-Você não está ansiosa? – Tom perguntou, desconfiado.
-Não – Ella respondeu, dando uma mordida no seu sanduíche de melancia.
-Sério? Nem um pouco?
-Sério. Eu sei que é menino.
-Por que a gente está indo ao médico se você sabe que é menino? - Joel quis saber.
-Porque a gente precisa saber como o bebê está - Ella falou, sem acreditar que estava contando isso para um pai de três filhos.
Joel estava em um dos seus dias de humor duvidoso e Ella se perguntava o que havia dado nela para levá-lo. Gostava de tirá-lo de casa e, mais especificamente, da frente da televisão, e achava que um momento família faria bem a todo mundo. Só não tinha esperado um interrogatório.
Aliás, ela sabia muito bem. De filha de minerador casca grossa, ela havia virado uma florzinha insuportável que chorava à toa e, em algum momento da semana anterior, achou que seria uma ideia incrível trazer seu pai à consulta.
-Esse é o presunto mais esquisito que eu já vi – Joel analisou um dos sanduíches.
-Não é presunto, é melancia.
-O quê? Você nunca vai engordar desse jeito, Ella!
-Eu não estou exatamente tentando engordar – Ella respondeu, sentindo um daqueles inexplicáveis bolos na garganta.
Ela estava descobrindo que estar grávida era como explorar um planeta estranho, no caso, o seu próprio corpo. Ela havia decidido que só teria um filho, pois nem tivera o primeiro ainda e a possibilidade de ter o segundo era demais para os seus neurônios; porque não achava que convenceria o Tom a formar uma nova família extensa depois dos sessenta; e porque achava completamente impossível que ela e Tom terminassem um dia e ela viesse a se apaixonar e querer ter filhos com um senhor Zé Ruela qualquer.
E tinha mais essa: A gravidez a havia deixado romântica.
Mas, como seria sua primeira e única experiência, ela queria aproveitá-la ao máximo, por mais assustadora que fosse às vezes. Ficava fascinada pelos próprios acessos de choro, abria várias abas no computador do trabalho para pesquisar roupas e acessórios na internet, media-se com obsessão, tinha alguns ataques de burrice e não deixava passar desejo algum.
Tudo isso enquanto supervisionava a reforma do apartamento dos seus sonhos a duas semanas do seu casamento. Não era uma missão fácil.
-De qualquer maneira, melhor a gente ir andando – Tom interrompeu. - Pra vocês pode ser um dia como qualquer outro, mas eu tô a fim de ver se é menino.
-Que é menino – Ella corrigiu.
-Isso. Que é menino – Tom concordou para deixá-la feliz.
Os três entraram na SUV do Tom, Joel estranhamente quieto no banco do carona. Algum tempo já havia se passado até que ele disse:
-Molha o pão.
-O quê, pai?
-A melancia molha o pão e ele fica nojento. Você era toda fresca com pão molhado.
-Era? - Ela perguntou, espantada por ser fresca com algo na vida e por seu pai lembrar.
-Era. Você não molhava o pão na sopa nem no café.
-Argh! - Ela foi atingida por aquela memória revoltante. - Era horrível você, Freddie e Will molhando o pão no café com leite e fazendo aquele barulho horroroso quando botavam na boca!
-Não disse, marinheiro? - Seu pai se virou para o Tom. - Fresca.
Tom olhou para ela pelo retrovisor e sorriu:
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Quando a Vida Acontece - Vol. 4
RomanceCrescer nunca foi fácil, mesmo que já se seja adulto. Baby e Zach voltaram, tentando aparar as arestas que a última crise dos dois deixou. George, neto de Malu, tenta se adaptar e se conformar com a vida em um novo país. Já Malu se vê diante de um t...