Capítulo 32

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No Frango à Moda do País Basco, a carne é bastante suculenta graças a um molho chamado piperade, feito com presunto de Bayonne, pimentão, tomate e pimenta de Espelette. Era um prato bonito e colorido que Ella equilibrava sobre a barriga, sentada em uma das poltronas da sala. Tom, deitado no sofá, perguntou:

-São países agora?

-Sim – Ela mordeu um pedaço de tomate e continuou, com a boca cheia: - O próximo vai ser italiano. Acho que não como massa desde que era criança.

-E qual é a lógica, já que não é desejo descabido?

-É meu desejo descabido de comer porque eu posso enquanto eu posso, antes de ser obrigada a passar fome outra vez.

-Sério? Você passa fome?

-Grandão, sempre fui magrela, mas com trinta anos aquele abdômen não vem de graça. Muito menos com feijoada.

Ella pegou um pedaço de frango dessa vez, e ficou mastigando, absorta, vendo que Tom estava distraído. Resolveu perguntar:

-E o tratamento do George? Alguma notícia?

-Parece que está indo bem. O moleque está se comportando. Victor falou que, qualquer pisada na bola, ele cancela o acordo e interna o George. Está dando certo.

-Vai dar certo – Ella falou, no momento em que Joel aparecia quase asfixiando a todos com um perfume amadeirado. Ella tampou o nariz: - Pai! O que é isso?!

-Vou ver minha namorada. Muito bom o frango da bastilha, aliás.

-Frango à Moda do País Basco, e que namorada, pelo amor de Deus? A Cindy? Vocês vão se ver onde? Fazer o quê?

-Ela vem me buscar, e não me pergunte o que a gente vai fazer – Ele deu uma gargalhada.

-Ai, pai, me poupe disso.

-Tá certo, Joel – Tom se sentou. – Tem de aproveitar a vida.

-Não é?

-Ela não vem para o chá de bebê? – Ella perguntou por perguntar, pois não tinha nem muita certeza da razão de ela ter sido convidada.

-Qual bebê?

-Minha bebê. Essa bola de basquete embaixo da minha roupa.

-Sabe qual seria um bom nome para a sua bebê? – Joel falou e Ella tentou não revirar os olhos quando respondeu:

-Loreta.

Joel pensou um pouco e por fim respondeu:

-Não, é nome de puta. Charlotte.

-Ei – Tom sorriu. – Eu gosto de Charlotte.

-Eu também – Ela olhou para ele e os dois tiveram um momento quase mágico, se não tivesse sido interrompido por Joel esbravejando que não achava as suas abotoaduras.

-Você está de camiseta, pai!

-Mas um homem sempre precisa estar composto.

Ella ia deixar o prato sobre a mesinha de centro, mas Tom se ofereceu para ajudar Joel com aquelas abotoaduras misteriosas que ninguém jamais havia visto e, neste interim, Cindy tocou a campainha. Ela disse que ia beber alguma coisa com Joel e voltava a tempo do chá de bebê. Ella conseguiu terminar seu frango e expulsou Tom de casa.

-Eu fico lá em cima jogando sinuca.

-Não, grandão. Nós estaremos lá em cima jogando sinuca na sua mesa.

-Cara... – Tom pareceu desamparado.

-Vai ver seus amigos, vai. Quando voltar a gente vai ter dez mil coisas novas pra guardar nos armários, e disso eu te deixo participar.

Quando a Vida Acontece - Vol. 4Where stories live. Discover now