Capítulo 1

23 7 0
                                    

-E ela sumiu? – Lily deu um gole na sua cerveja, sentada nos degraus da frente da casa de construção antiga de estilo vitoriano, com uma enorme bay window na fachada.

-Ela disse que estava esperando os amigos. Mes amis, certo?

-Aê, já tá falando até francês – Lily deu com o ombro no braço do melhor amigo.

-Tô nada. Os amigos buzinaram, ela pegou as malas, disse umas coisas que eu não entendi, me deu dois beijos e foi embora. Devia estar agradecendo a hospedagem, sei lá.

-Viu? Não foi tão ruim.

-Foi um saco, Lil! Eu só tenho um sofá e trabalho de casa, e ainda tem o fato de ela, você sabe...

-Ela o quê? – Lily perguntou, inocente.

-Ser ladra! Dormi com a minha carteira embaixo do travesseiro esse tempo todo – Oyekunle deu um gole na sua cerveja enquanto Lily fingia mais indignação do que sentia:

-Isso é bem feio, viu? Ela foi presa. E o propósito da prisão é reformar o comportamento da pessoa. De repente ela tá... reformada.

-É, mas você não quis colocá-la na sua casa.

-É diferente, aí foi o Mateus que não confia em reforma. Nem em mim perto dela. Mas enfim, tudo terminou bem, você quebrou meu galho, ganhou pontos no céu, tem seu sofá de volta... E a dinda já parou de tremer por que ela não está mais na sua casa?

-Aparentemente a minha mãe vai se recuperar.

-E quem você arrumou agora para tirar o sono dela?

Oyekunle riu:

-Eu não chamo as garotas para sair baseado no tanto que elas vão atormentar a minha mãe.

-Mas sempre acerta, mesmo que inconscientemente. E quem é a pessoa que vamos odiar agora? – Ela insistiu.

-Eu não estou sempre saindo com alguém.

-Claro que sempre está. Uma pior que a outra. Quem é dessa vez, Oyekunle?

-Ok – Ele capitulou. – Essa é hostess em um restaurante fusion em Chelsea.

-Então ela tem futuro. Não come de lata de lixo e... bom... come. O que há de errado com ela?

-Nada.

-Sempre há algo de errado.

-Não há nada.

-Que sem graça. Leve-a para jantar na dinda que a gente encontra alguma coisa.

Oyekunle não levou a sério porque implicar com as suas namoradas fazia parte do jeito Lily de ser. O dia que ela aprovasse alguma, ele pensaria que havia algo seriamente errado.

-Eu ainda não consegui levá-la à minha casa, sei nem se levaria a da minha mãe.

-Aposto que sim. Você é um romântico, Oyekunle. Mas por que ainda não rolou de levá-la ao seu ninho de solteiro?

-Porque agora tem uma chinesa dormindo no sofá. Ou tinha, não sei.

Atrás dele, a porta se abriu e ouviram o som de risos e conversas que vinham da sala. Como parecia que ninguém havia saído, Lily acabou olhando para trás. Seu sobrinho George e o amigo dele Les Paul seguravam cada um uma garrafa de cerveja que no momento pareciam tentar fazer desaparecer dentro do casaco.

-Não conto pra ninguém que vocês estão bebendo – Lily riu.

-Valeu – George falou.

-É só essa garrafa – Les Paul acrescentou.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora