdade é relativamente pouco, mas é bem bizarro que tenha acontecido duas vezes.

Good Omens - Entre Tapas e Beijos (Ineffable Husbands)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora