Capítulo 35

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Malu desligou o telefone com Kate se sentindo bastante intrigada. A princípio, não deu tanta atenção para o fato de Jackie não ter notícias da Sabine porque elas não tinham lá um grande relacionamento, algo a ver com todas as vezes que a amiga teve de tirar a filha da delegacia. E tudo bem que Sabine houvesse saído de Londres sem nem se despedir da sua maravilhosa madrinha, pois sempre foi meio metida a espírito livre. Só que todo o auê que estavam fazendo em torno disso começou a deixá-la inquieta. Colocou de lado seu prato de queijos e resolveu falar com Jackie novamente.

-Ah, eu estou tão nervosa – Foi assim que Jackie atendeu o telefone.

-E você nunca fica nervosa.

-Eu sei! Seus filhos têm notícias?

Não, ela havia acabado de falar com o Tommy. Aliás, ela havia acabado de falar com a própria Jackie. Mas haviam sido dois telefonemas tão rápidos e sem detalhes que não era de se esperar que qualquer um dos dois surtisse efeito. Culpada por ser uma péssima amiga, e justo para a Jackie, uma das pessoas mais bondosas, generosas e leais que ela já conheceu, resolveu perguntar detalhes:

-Ainda não sei de nada, mas liguei para você me contar essa história direito. De repente ajuda. Eu falei com a Kate e ela deu a entender que estava rolando alguma coisa entre a Sabine e o filho mais velho dela, o Oyekunle. Você estava sabendo?

-Não sei nada, Malu. Nada – Jackie disse, arrasada. – A Sabine só liga para mim quando precisa ser tirada da delegacia. Aí eu sou chère maman para cima e para baixo. Quando tudo está bem, ela não aparece. Não sei nem seu endereço, acredita? No máximo, o número de telefone, mas ela não responde o dela há muito tempo. Da última vez, quando ela aprontou o rolo com os cartões de crédito, o advogado que eu e Luc arrumamos fez um verdadeiro milagre para ela passar como inocente útil em um esquema maior e ter uma pena levíssima. Ela agradeceu e tornou a sumir. Eu não entendo. Demos tanto amor àquela menina! Temos princípios, e passamos para ela, mas ela só vê dinheiro. E até isso nós temos também, mas, para a Sabine, nada é o bastante. Aí, assistindo ao noticiário, fiquei sabendo sobre o julgamento do Bernard Roche. Já ouviu falar?

Como sempre acontecia em ocasiões que as pessoas citavam nomes que ela nunca escutara antes, foi se sentindo a maior ignorante do planeta que Malu respondeu:

-Hum... não. Quem é?

-Um homem perigosíssimo, Malu. Perigosíssimo! Um criminoso procurado... Se condenado, é capaz de pegar umas cinco prisões perpétuas seguidas.

-É? – Ela falou, impressionada. – E o que isso tem a ver com a Sabine?

-Foi quando eu entrei em pânico. Em uma das fotos do noticiário, ele está com ela. Ele era namorado dela, Malu! Ou é, eu não sei! – A sempre calma Jackie praticamente guinchou. – Aquela menina inconsequente e interesseira, que só quer saber de dinheiro fácil, resolveu namorar um criminoso! E se aconteceu alguma coisa com ela? E se ele fez alguma coisa?

-Calma! – Malu falou, sentindo uma nota de pânico. – Ele está preso e ela estava aqui. Com certeza não aconteceu nada.

-O crime tem inúmeras pessoas e braços em vários países! E se ela foi queima de arquiv... – A voz de Jackie quebrou em um soluço.

-Jackie – Malu engoliu em seco. – Acho que você precisa procurar a polícia.

-Eu já fui. Eu e Luc. Eles estão investigando, mas isso não é uma coisa que acalma a gente, né? Até porque pode não dar em nada.

Malu teve a horrorosa visão, baseada em sua histeria ou em algum filme que assistiu, de bandidos cortando um inimigo em pedacinhos e dando de comida para os peixes. Nunca encontrariam a Sabine se tivessem feito o mesmo com ela.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Where stories live. Discover now