Capítulo 3

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-Lil, coloque-a na puta que pariu, mas eu a quero fora da minha casa – Oyekunle esbravejou ao telefone.

-Credo, que agressividade – A amiga respondeu, ressentida.

-Eu estou desde ontem tentando explicar pra Cassie por que uma chinesa com duas malas se enfiou no nosso jantar, e mais ainda, que eu não tenho nada com ela! Era para ser um favor, não para ela virar minha colega de apartamento!

-Mas eu não tenho onde enfiá-la, Oyekunle!

-Você conhece uma porrada de gente!

-Ninguém com espaço.

-Eu não tenho espaço!

Após alguns segundos, Lily falou:

-Olha, eu posso dar um passeio com a Sabine pra você dar umazinha com a Doida da Floresta.

-Eu não quero que a Sabine dê um passeio. Eu a quero fora da minha vida – Oyekunle ainda não conseguia se lembrar como ela havia entrado, para início de conversa.

-Me dê alguns dias.

-A Cassie não vai me dar alguns dias.

-Pensei que o "doida" da Doida da Floresta fosse só força de expressão. Ela é psicopata, é? – Lily riu.

-Lily... – Oyekunle falou, em tom de ameaça. – Dê um jeito nisso ou vou ligar pra Sinead.

-Não, não a enfie no apartamento da Sinead. É desumano.

-Você enfiou seu irmão lá.

-Mas eu sou o demônio, você é bonzinho.

-É verdade.

Lily pensou mais um pouco e finalmente disse:

-Me deixe conversar com ela. Vamos chegar a uma solução.

-Hoje. Chegue a uma solução hoje.

Oyekunle desligou o telefone e ficou dando passadas pelo quarto, o trabalho interrompido, ouvindo Sabine cantarolar do lado de fora e se irritando mais a cada minuto. Que espécie de pessoa simplesmente aparecia na casa de alguém que ela mal conhecia com duas malas, sem dar previsão de saída, e ficava cantando como se nem fosse com ela? E que espécie de frouxo era ele, que deixava e esperava a louca da amiga que enfiou Sabine lá dentro, para início de conversa, fazer alguma coisa? Ele ia resolver o assunto agora, nem que fosse mesmo despachá-la para o quarto minúsculo da Sinead. Decidindo que não conseguiria trabalhar enquanto não desse um rumo na Sabine, abriu a porta.

A primeira coisa que percebeu foi um delicioso cheiro de assado. Em seguida, viu que a sala não estava a confusão de costume.

-Olá, Oyê Kunlê! – Sabine sorriu de camiseta e calça de moletom, uma tiara de couro Jennifer Behr (mas que uma simples tiara era de grife e custava o seu aluguel, ele não tinha como saber) tirando seus cabelos do rosto e uma vassoura na mão. – Dei um jeitinho na casa para agradecer a hospedagem e fiz uma comidinha.

-Eh – Foi tudo o que ele conseguiu dizer, completamente esvaziado de revolta.

-Sente-se! Já coloquei a mesa.

Oyekunle sentou-se, um pouco robótico. Sabine trouxe um prato para ele e outro para ela e ficaram um de frente para o outro.

-Bon apetit! – Ela disse, empolgada. O cheiro era mesmo maravilhoso. Oyekunle se perguntou como ela podia ser tão sofisticada e, ao mesmo tempo, pegar em uma vassoura e fazer um assado daqueles para o almoço. Ela era a mulher perfeita.

Se, claro, não fosse folgada e ladra.

Ainda assim, não tinha como, no momento, chutá-la para fora. Restava esperar que Lily tivesse sorte e diplomacia para fazê-lo.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Where stories live. Discover now