thirty seven.

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ERA impossível isso estar acontecendo, eu me recusava a acreditar. Estava com ele dois dias antes do acontecido. DOIS DIAS. Foi só eu voltar para São Paulo que isso aconteceu. 

Não perdi tempo e no mesmo dia eu e minha mãe viemos para o rio para ficarmos com meu pai. Ela teve que voltar depois do velório, por causa do trabalho. Mas eu não consegui. 

Pedi para meu pai para que pudesse ficar aqui por um tempo, só até esfriar a cabeça. Não conseguia pensar em mais nada que não fosse sobre a morte de meu irmão. 

Acabei de afastando de todo mundo, até mesmo de xamuel. Mesmo recebendo mensagens e ligações todos os dias, não conseguia falar com ninguém, mesmo estando precisando mesmo agora. 

Mas esse é meu maior defeito. Quando preciso, eu me afasto. Não quero que vejam minha vulnerabilidade, não quero que pensem que sou fraca, porque não sou. Então me afasto até ficar bem. Pelo menos era o plano.

Estava na sala assistindo um filme qualquer para conseguir pensar em outra coisa, quando escuto um carro estacionar e baterem palmas na frente da casa. Acho estranho, meu pai não me disse que estava esperando ninguém mas resolvo ir ver quem é. E é quem eu menos esperava. 

Um garoto cacheado no meu portão estava com os olhos espremidos tentando ver o que acontecia na parte de dentro da casa. Quando apareço, vejo seus olhos se arregalando. Estava com uma mochila, parecia ter acabado de chegar.

Abro o portão porque querendo ou não, não podia deixá-lo na rua. Além da rua do meu pai ser perigosa, o garoto não conhecia nada no rio de janeiro. 

— Caralho preta, que saudade — Diz com um sorriso largo vindo me abraçar, mas dessa vez não consigo corresponder. 

Eu não sei o que aconteceu, meus braços não funcionavam, só meus olhos que já estavam marejados. Eu não conseguia acreditar que ele veio atrás de mim. 

— Não, não, não. Calma amor, eu to aqui — Junta suas mãos ao redor do meu rosto e juntou nossas testas, mas não consigo me permitir sentir nenhum tipo de conforto diante do gesto.

— Por que você tá aqui? — Pergunto seria, só permitindo que as lágrimas rolassem.

— Eu precisava te ver vida, não ia deixar você sozinha em um momento desses. — Faz um carinho em minha bochecha e volta a me abraçar, mas dessa vez eu me afasto 

— Não, Samuel. Eu não preciso de pena — Limpo minhas lágrimas e o garoto parecia confuso em minha frente. Meu coração deu um aperto de vê-lo daquela forma mas não deixei que meus sentimentos me dominassem. 

— Pena? Que pena, preta? Eu.. — Não deixo que termine, ele negando só faz minha tristeza se transformar em raiva, ódio. 

— Para de mentir. Por que você veio? — Pergunto ríspida e vejo seus olhos brilhando. Merda.

— Preta faz dias que você não atende minhas ligações, não responde minhas mensagens… Eu tava preocupado 'pa carai, nem to conseguindo me concentrar em treinar 'pa bda

— Porquê eu não quero falar com você samuel — Falo de uma vez só 

— Por que cê tá me tratando assim preta? Porra, eu viajei só 'pa ver você — E meu coração quebra em mais um pedaço.

— Samuel, me dá um tempo. Desde que a gente se conheceu a gente não desgruda, eu preciso de um tempo pra mim. Porra, eu to bem, mas me deixa quieta — Uma lágrima cai de seu olho esquerdo, o meu rosto já se encontrava todo molhado. 

— Um tempo, né, alanys? Cê tem certeza? — Não respondo, só confirmo com a cabeça e ele sai andando. Não faço idéia de pra onde e nem olho para ver a direção que toma. 

Só fecho o portão e corro pra dentro da casa. Me acomodando no sofá e chorando ali mesmo. 


𝐄𝐍𝐃𝐄𝐑𝐄Ç𝐎 𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎 | xamuel Where stories live. Discover now