Capítulo 11

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-A Rosie?! - George se sentou. Ele estivera estirado nas almofadas de um dos quartos da casa da avó, as mãos entrelaçadas atrás da cabeça, despreocupado. Mas, ao ouvir as últimas notícias, levou um susto e ergueu o corpo.

-Ela é boa – Les Paul justificou. - Gosta do mesmo som que a gente. Conhece o meu pai – Acrescentou, como se fosse um dado importante no currículo da menina.

-Mas é uma garota – George falou, incrédulo.

-O que tem?

-É a minha garota. Sabe o que acontece quando se mistura vida pessoal e vida profissional?

Les Paul não achava que Rosie se encaixava na vida pessoal de George e nem que a banda (já) fosse parte da sua vida profissional. Ambas eram incipientes demais para qualquer coisa. Rosie havia sido trocada por cocaína e a banda por uma ressaca.

-Você disse que confiava em mim pra escolher. E não é como se tivesse muita escolha mesmo.

-Não entendo – Ele ergueu os ombros. – Os cartazes ficaram um tempão no mural.

Les Paul também não entendia. Talvez nem tudo que envolvesse o George fosse fácil e mágico como ele acreditava. Quando abriu a boca, falou do mesmo assunto, mas de uma outra questão:

-Eu tentei reservar a sala de música para a gente tocar todo mundo, mas ela está tomada essa semana inteira. A gente não pode usar o estúdio do apartamento do seu avô? Aqui é muito longe.

-Não, meu avô está de mudança. Vai morar na Ella enquanto o apartamento novo não fica pronto – George disse, distraído, e então teve uma ideia: - Não tem um estúdio na sua casa também? Não pode ser lá?

-Pode – Les Paul concordou, sem se alegrar inteiramente com a ideia. - Vou ver um dia que a minha mãe vai sair de casa.

George riu. Sempre acreditou que sua família não batesse muito bem, mas a Alex era um caso à parte. O problema para eles é que ela era escritora e trabalhava de casa, estando sempre disponível para fazê-los passar vergonha.

-Ela não está em uma companhia de teatro? - George perguntou. Ele se lembrava de ter ouvido aquele assunto em um dos domingos, nos almoços na casa da avó.

-Isso! - Les Paul concordou, empolgado. - Dá para a gente marcar na quarta-feira. Vou falar com a Rosie.

-Deixa que eu falo com ela. Você chama a Megan – George deu um sorriso torto e se levantou das almofadas no chã. - Vou fumar um beck lá no campinho com o pessoal da rua, pra abrir o apetite. Quer vir?

Les Paul ficou tão estarrecido que por pouco não encontrou a voz para dizer:

-A Jo tá aí. Seus avós. Todo mundo aí.

George pegou a mochila e a abriu, satisfeito:

-Perfume, colírio, óculos escuros, está tudo coberto.

-George, você não acha que eles vão perceber? Sua avó devia usar todos esses truques muito antes da gente nascer.

-Não vão, não é a primeira vez que eu faço isso. Relaxa. Já que você não vai, vai vendo com o tio Mick se a gente pode usar o estúdio na quarta.

Les Paul viu George sair do quarto sabendo que devia dizer alguma coisa, impedir o amigo de alguma forma, mas sem ter ideia como. Às vezes achava que era uma questão de tempo, que George ia perceber sozinho o tamanho da babaquice. Como na vez em que ele, Les Paul, experimentara cigarro. Fumara escondido por três dias até admitir que aquilo era fedorento e lhe provocava tanto prazer quanto uma crise de tosse. Mas era verdade que o cigarro não o fizera invadir festas e beijar cinco em uma noite.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Where stories live. Discover now