Trinta e Seis: Sempre Te Amarei, Pequena

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Ponto de vista de Isabela.

— Ele está em algum lugar desse sistema solar... Só preciso encontrar onde... — digo a mim mesma enquanto navego em meus pensamentos em uma tentativa de conexão com meu pai.

— Isabela? — ouço meu nome vindo do além.
— O que? O que é Joel? — indago-o ao abrir os olhos e voltar da minha viagem mental, sentada em posição de meditação.
— Desculpe atrapalhar... Mas, precisamos conversar...
— Uhum... — consinto sem muitas expressões.
— Sei que está fazendo seu máximo para suportar bem a ida de Rick, mas, acredite, isso pode ter sido bom de alguma forma.
— Joel... Por que eu fico perdendo ele?!
— Como assim?
— É, Joel... Perdi ele quando criança, e agora parece que ele se foi novamente... Será que não sou boa o suficiente? O que fiz de errado? É minha culpa?! — a esta altura já não consegui conter as lágrimas de jorrarem por meu rosto.
— Não, pequena... Não é sua culpa... Não é nada que tenha feito... Todos nós temos nossos demônios para vencer... — assinto ao enxugar as lágrimas — Quando chegar sua vez, entenderá. Mas, por hora, é necessário que seja forte para comandar Asan Quo. Os Guardiões precisam de um líder, e você é a sucessora na linha hierárquica.
— O que? Eu? Jamais! Não tenho experiência alguma nisso!
— É por isso mesmo que estou aqui... Fui o braço direito de seu pai, e serei o seu — nesse momento Joel desce a um de seus joelhos e presta reverências a mim.
— Joel! Não... Levante-se... Como? ... Como farei? — ele se aproxima ainda mais e põe sua mão larga e forte sobre meu ombro.
— Um passo de cada vez...
— O que faremos então?
— Bom... Ainda há dois enrrakes para serem encontrados, além das outras três joias do amuleto Niur... Podemos começar por isso. O que acha?
— Acho necessário e uma boa ideia. Nos dividimos novamente e...
— Podemos usar Glenzer para nos ajudar a determinar para onde cada equipe irá.
— Ótimo, Joel. Vamos fazer isso. — respiro fundo — Agora, se não se importa, gostaria de falar com Léa.
— Claro, com certeza. Mandarei chamá-la.
— Obrigado, Joel. Por tudo. De verdade.
— É uma honra, “Owi”.
O solo vibra sutilmente... Joel olha para mim, notando também o tremor.
— Verificarei isso... — diz ele ao deixar a tenda imediatamente.

***

Alguns minutos depois...

