De repente, eu estava feliz por estar lá. Me senti privilegiado. O denominador comum daquela festa não era o fato de todo mundo ser meio ou muito gay ou amigos do Lily. Eles eram simplesmente um grupo de pessoas divertidas e interessantes.

+15: Se entrosar com outros gays.

Mas, no geral, o denominador comum era James.

Se aquelas pessoas eram o arco-íris, James era o sol, a fonte de luz e o centro daquele universo.

Eu observava como ele passeava pela multidão com tanta graça. Ele controlava o ambiente; o poder estava sempre em suas mãos, fosse em uma conversa animada ou nos movimentos mais sutis, no jeito como ele andava ou como se servia. Ele nunca hesitava.

James usou seu poder para colocar clipes no YouTube. O jantar e as conversas aos poucos se transformaram em uma festa dançante e cheia de energia.

Era uma noite quente, que ficou ainda mais quente porque estávamos pulando para cima e para baixo em um apartamento antigo sem ar-condicionado.

James e outros se revezavam, colocando um videoclipe dos anos oitenta atrás do outro. Alguns em italiano, outros em inglês, mas todos completamente desconhecidos para mim.

- Quem é essa? - perguntei, quando uma mulher com um bronzeado artificial e um collant prateado apareceu na tela.

- Essa é a Mina! - James gritou para mim, já bêbado o bastante.

Ele se aproximou do meu rosto e, mesmo com o hálito cheirando a álcool, fiquei um pouco excitado. - Ela é uma das divas mais importantes da cultura pop italiana. Era tipo a Ariana Grande dos anos sessenta e setenta.

- Isso é uma ofensa contra a Mina - Remus disse.

- Isso é uma ofensa contra a Ariana Grande - Mary rebateu.

E foi assim por algumas horas - quando alguma diva ou algum ícone queer aparecia na tela, eu perguntava quem era e alguém diferente gritava comigo por não conhecer, antes de me educar. "Jovens!" "Jovens!"
"De novo não!" "ALGUÉM PRECISA SUSPENDER A CARTEIRINHA GAY DELE!".

Eu não achava justo; aquelas pessoas haviam crescido em famílias menos problemática, ou no caso de Remus, sem familia nenhuma. Eu não havia sido propriamente educado em matéria de divas.
Resolver isso se tornou a missão daqueles garotos.

James, Remus e eu saímos um pouco quando Let's Have a Kiki dos Scissor Sisters começou a tocar nos alto-falantes.

- Reg, essa você conhece? - James perguntou.

- Let's Have a Kiki dos Scissor Sisters - respondi. James ergueu o queixo.

- Uau, impressionante.

- Estava escrito na tela do computador... - confessei. Remus e James trocaram um olhar, reviraram os olhos e começaram a rir.

Caía uma chuva leve, e nos amontoamos debaixo da marquise na entrada do prédio de Lily. Remus apoiou seu cotovelo no batente de madeira da porta. Ele passou os dedos pelos seus cabelos suados e oleosos. A luz que vinha de cima o iluminava como se ele fosse uma atração de um museu. Naquele momento, ele era basicamente a estátua de Davi.

Remus então pegou um isqueiro e tentou pelo menos doze vezes antes de conseguir acender uma chama. Ele acendeu um cigarro e olhou para mim como se me avaliasse.

- Você vai precisar aprender mais algumas coisas se quiser mesmo ficar aqui - James disse.

Aquilo deveria ter me assustado mais do que de fato assustou - o conceito de permanência, uma nova vida em Vienna -, mas eu estava bêbado. Soltei uma risada boba.

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