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O médico nos chamou até o quarto da Gabi e explicou que ela tinha batido a cabeça muito forte, que graças a Deus não foi nada muito grave mas que deveríamos esperar ela acordar para ver se não causou algum dano que não foi constado nos exames.

- Podem ficar uns minutos com ela - o médico diz saindo do quarto.

Olho para Gabi e ela estava dormindo, com o rosto sereno. Me dá vontade de chorar só de lembrar o que eu fiz ela passar. Segurei sua mão, depois dei um beijo. Rita fez o mesmo do outro lado da cama. Em menos de duas semanas já estávamos no hospital novamente. Mas agora, por culpa minha.

Ficamos mais alguns minutos até os médicos pedirem para que saíssemos. Fiquei com Rita na sala de espera. As horas não paravam de passar, e eu não via a hora de receber a noticia que ela acordou e que está tudo bem.
Fiquei encostado na parede, quando estava quase pegando no sono meu telefone toca. Era Nando.

- Fala parceiro - atendo.

- Pulga, o Badá tá doido atrás de você - ele fala - tem umas paradas pra resolver.

- Tô no hospital parceiro, minha mina sofreu um acidente - falo coçando os olhos.

- Poxa vida parceiro, ela tá bem? - Nando pergunta.

- Sim, mas estou esperando ela acordar - respondo.

- Certo irmão, vou enrolar o Badá aqui, fica suave com sua mina - ele diz.

- Certo, depois preciso falar com você irmão, na moral mesmo - falo sério.

- Beleza irmão - Nando fala e desliga.

Vejo um senhor chegar.

- Gostaria de ver minha filha, Gabriela Andrade - ele diz, carai, é o pai da Gabi.

- Ela não pode receber visitas no momento, senhor - a recepcionista fala.

- Eu quero vê-la, vim no primeiro voo de Miami para cá, preciso ver se ela está bem - ele diz sério. Carai, de Miami.

Ela nunca tinha falado do pai antes, não que eu me lembre, nunca tocamos nesse assunto.

- Certo, só um minuto - a recepcionista sai.

Olho para Rita que dormia no banco, já era de manhã, não dormimos nada a noite. Essa deveria ser a hora de eu meu apresentar para o pai dela? Me sento ao lado de Rita novamente e cutuco ela.

- Rita - ela abre os olhos - aquele é o pai da Gabriela - aponto com a cabeça para o senhor de terno que aguardava no balcão.

- Vou falar com ele - Rita se levanta rapidamente - senhor - ela chama a atenção do homem, caminho para estar ao lado dela - somos amigos da Gabi, estávamos com ela quando se acidentou, já visitamos ela, está bem, mas estamos esperando ela acordar - Rita fala rapidamente.

- Olá - ele diz calmo - obrigado por me informar jovem, vou aguardar liberarem minha entrada - ele sorri tentando não parecer nervoso com a situação.

Uma situação totalmente fora do comum para nos conhecermos. Ficamos em silêncio até a recepcionista chegar.

- Ela acabou de acordar, o médico liberou a visita, está aguardando vocês no quarto - ela diz.

Fomos caminhando pelo corredor, não tenho certeza se ela quer me ver, por isso decido ficar na porta.
Rita entra primeiro.

- Amiga - ouço ela falar para Rita.

- Gabi, graças a Deus que está tudo bem - ouço Rita falar.

- Oi filha - seu pai diz entrando.

- Pai que saudade - ouço sua voz suave.

Me esforço para entrar na sala, não sei qual a reação que ela vai ter quando me ver. O causador do acidente.

- Oi - digo da porta.

Ela me olha, primeiro confusa, depois suaviza o olha.

- Oi - ela diz calma - quem é você? - pergunta, me fazendo congelar.

- É o Pulga, Gabi - Rita fala.

- Não lembro dele Rita, é da nossa faculdade? - ela fica confusa olhando pra Rita, parece que meu coração vai sair pela boca.

- Eu volto depois Gabi - falo e saio rapidamente do quarto.

Corro o hospital querendo sair o mais rápido possível, parece um pesadelo. Entro no carro e começo chorar, como nunca chorei antes, soco o volante com força. Como isso pode estar acontecendo? Olho meu porta luvas e encontro um beck bolado, pego o isqueiro e acendo, dentro do carro mesmo. A primeira tragada parecia que iria me sufocar. Era uma dor muito grande no meu peito, acho que eu preferia que ela lembrasse de mim com ódio do que se esquecer completamente de mim. Fui respirando e fumando até me acalmar. No carro já se formava uma neblina.

Mas ela está bem, o que você pediu para Deus era ela com saúde, estar viva. Minha consciência me lembra.

Abro o teto solar para que a fumaça saia do carro, ligo o motor e dirijo até a comunidade. Deus fez a parte dele, eu preciso fazer a minha.

Fui até onde eu sabia que Nando estaria.

- Fala meu parceiro - cumprimento Nando.

- Suave irmão - ele aperta minha mão.

- É o seguinte, Nando, não quero mais essa vida - falo sincero - O Badá não queria que eu ficasse me envolvendo com a Gabriela, disse que tava interferindo no meu desempenho com a caminhada, Gabi está bem porque Deus cuidou dela, eu prometi que sairia do crime se ela ficasse bem, parceiro, agora preciso cumprir minha parte com Deus - explico.

- Irmão, não tá certo isso, tem que levar pras ideia, o irmão Badá não pode ficar interferindo na sua vida pessoal - Nando fala - sobre sua parte de querer sair, eu apoio, mas você fez um juramento, lealdade ao crime, mas vamo desenrolar essa parada nas ideia, beleza? - ele explica.

- Suave irmão, sempre tive aqui pra somar, nunca falhei com vocês, pulei na bala quando precisou, mas primeiro Deus, depois o crime, entende? Marca com os irmão lá pra gente resolver essa parada - estico a mão e Nando aperta.

- Entendo irmão, vamos resolver isso aí - Nando fala me fazendo assentir e sair da sala.

Vou pra casa, tomo um banho. Minha mãe não estava lá. Comi um pão e logo recebi a mensagem do Nando avisando que era pra estar no galpão em 30 minutos, quando estava saindo de casa vejo Rita chegando.

- E aí Rita, mais alguma notícia da Gabi? - pergunto.

- E aí Pulga, parece que ela não se lembra do último mês, pra ser mais específica, ela não se lembra de nada desde que te conheceu, não lembra de ter te conhecido, do projeto e nem nada, o médico disse que deve ter sido um período conturbado e por isso a mente dela decidiu apagar, mas que não vai ser pra sempre, em algum momento ela vai lembrar - Rita fala me fazendo suspirar.

Foi melhor, o tanto que ela deve ter sofrido, vou seguir minha vida e vou deixar ela seguir a dela.

- E mais uma coisa, o pai dela vai levar ela para morar em Miami - Rita continua me fazendo paralisar - tá tudo bem, Pulga? - ela pergunta.

- Tá sim Rita, só te peço uma coisa, se ela perguntar, não fala de mim, por favor, ela já sofreu muito, vou seguir minha vida Rita, deixar ela de boa - falo e Rita assente - até mais Ritinha, a gente se vê - falo fazendo um joia e ela assente entrando na casa dela.

Sigo para o galpão resolver aquela caminhada.

Choices - SintoniaWhere stories live. Discover now