Quarenta e Oito: Nós Seremos Gloriosos

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Giqoi.
Ponto de vista de Rick.

Do lado de fora da nave, observando a montanha obscura que subir, ouço um compartimento do teto da nave se abrindo, para expor os painéis que haviam de carregar as energias da nave yatogana.
— Não era aqui que você disse que viria, senhor Rick Price. Mas, eu já sabia mesmo que você viria até aqui antes... Você é muito teimoso, não é? —Kalra surge de subido por trás de mim, flutuando ao lado da nave.
— Que diabos! — digo ao levar a mão esquerda ao peito — Você voa, Kalra?
— É claro que voo! Sou uma feiticeira!
— Bom... Estava de saída para a montanha... Um pouco desanimado para falar a verdade. Tenho receio de como meus amigos me verão depois de tudo que aconteceu... Como Isabela me verá...
— Você está tão preocupado com o que estão pensando sobre você, e pouco preocupado com o que vai fazer para mudar esse pensamento. Transforme-se, tanto, que eles nem te reconheçam mais. Volte tão resoluto que tornará impossível comparar com o seu antigo “eu”.
— Você está certa, Kalra. É isso que farei.
— Eu sei... Sempre soube... Só estou te dando um empurrãozinho. O resto é tudo por sua conta... — Ela dá as costas para mim e rápido como um piscar de olhos desaparece, deixando um rastro da cor verde que vai sumindo aos poucos.
— Ainda vou descobrir por que essa estranheza dela me encanta... — penso comigo mesmo.
Subi pelas margens do rio até a colina novamente, e de lá passei pelo campo florido que via em meus pesadelos. Passar por ali me deu calafrios, como se eu realmente já houvesse vivenciado algo muito ruim naquele local. Foi sinistro.
Caminhei por aproximadamente cinco quilômetros até chegar ao meu destino, que era o pé da montanha. Raios e trovões corriam pelos céus e ventos fortes sopravam a poeira enegrecida que pairava por lá. A montanha parecia me convidar sutilmente por um caminho mal desenhado pelas pedras, levando a um ponto alto de onde vinha um som que parecia ecoar de dentro da montanha.
Os ventos uivavam ao passar por mim, e parecia estar ouvindo vozes... As vozes de meus amigos... As vozes de Asan Quo...
— Estupido! — Ouvi como que Joel falando.
— Joel? É você?
— Covarde! Covarde! — Ouço a voz de Baboo a gritos de desespero.
— Baboo! O que houve?!
— Pai! Por favor! Não!
— Isabela! Filha! — Grito atônito, olhando a minha volta, mas não encontro ninguém.
Continuo seguindo em frente, agora já perdido em minhas memórias, na saudade e no temor do que poderia estar acontecendo com meus amigos. A preocupação começava a ter lugar em mim, apesar do medo do julgamento deles.
— Está bem... Para onde agora... — digo ao alcançar o ponto mais amplo até então.
Ouço de onde vem o som, e entendo que é uma voz cantarolando uma melodia em tom grave e sombrio. Eu reconhecia a voz, mas não me lembrava a quem pertencia.
— Venha, Rick... Esperei você por tanto tempo... — Disse a voz.
— Quem é?! Anza? Seu maldito! — Esbravejei indo em sua direção, já imaginando ser o desalmado.
— Você logo descobrirá... — A voz diz me guiando para dentro da escuridão da caverna, e eu, cego pela escuridão, sigo.
Pouco à frente a adaga de Garieus começa a reluzir, denotando perigo próximo, logo em seguida escorrego bem na beirada do caminho e caio de uns três metros de altura, machucando-me superficialmente.
— Droga! Mas que droga! — expresso irritado.
— Você não faz ideia de onde esteja, Rick? — Ouço uma voz vinda da área escura do local a minha frente, que era nada mais que um terreno plano e escuro como a montanha. — Você realmente não sabe quem eu sou? — A voz indaga novamente.
— Você é o Anza! Seu crápula! Apareça! Vou te arrebentar todo! Covarde! — grito indignado.
— Covarde? Eu? — o sujeito aparece para mim onde a luz da adaga consegue iluminá-lo — Eu sou a sua fortaleza, Rick! — ele diz firme e feroz.
A luz da adaga revela um ser todo vestido de preto, inclusive com um pano que, enrolado em sua cabeça, cobria seu rosto, revelando apenas seus olhos.
Ponho-me em pé novamente.
— O que você quer comigo, traidor?! — indago estressado.
— Quero realizar tudo o que nascemos para realizar, Rick... — noto sua respiração ficar forte, demonstrando ferocidade, dessa vez conseguindo me intimidar.
— O que você quer de mim!? — questiono novamente.
— Conquistar esse sistema solar! Nós governaremos tudo isso, juntos! — Ele se exalta — Todas as espécies inferiores aos humanos irão se ajoelhar perante nós! — o tom de sua voz era amedrontador, e, a essa altura consigo notar que ele não era Anza — Nós, vamos esmagar e eliminar qualquer um que entre em nosso caminho! Nós seremos gloriosos, Rick! — o ser caminha em minha direção rapidamente, puxando de seu rosto o pano que o cobria.
Fico estático ao ver que ele era... Igualzinho a mim. Mas com uma feição tão sombria que me dava medo. Seus olhos, avermelhados, pareciam emanar o mais intenso ódio que já vira. Seus dentes rangiam em seu sorriso macabro.
— Por Deus! Como pode? — questiono paralisado.
— Deus? Quem precisa de Deus? Nós seremos o deus dessa galáxia, e de muitas mais! Você só precisa aceitar, Rick. — Ele estende a mão.
Então uma visão se abre diante de meus olhos e vejo... Todos que em meu sonho recente morriam, todos meus amigos próximos, eram mortos por minhas próprias mãos. Joel, Baboo, Elgie, Gorilla, Volt, Gairo, e mais tantos caíram pela minha espada no futuro antigo, que agora reescrevíamos. Então percebi, que a raiva havia se instalado tão profundamente em meu ser, que eu já não era um salvador, mas sim a destruição. A ira se enraizou tanto, que me vi ocupando o lugar de Fragor, me tornando a própria natureza do mal.

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: ODISSEIAOnde histórias criam vida. Descubra agora