— Isa? Queria falar comigo? — Léa entra em minha tenda de repente.
— Léa! — dou-lhe um forte abraço.
— Está tudo bem, Isa? Ouvi comentarem que Rick não voltou...
— É isso... Estou arrasada com isso! Ele não falou nada... Apenas se foi... Acho que ele não me quer por perto...
—Isa! Não diga isso! Não é nada disso... Eu conheço bem seu pai, e sei que o que ele mais ama nesse mundo, é você! Se ele não está aqui agora, é porque seria pior se ele estivesse. Acredite! Confie nele...
Suspirei novamente... Não era fácil digerir tudo isso... O tempo forçava-me a superar algumas coisas mais rápido do que eu achei que poderia.
Volt grunhe por perceber algo com seus sentidos aguçados e ouvimos sons de disparos e espaçonaves sobrevoando sobre nós.
— Estamos sob ataque! Rápido, protejam-se! — um dos soldados da guarda nos avisa, sendo atingido logo em seguida.
— Isa! Eles estão vindo! Rápido! Venha aqui! — Léa nos camufla enquanto alguns soldados míntacos olham dentro da tenda.
Volt então, cheio de fúria, transforma-se no tigre e despedaça aqueles soldados, atraindo atenção de mais míntacos para cima de nós.
— Volt! A Salamandra! E tire a gente daqui! — grito sem demora.
Com um belo salto Volt se transforma em sua segunda forma e subimos sobre ele, mas, Léa leva um tiro certeiro, caindo ao chão.
Olho para baixo e vejo a grande parte dos civis cercados por um lado, e do outro, os Guardiões lutando.
— O que faremos, Volt?!
— Princesa! Por que não desce aqui para conversarmos? — ouço a voz do desprezível Fragor, finalizando com um sorriso que causou certo temor em mim.
Os outros acabam se rendendo devido ao grande número de míntacos que surgem de todos os lados, destruindo o que podem do nosso pequeno vilarejo.
Uma nave gigante então aparece sobrevoando longe no horizonte.
Estamos sem saída...
Volt nos leva até o chão, próximo de onde Léa está caída. Avisto ao longe minha mãe e digo, por telepatia, para que não diga nada.
— Léa, você está bem?
Ela geme de dor, e noto que ela fora atingida pouco abaixo do ombro esquerdo, e, caso demorássemos a tratar da ferida, ela não sobreviveria.
E então ouço Naara anunciar baixinho que estava com uma dose de oan e que aplicaria em Léa.
— Sua trapaceira! Pensa que não te vejo?! Eu vejo TUDO! — Fragor esbraveja ao lançar seu chicote sobre Naara, que se esquiva habilmente ao revelar-se, enquanto Léa levanta rapidamente e vem para perto de nós.
— Se eu disse que ela morre, ela morre! — Fragor arrebenta o cordão do medalhão de seu pescoço e apressadamente lança um raio negro em minha direção.
Léa, por ironia do destino, se lança à minha frente sendo atingida pelo raio e salvando minha vida. Ambas caímos ao chão. Rubi, minha mãe, grita apavorada.
— Quem gritou? — o próprio demônio indaga — Soldados! Tragam-na a mim!
Os soldados então empurram todos ao redor de Rubi, arrastando-a até o centro, próxima a nós. Joel me dá o olhar de que não deveria fazer nada. Léa exprime gemidos de dor.
— Léa?! — abaixo-me aflita, na tentativa de ouvir o que ela tenta dizer.
— Eu... (coff, coff)... Sempre... Sempre te... (coff, coff)... Amarei, pequena... — o raio negro consome Léa em um cadáver escurecido.
Nesse instante não sinto ninguém. Não sinto nada. Meu corpo não consegue discernir entre gritar, chorar ou apenas sofrer... O mundo parece girar em câmera lenta. Os sons parecem estar distantes... Olho para Fragor, que agora mira o medalhão Niur para Rubi, minha mãe.
— Eu não vou permitir que isso aconteça! — meu corpo todo se aquece enquanto faço todo o esforço do mundo para tirar minha mãe da mira de Fragor.
Um grito ensurdecedor sai de minha boca e de minha mente, e com minha mão direita erguida consigo atrair Rubi para perto de mim, mas já era tarde, e, sem tempo para uma palavra sequer, ela também fora atingida.
— Isabela! — foram as últimas palavras da minha mãe, que cai ao solo como um defunto de meses, escurecida e putrefeita.
Eu havia perdido meu pai... Agora Fragor tirava ainda mais de mim.
— Se o covarde do seu pai vai se esconder... Quem paga é você, princesinha... — diz Fragor na tentativa de impulsionar ainda mais o sentimento de dor e derrota em mim.
Não sabia como reagir. A primeira lágrima desliza do meu olho esquerdo e, junto com ela surge em mim uma raiva descomunal.
— Aaahhh!!! — foi tudo o que saiu da minha boca. Um grito histérico. E por telepatia disse a cada um que estava presente naquele momento: — Fragor, seu demônio! Nós vamos matar cada pedacinho de você! Eu juro!
Nesse momento Volt se transforma no tigre vermelho e lança várias bolas de energia contra Fragor e seus soldados, enquanto corro em sua direção. Vejo Danton sendo coberto por sua armadura ao correr ao lado de sua equipe e, Joel, Baboo, Elgie, Naara e mais soldados acompanhando-os. Os soldados de Fragor caem, ele clama por reforço aos seus soldados, mas com a mesma força sobrenatural que consigo mover Ruby com o poder de minha mente, faço com Fragor, mas para paralisa-lo antes que apanhe o medalhão em sua veste de batalha vermelho escura acompanhada por uma capa vermelho-sangue.
Consigo gerar uma barreira protetora ao redor dele e de mim, e paralisado, faz sons quase como se estivesse rosnando para mim.
— Você não vai ter esse medalhão... Ele me pertence!
— Não quero essa merda... — Digo ao tocar-lhe o rosto.
Uma visão se abre perante mim. Meu ser absorve indescritíveis sentimentos e lembranças dele. A dor que sinto é agoniante, angustiante, devastadora e repulsiva. Sou lançada para longe dele, e ele com seus soldados fogem. É tarde. O covarde e inescrupuloso Fragor escapa usando o mesmo maldito medalhão que usara para matar as duas pessoas mais próximas a mim.

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: ODISSEIAWhere stories live. Discover now